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Copa do Mundo da Rússia deixa como legado o árbitro de vídeo

Marcelo Brandão - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 15/07/2018 - 17:37
Brasília

A Copa da Rússia foi a Copa do VAR. O segundo dos quatro gols da França no jogo final da competição, por exemplo, só foi possível pela interferência do árbitro de vídeo. E pelas declarações do presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Gianni Infantino, a tecnologia de auxílio ao árbitro de campo veio para ficar. “Estamos muito felizes de termos introduzido o VAR. Hoje é difícil pensar em Copa do Mundo sem VAR”, disse Infantino em entrevista à de imprensa na última sexta-feira (13).

França vence a Copa da Rússia e conquista segundo título
França vence a Copa da Rússia e conquista segundo título - Kai Pfaffenbach/Reuters/Direitos reservados

Mas a Copa não será só lembrada pela presença da arbitragem de vídeo pela primeira vez na principal competição do futebol mundial. A eliminação de seleções tradicionais como a da Alemanha, Argentina, Espanha, do Uruguai e Brasil, que não conseguiram chegar sequer a semifinais, também ficará na memória do torcedor como a Copa em que as grandes equipes voltaram para casa mais cedo.

Queda dos gigantes

A Rússia foi território indigesto para os principais favoritos ao título. Os alemães não mostraram nada do futebol exuberante que desfilaram pelos gramados brasileiros em 2014. Não houve criatividade, inspiração e o sangue frio que fizeram o futebol alemão tão respeitado nos últimos anos. Foram eliminados na primeira fase.

Copa 2018, Coréia e Alemanha, Início de jogo  REUTERS/Pilar Olivares
Copa 2018, Coreia e Alemanha, derrota elimina os alemães REUTERS/Pilar Olivares - Reuters/Pilar Olivares/Direitos Reservados

A Espanha ficou também pelo caminho. Caiu nas oitavas de final após perder nos pênaltis para a Rússia, muito inferior tecnicamente. Mostrou dificuldades em furar as defesas e o toque de bola, envolvente e ofensivo no passado, se tornou cansativo e sem objetividade. O Uruguai, outra seleção da qual se esperava uma caminhada mais longa, ficou nas oitavas de final.

A Seleção Brasileira era cotada para chegar à final e aumentou seu favoritismo após a queda de espanhóis e alemães. Mas o time comandado por Tite não demonstrou poder de recuperação quando saiu atrás do placar na partida contra a equipe belga e terminou sendo derrotada por 2 a 1. Caiu nas quartas de final.

Os três maiores craques do futebol mundial, Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar, foram discretos nesta Copa. Na primeira rodada, o português marcou três gols contra a Espanha e deu esperanças de que se destacaria, mas suas atuações esfriaram junto com a sua seleção. Messi era parte de um aglomerado de jogadores. Eles, mesmo com a tradicional garra em campo, não conseguiam ter um esquema tático que enfrentasse as demais equipes em condições de igualdade. A seleção argentina sucumbiu diante do jovem time da França.

 Copa 2018: Brasil e Costa Rica. Neymar do Brasil após o jogo.
Copa 2018: Brasil e Costa Rica. O choro de  Neymar após o jogo. - Henry Romero/Reuters/Direitos reservados

Coletividade é o caminho

Pelé, Beckenbauer, Romário, Zidane e Ronaldo foram alguns dos nomes-símbolo de títulos mundiais nas Copas que disputaram. Mas a França de 2018 não teve um único jogador que comandou a equipe. O coletivo foi o forte das seleções que foram longe neste mundial. Mesmo com jogadores de destaque no cenário do futebol, como Mbappé, Pogba, Griezmann e o goleiro Lloris, o time prezou pela eficiência coletiva. E foi assim que passou por Argentina, Uruguai, Bélgica e Croácia para colocar a segunda estrela de campeã mundial em sua camisa.

Disputa pelo Terceiro Lugar entre a Bélgica e a Inglaterra na Copa 2018
Disputa pelo Terceiro Lugar entre a Bélgica e a Inglaterra na Copa 2018 - Toru Hanai/Reuters/Direitos reservados

Os belgas foram outro bom exemplo do futebol que predominou nesta Copa. Em verdadeiros contra-ataques dignos de manual, os Diabos Vermelhos venceram o Japão, Brasil e a Inglaterra e saem da Rússia com um honroso terceiro lugar.

A Croácia, por sua vez, teve o melhor jogador do campeonato, Modric. Mas ele não foi o único responsável por levar o time à final inédita. A Croácia talvez tenham sido a seleção cujos jogadores que mais se entregaram em todos os jogos. Foi um time de operários, onde todos marcavam e todos atacavam.

Croácia no mapa do futebol

O pequeno país de pouco mais de 4 milhões de habitantes entra no rol das seleções de respeito do futebol mundial. E não é por acaso. Vários jogadores atuam em clubes de ponta. O meio-campo croata não é celebrado à toa. Os meias Modric e Rakitic são titulares no Real Madrid e no Barcelona, respectivamente.

França e Croácia disputam final da Copa da Rússia
Croácia: a força de um futebol coletivo Peter Powell/EFE/Direitos Reservados

O centroavante Mandzukic joga na Juventus, da Itália. Perisic, autor do primeiro gol do time na semifinal, joga na Internazionale de Milão. Já os defensores Lovren e Vrsaljko jogam no Liverpool e Atlético de Madrid, respectivamente. O técnico Zlatko Dalic fez da reunião de grandes jogadores um time talentoso e comprometido. O vice-campeão mundial é digno do mesmo respeito ostentado por seleções como a Holanda, Inglaterra e Bélgica.

Violência ou simulação?

Se Neymar queria deixar sua marca nesta Copa, deu certo, mas não da maneira que esperava. Suas reações exageradas às faltas recebidas viraram memes na internet. Nos dois primeiros jogos, suas constantes caretas de dor, como se a cada falta tivesse sofrido uma lesão séria, incomodaram muita gente. Neymar ficou com reputação de jogador que tenta enganar a arbitragem.

E seu futebol não foi o suficiente para calar os críticos. Jogou bem contra Sérvia e México, mas não teve a atuação que dele se esperava. A partir do jogo contra os sérvios, mudou claramente de postura, reclamando menos e jogando mais. Mas a derrota do Brasil para a Bélgica, nas quartas de final, interrompeu a trajetória de uma possível redenção do craque brasileiro.

Coadjuvantes simpáticos

Algumas seleções tiveram vida curta na Copa, mas conquistaram a simpatia do mundo. E nesse quesito, os panamenhos foram campeões. Disputaram uma Copa pela primeira vez na vida e, logo no primeiro jogo, entraram para a história. E não pelo que fizeram em campo – perderam para a Bélgica por 3 x 0 – mas pelo que aconteceu antes. Jogadores e torcedores panamenhos no estádio não seguraram as lágrimas ao ouvirem o hino do país pela primeira vez e se tornaram uma das grandes imagens deste mundial.

Copa 2018: Panamá e Tunísia. Início do jogo.
Copa 2018: A primeira Copa da seleção panamenha. - Ricardo Moraes/Reuters/direitos reservados

Outras seleções voltaram para casa cedo, mas deram orgulho à sua torcida. O Marrocos saiu na primeira fase, mas fez duas boas partidas contra Portugal e a Espanha. Os africanos viram a vitória contra a esquadra espanhola escapar nos minutos finais do jogo. Saíram na primeira fase, mas com moral.

A Coreia do Sul não mostrou futebol para ir longe, mas a vitória por 2 x 0 que eliminou a Alemanha chamou muita a atenção do mundo do futebol. Após o apito final, os sul-coreanos comemoraram a vitória como se tivessem vencido a Copa; não parecia que estavam eliminados.

Catar 2022

Agora, é pensar na Copa do Mundo no Catar, em 2022. Contabilizar o que deu certo e analisar o que deu errado, a fim de iniciar mais um ciclo de preparação para o próximo mundial. Da Copa na Rússia, ficarão as belas imagens das torcidas se confraternizando nas ruas, avenidas e praças das cidades russas e nas arquibancadas dos belos estádios. Nos gramados, as belas jogadas de Mbappé, as defesas de Curtois, a entrega dos jogadores russos e croatas, a emoção da torcida panamenha e a calorosa recepção da população russa.