Inclusão digital exige renovação de pontos públicos de internet
Mesmo com o aumento no número de domicílios brasileiros conectados à internet, os centros de inclusão digital ainda são constantemente usados por aqueles que não têm nem computador nem banda larga fixa em casa.
De acordo com a última pesquisa TIC Domicílios (2016), que mede o acesso às Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), 46% dos lares brasileiros ainda estão desconectados. O índice sobe para 54% entre as famílias com renda entre um e dois salários mínimos. Os desconectados são, na maioria, moradores de periferias das grandes cidades e zonas rurais e grande parte deles não conta com oferta do serviço em sua região. Em 14% das residências o acesso à internet é feito exclusivamente por celular.
O autônomo Ismael Mendonça, de 63 anos, vai quase todos os dias a uma unidade do AcessaSP, programa de inclusão digital do governo paulista. “Sou bem atendido, a conexão é boa, uso aqui em Pinheiros, em Barueri e na Barra Funda, lá como tem muito fluxo de pessoas demora um pouco, mas é bom também”. Ele diz que só tem internet no celular e que as filhas também usam o local para procurar emprego pela internet.
Assim como as filhas de Ismael, o açougueiro Anderson Franco Romualdo, que atualmente está desempregado, frequenta o local para procurar uma recolocação no mercado de trabalho. “Uso o Acessa SP para acompanhar, pela internet, as vagas de emprego, também para me comunicar com familiares distantes e com os amigos”. Ele também tem internet no celular, mas não tem nem computador nem conexão em casa.
Em São Paulo, o Acessa SP oferece à população, gratuitamente, acesso a computadores com internet e contam ainda com o auxílio de instrutores. Os cidadãos que frequentam podem pesquisar diversos assuntos, estudar, procurar emprego e ainda fazer cursos on-line como o Trilhas do Conhecimento, dirigido aos jovens que concluíram ou concluirão o ensino médio, com orientações sobre temas voltados ao desenvolvimento profissional e pessoal.
Algumas unidades ainda oferecem impressão de documentos, serviço muito usado para quem precisar imprimir um currículo profissional, por exemplo. O programa existe há 18 anos, nesse período cadastrou 3,430 milhões de pessoas e realizou 98 milhões de atendimentos. Atualmente há 496 postos em funcionamento em todo o estado, a maioria funciona em parceria com as prefeituras.
Telecentros
Com unidade em todo o Brasil, os telecentros do governo federal oferecem cursos e atividades e funcionam como espaço de integração, cultura e lazer. Os frequentadores também contam com assistência de monitores.
Segundo o Portal Governo Digital, existem 7.755 telecentros, instalados por meio de parceria entre ministérios, prefeituras e entidades, que são responsáveis pela manutenção desses espaços.
Perfil dos usuários
O autônomo Rogério Oliveira disse que frequenta a unidade do AcessaSP da estação de trem Barra Funda, na capital paulista, toda semana para ver as notícias dos jornais, as redes sociais e e-mails. “Não tenho internet em casa então eu venho aqui para usar, mas também já fiz curso de informática e manutenção de computadores.”
Assim como ele, o aposentado Mário Rodrigues Assunção já fez um curso de introdução à informática em um ponto do AcessaSP. “Claro que por ser uma política pública tem suas deficiências, mas, para mim, esta unidade é uma das melhores que já frequentei.”
Segundo a pesquisa anual feita com usuários do AcessaSP, 41% estavam sem trabalho e procurando emprego pela internet e 60% foram a um posto, nos últimos 12 meses, para atividades profissionais. A pesquisa mostrou ainda que 58,67% dos usuários têm renda familiar até dois salários-mínimos e 52,86% têm computador (desktop, laptop ou netbook) em casa, mas apenas 22,46% têm internet.
O desempregado Jorge Murilo dos Santos Ferreira, de 20 anos, faz um curso on-line em casa, mas quando precisa recorre ao Acessa SP. “Hoje estava no centro e fiz o curso aqui, venho de vez em quando, e também uso para entregar alguns currículos”. Ele disse que tem computador em casa, mas a internet é a do celular.
Desafios da inclusão digital
Segundo os dados da TIC Domicílios, a internet móvel é a principal forma de conexão em 9,3 milhões de residências, principalmente entre as classes D e E, na Região Norte e nas áreas rurais. Mesmo com a popularização do uso da internet no celular, os telecentros continuam desempenhando um papel importante para a inclusão digital, pois alguns serviços, como montar um currículo ou escrever uma redação, por exemplo, ainda dependem de um computador.
Mas a inclusão social requer mais do que ofertar computadores e internet de graça. O processo de democratização do acesso às tecnologias da Informação deve permitir a inserção de todos na sociedade da informação. Seguindo esse desafio, o Acessa SP, criado em 2000, foi alterado pelo Decreto Estadual 62.306/16 e expandiu seus objetivos para, “fomentar e apoiar projetos e ações que visem o desenvolvimento pessoal e comunitário da população, por meio da inclusão digital”. A partir de então, passou-se a pensar novas formas de oferecer mais oportunidades por meio do programa.
O Acessa Campus surgiu como uma forma de oferecer, além de acesso à internet e a espaços de trabalho, formação empreendedora e conteúdos que auxiliem na criação e estruturação de novos projetos e negócios. Os usuários do AcessaSP que já frequentam os postos para buscar emprego ou trabalhar agora têm uma nova oportunidade.
"O modelo de espaços colaborativos de trabalho [coworking] tem crescido em todo o mundo e cada vez mais governos têm olhado para como oferecer espaços para o desenvolvimento do empreendedorismo e da economia criativa. Agora, o estado de São Paulo está dando os primeiros passos para estar integrado nessa onda", destaca o responsável pela Unidade de Inovação da Secretaria de Governo do Estado, Bruno Freitas.
O Acessa Campus objetiva criar espaços para coworking público. Neste mês de maio começam a ser executados três projetos pilotos, na unidade da Escola Técnica Estadual de São Paulo (ETEC) Parque da Juventude, na unidade da Biblioteca do Memorial da América e na unidade da Biblioteca Parque Villa-Lobos.
Outras iniciativas
A prefeitura de São Paulo também oferece espaços de inclusão digital. São 164 mil atendimentos mensais, em média, nos 137 telecentros municipais. A inclusão digital promovida pelo município se completa com programas como Fab Lab Livre SP e WiFi Livre SP.
A Fab Lab Livre SP é uma rede de laboratórios públicos de fabricação digital. Inspirados na filosofia da “Cultura Maker – Faça Você Mesmo”, os Fab Labs são espaços totalmente gratuitos, onde o cidadão tem acesso livre, por meio de tecnologia de ponta, para desenvolver ideias e projetos. São 12 unidades na cidade que oferecem mais de 30 tipos de cursos e oficinas, como os de modelagem 3D, eletrônica e fabricação de projetos, e dispõem de equipamentos avançados, como impressoras 3D, fresadoras e cortadoras a laser.
Internet Direito Seu
A campanha Internet Direito Seu, iniciada em abril, pretende sensibilizar a sociedade sobre os problemas gerados pela falta de conexão (ou conexão precária) à internet num país de tamanha proporção como o Brasil e busca mobilizar a população para a disputa pela universalização do acesso, por conexão de qualidade e preços justos.
A campanha foi lançada durante Plenária Nacional do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) com o apoio de diversas entidades, em São Paulo. A campanha é feita pelo Facebook e pelo Twitter.
“Falar em acesso universal e democrático significa ultrapassar a barreira da infraestrutura de telecomunicações, que hoje é insuficiente e distribuída de forma extremamente desigual e estabelecer condições especiais de contratação, que atendam aos consumidores de baixa renda”, destacou a especialista em políticas de telecomunicações e advogada da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Flávia Lefèvre.
Outra barreira a ser ultrapassada para a universalização do acesso, segundo Lefèvre, diz respeito aos planos. É necessário fiscalizar a atuação comercial dos provedores de acesso à internet, cujos planos ofertados no mercado desrespeitam garantias básicas conquistadas com o Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014), entre elas, a continuidade da prestação do serviço e a neutralidade da rede.
Desde que o Marco Civil da Internet foi aprovado, em 2014, o acesso à internet é considerado um serviço essencial para todos e condição fundamental de garantia da cidadania. Cada dia mais, aspectos da vida cotidiana dos cidadãos dependem da conexão à rede, por exemplo, o pagamento de contas, o acompanhamento sistemático da gestão pública e até mesmo a inscrição em concursos públicos.
![Kenny Holston/Pool via REUTERS/Proibida reprodução U.S. President Donald J. Trump speaks after being sworn in during the inauguration of Donald Trump as the 47th president of the United States takes place inside the Capitol Rotunda of the U.S. Capitol building in Washington, D.C., Monday, January 20, 2025. It is the 60th U.S. presidential inauguration and the second non-consecutive inauguration of Trump as U.S. president. Kenny Holston/Pool via REUTERS/Proibida reprodução](/sites/default/files/thumbnails/image/loading_v2.gif)
![Reuters/Tingshu Wang/Proibida reprodução Lorenzo Sonego no Aberto da Austrália
20/1/2025 REUTERS/Tingshu Wang](/sites/default/files/thumbnails/image/loading_v2.gif)