Queimados mostra falta de políticas para segurança, diz pesquisadora
Os altos índices de violência no município de Queimados, na Baixada Fluminense, apontados pela última edição do Atlas da Violência, não devem ser naturalizados, mas sim servirem como estímulo à resolução dos problemas. A análise é da especialista em segurança pública Sílvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec).
“É possível reduzir os homicídios, sim. E eu espero que os agentes de segurança do Rio usem Queimados não como um caso para mostrar como o Rio é violento. Mas para mostrar como é possível reduzir homicídios”, disse.
Ela diz acreditar que o problema da violência no município tem solução, unindo esforços nas esferas públicas, federal, estadual e municipal.
“Redução de homicídios tem jeito sim. Com três ou quatro políticas em Queimados, em quatro meses a gente baixa [os índices]. Tem que haver foco articulado na milícia, na elucidação de homicídios múltiplos, onde morre mais de uma pessoa. Pois às vezes tem um grupo que mata 10, 20 pessoas. Enquanto você não tira esse grupo de circulação, ele continua matando. Também é preciso foco articulado na redução dos tiroteios e dos confrontos. E investimento em inteligência”, destacou a especialista.
Para ela, os números mostrados no Atlas da Violência, que apontaram 135 mortes violentas por 100 mil habitantes em 2016 em Queimados, e tornaram a cidade campeã neste quesito no país, não são novidades.
“O Atlas da Violência confirma, de forma chocante, a impressão que tínhamos há muitos anos da Baixada, de tanto que não foi feito nada lá. Há 30 anos a taxa de homicídios da Baixada é maior que a taxa média da capital, do Rio de Janeiro. Sendo que o Rio sempre foi um caso grave, do ponto de vista do Brasil e do mundo. A Baixada é um contexto gravíssimo no contexto do Rio. Nós alertamos isso há muitos anos”, afirmou a especialista.
Segundo ela, a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) na capital, principalmente nos anos que antecederam a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, acabou se refletindo na região de forma positiva. E com a precarização do projeto, a violência que explodiu no Rio também respingou na Baixada Fluminense.
“Na época em que os homicídios foram reduzidos no Rio, por causa das UPPs, de 2012 a 2014, a Baixada também reduziu [os índices], mas a distância da taxa [de homicídios] da Baixada e do Rio nunca foi reduzida. E com o fim das UPPs, a Baixada subiu mais do que os outros lugares na taxa de homicídios. A ponto de que esse caso de Queimados virou uma espécie de paroxismo, do que pode acontecer quando um lugar está tendo problemas de violência e políticas específicas não estão sendo desenvolvidas para reduzi-los”.