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Brasil está preparado para ser campeão na Copa, diz furacão Jairzinho

Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 12/06/2018 - 16:47
Rio de Janeiro
Entrevista com o jogador Jairzinho, o furacão da Copa de 70, que fez gols em todos os jogos, na Vila Olímpica do Sampaio, zona norte da cidade.
© Tânia Rêgo/Agência Brasil

A equipe montada por Tite está preparada para ser campeã do mundo na Rússia. A previsão poderia ser mais uma, em um país de 200 milhões de técnicos. Mas ganha peso quando vem da boca de Jairzinho, aquele que ficou conhecido como o Furacão da Copa de 70, por ter marcado gols em todos os jogos, façanha até hoje não igualada por nenhum outro jogador.

“Não se pode falar em 100% de chance. Eu digo que o Brasil está preparado para ser campeão. Não tem comparação com quatro anos atrás. Eu não gosto nem de lembrar. Estou engasgado até agora. Como que o país do futebol perde de 7 x 1 na sua própria residência? Esta é uma seleção. Quatro anos atrás era só um jogador. Hoje nós temos 23 jogadores de qualidade”, disse Jairzinho.

O atacante tricampeão recebeu a equipe da Agência Brasil na Vila Olímpica do Sampaio, na zona norte do Rio, onde ele mantém um projeto social para dezenas de crianças e adolescentes de comunidades pobres, oferecendo sua experiência para orientar os jovens e garimpar futuros jogadores profissionais.

Craque

Perguntado por que tinha tanta fé no bom desempenho da seleção de Tite, Jairzinho disse que ela se parece muito com a de 1970, que reunia vários craques e um grande espírito coletivo.

“O craque é aquele que é inteligente para jogar. Que faz a diferença dentro de campo. Mas se você não tiver o coletivo, vai perder sempre. E se não tiver a criatividade, com a improvisação, vai perder também. É por isso que a seleção está maravilhosa agora. Ela tem o coletivo e a criatividade. Falo com experiência. Nós tínhamos o coletivo e a criatividade no México. A bola caia no pé do Jairzinho, que driblava dois, três, quatro e entrava com bola e tudo. A bola caia no pé do Rivelino e ele driblava todos e entrava com tudo”, comparou.

Seleção de 70

Questionado se a seleção de 1970 foi a melhor de todas, Jairzinho nem pensa e dispara rápido: “Claro que foi. Você tem dúvida? Quando é que você vai ver uma seleção jogar com cinco números 10? E todos faziam a diferença. Eu era um deles”.

Para Jairzinho, o excessivo culto à figura de Neymar, jogador classificado por Tite como “top três” e “diferenciado”, não atrapalha e pode até ajudar os demais companheiros de equipe.

“É um espelho para que eles sejam melhor ou igual a ele. Além do Neymar, temos de prestar atenção no Paulinho, Willian, Gabriel e Coutinho. Temos cinco jogadores diferenciados. Eu aposto que eles poderão fazer a diferença. Em 70, nós tínhamos o Pelé e eu fui tanto ou melhor que ele. O Pelé que corria atrás de mim e não eu que corria atrás dele. É o que pode acontecer agora com o Neymar. Esta é uma seleção de pensamento positivo, porque ninguém é campeão de nada ali. É todo mundo buscando o seu sucesso. E você só tem sucesso quando é campeão. Esta é a realidade”, sublinhou.

Projeto social

Jairzinho falou com a reportagem após um treino de quase três horas, de baixo de um sol forte, no campo de terra e grama da Vila Olímpica. Com o apito na boca, ele comandava os jovens, que se revesavam a cada gol feito, dando lugar a um outro time.

Entrevista com o jogador Jairzinho, o furacão da Copa de 70, que fez gols em todos os jogos, na Vila Olímpica do Sampaio, zona norte da cidade.
Eu dou a eles um espelho de positividade, de sucesso, que é mais importante, diz Jairzinho, na Vila Olímpica do Sampaio, zona norte da cidade. - Tânia Rêgo/Agência Brasil

“Eu faço por amor, carinho. Estou devolvendo o que recebi. Assim como alguém me viu jogando pelada, e me convidou a ir para o Botafogo, eu também tento dar a eles uma luz melhor de vida. Eu dou a eles um espelho de positividade, de sucesso, que é mais importante. Eu dou o meu calor humano. Eles não pagam nada. Saíram mais de 50 jogadores do meu projeto”, conta o craque.

Ele mesmo lembra que o futebol entrou na sua vida muito cedo, desde criança, quando em vez de bolas de couro, chutava laranjas ou bolas de meia.

“Eu fui criado na General Severiano, em frente ao campo do Botafogo. Jogava nas praças. Comecei a jogar com laranja, fui para a meia, depois uma bola de borracha e por fim uma bola de couro. Nas peladas de rua, eu era sempre o primeiro a ser escolhido. Comecei a jogar com seis anos. Entrei no juvenil do Botafogo em 1960, com 14 anos. Ninguém pode dizer que vai ser jogador. Você se prepara para ser. É diferente. Ídolos como Garrincha, Quarentinha, Didi, Amarildo, Zagalo e Nilton Santos me inspiraram a ser jogador. Depois vim, na sequência, a jogar com eles”, lembra.

Furacão

Sobre o apelido de Furacão, que o consagrou no Brasil e no mundo, ele logo explica o motivo: “Eu sou o único jogador que fez gols em todos os jogos em uma copa do mundo. Vamos ver agora, até o mês de julho, quem vai superar. Tomara que um brasileiro supere, para darmos continuidade no nosso objetivo de sermos o melhor futebol do mundo”.