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Campanha quer enfrentar alta incidência de tuberculose no Rio

Maiores índices da doença acontecem em presídios e becos de favelas
Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil*
Publicado em 25/03/2018 - 09:37
Rio de Janeiro
Imagem de riacho com falta de saneamento básico e uma criança passando em favela do Complexo da Maré
© Arquivo/Fernando Frazão/Agência Brasil

Especialistas em saúde, representantes do governo estadual e da Cruz Vermelha Brasileira discutiram neste sábado (24), Dia Mundial de Luta contra a Tuberculose, como enfrentar a doença no estado do Rio de Janeiro, que tem uma das maiores taxas de incidência no país e elevado número de mortes – cerca de 800 por ano. O evento marcou o lançamento da inciativa Todos juntos contra a tuberculose, um desdobramento de campanha do Ministério da Saúde.

A Cruz Vermelha vai multiplicar as ações para ajudar a identificar e a tratar a doença, por meio de voluntários, nos municípios fluminenses. A coordenadora da campanha, Maria José Pereira, que ajudou a distribuir panfletos, mais cedo, lembrou o principal sinal da doença.“As pessoas precisam, primeiro, saber que a tuberculose tem cura. Depois, tosse há mais de três semanas pode ser tuberculose, quem está tossindo deve procurar a unidade de saúde mais perto”.

Imagem de riacho e uma criança passando em favela do Complexo da Maré

Falta de saneamento básico e impedimentos para o acesso de agentes de saúde dificultam prevenção e tratamento da tuberculose nas favelas. Na foto, criança no Complexo da MaréArquivo/Fernando Frazão/Agência Brasil

A média nacional de casos de tuberculose é de 33,5 a cada 100 mil habitantes. O estado do Rio tem praticamente o dobro, 65,7 casos a cada 100 mil pessoas, segundo o Fórum Estadual de Organizações Não-Governamentais no Combate à Tuberculose. É a segunda taxa mais alta no país, afirmam, atrás da do Amazonas. Na capital, os números são mais altos em favelas e nos presídios.

No sistema prisional fluminense, a taxa é de 1.200 casos de tuberculose a cada 100 mil presos, nas contas estimadas pela Secretaria de Estado de Saúde. O número pode ser ainda maior, já que há falhas no diagnóstico, reconheceu o órgão, em audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) na sexta-feira (23).

A superlotação das cadeias agrava a situação, uma vez que a doença é transmitida mais facilmente em lugares onde há falta de ventilação, luz solar e aglomeração. O sistema penitenciário fluminense é um exemplo disso, por concentrar  51 mil presos em 28 mil vagas, disse, na audiência, a representante da secretaria, Ana Alice Bevilaqua.

Para reduzir o contágio nas cadeias, a Alerj chegou a aprovar uma lei, proposta pelo deputado estadual Gilberto Palmares (PT), que exigia a realização de teste de contágio antes da entrada do detento no sistema penal. No entanto, apesar de elogiar a inciativa, por falta de recursos “humanos e materiais”, o governador do estado, Luiz Fernando Pezão, vetou a medida.

“A tuberculose no Rio é uma tragédia”, disse o deputado, presidente da Frente Parlamentar de Controle da Aids, Tuberculose e Diabetes da Assembleia Legislativa. “Morrem no estado, todo ano, 800 pessoas com tuberculose. É mais que dengue, chikungunya e febre amarela juntas”, afirmou, no evento da Cruz Vermelha. Palmares pretende se reunir, nos próximos dias, com o Comando da Intervenção Federal, para levar os dados sobre o sistema penal.

Taxa alta nas favelas

Nas favelas cariocas, o percentual de doentes também é maior que em outras regiões da cidade, podendo chegar a mais de 300 casos por 100 mil habitantes. A Secretaria Municipal de Saúde vem aumentando as equipes para identificar e acompanhar pacientes, uma vez que o tratamento da tuberculose leva no mínimo seis meses. No entanto, adverte que a doença se alimenta de problemas sociais, como moradias precárias, falta de saneamento e de informação. "A violência e os confrontos armados também dificultam as visitas dos agentes e a busca ativa por doentes”, afirmou o gerente da área técnica de doenças pulmonares, Jorge Pio .

A comunidade da Rocinha, na zona sul, uma das localidades com as mais altas taxas da doença no país, viu diminuir as ocorrências depois de obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), segundo Jorge Pio. Os índices diminuíram após a construção de ruas, calçadas e moradias melhores.

“Temos conversado na prefeitura sobre como fazer isso. Agora é momento difícil [para obras] por causa da recessão, mas está nos planos da secretaria", afirmou Pio. As favelas Manguinhos e Jacarezinho, na zona norte, estão na fila, devido ao elevado número de doentes e pessoas vulneráveis.

Em relação aos presídios, o gerente diz que o órgão tem melhorado o atendimento, mas é preciso repensar a arquitetura das penitenciárias.

Tratamento e cura

Apesar de ter tratamento, a tuberculose está entre as dez doenças que mais matam no mundo, mais que o HIV e a malária juntos, segundo a Organização Mundial de Saúde, e o Brasil continua fazendo parte do grupo de 20 países que concentram 80% dos casos no mundo. Ano passado, foram identificados quase 70 mil novos casos no país.

No caso de sintomas como tosse com catarro, febre e emagrecimento repentino, é aconselhável procurar uma unidade de saúde para fazer exames. O tratamento é gratuito, dura seis meses e deve ser feito sem interrupções para atingir a cura. A tuberculose não é transmitida por objetos compartilhados, como copos, talheres e pratos.

*Colaborou Tatiana Alves, repórter do Radiojornalismo

Texto atualizado às 20h do dia 26/03/2018 para correção de informações. A taxa de incidência da tuberculose no Rio de Janeiro é a segunda maior do país, e não a primeira, e o tratamento dura pelo menos seis meses, e não quatro, como havia sido informado