Fogo ameaça parque nacional e terras indígenas na Ilha do Bananal
Considerada a maior ilha fluvial do mundo, a Ilha do Bananal, no Tocantins, está sendo afetada pelos incêndios que, nos últimos meses, se espalharam por extensas áreas das regiões Norte e Centro-Oeste do país.
Segundo a Defesa Civil estadual, equipes do Exército e brigadistas estão tentando apagar o fogo, que já dura pelo menos 20 dias. Desde 20 de agosto, quando o presidente Jair Bolsonaro autorizou o emprego das Forças Armadas no combate aos incêndios e queimadas florestais em todo o estado, as ações estão sendo coordenadas pelas Forças Armadas, em conjunto com os órgãos estaduais.
“As últimas informações que recebemos é que a situação está sob controle, mas que ainda há alguns focos de incêndio, conforme é possível ver também nas imagens de satélite”, disse o diretor-executivo da superintendência estadual de Proteção e Defesa Civil, major Alex Matos Fernandes.
Com cerca de 25 mil km², a Ilha do Bananal é uma extensa porção de terra entre os rios Javaés e Araguaia, na chamada Planície do Cantão, próximo à divisa com Goiás. Parte de seu território é ocupado pelo Parque Nacional do Araguaia, administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. A outra parte é ocupada por reservas indígenas, como a Terra Indígena Inãwébohona e a Terra Indígena Utaria Wyhyna/Iròdu Iràna.
Além de ser ocupada tradicionalmente por membros das etnias Karajá e Javaé, a ilha supostamente abriga a um grupo de índios Avá-Canoeiro que vivem voluntariamente isolados. Supostamente porque, embora, na região, há décadas se fale sobre a presença desses índios, inclusive com relatos de avistamento à distância, em 2019, a Fundação Nacional do Índio (Funai) contestou uma ação civil pública impetrada pelo Ministério Público Federal (MPF) alegando que “até o momento, não há certeza da existência dos Avá-Canoeiro Isolados na região”. Apesar disso, a Justiça Federal determinou que a Funai, o ICMBio e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) adotassem uma série de medidas para proteger os indígenas que vivem na Ilha do Bananal.
“Não posso dizer o que foi feito e o que não foi, mas o que a gente sabe agora é que o que foi feito foi insuficiente para conter o fogo”, disse o missionário do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Carlos Almeida. Segundo ele, tem sido muito difícil obter informações sobre a real situação, pois a comunicação com quem vive no interior da ilha é muito difícil e os órgãos oficiais não tem divulgado o resultado de suas ações na área.
“Ontem [na quarta-feira, 23], recebemos vídeos que mostram brigadistas combatendo o fogo na Mata do Mamão”, disse Almeida, referindo-se à área de mata fechada onde acredita-se que vivem os índios isolados e que foi a principal área protegida pela decisão de julho, da Justiça Federal. “Há equipes há mais de 20 dias combatendo o fogo, mas não temos notícia sobre a real ameaça às comunidades indígenas”, acrescentou Almeida, afirmando que o fogo tem sido usado para “limpar” as terras usadas como pasto para a criação de milhares de cabeças de gado no interior da ilha.
No último dia 16, a agência estadual de Defesa Agropecuária (Adapec) divulgou nota sobre campanha para vacinar aproximadamente 100 mil bovinos e bubalinos criados na Ilha do Bananal.
A reportagem solicitou mais informações ao ICMBio e aguarda retorno. A Funai informou que está apoiando a ação dos brigadistas do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Prevfogo/Ibama), e do ICMBio. “A fundação presta suporte às brigadas em logística, transporte, alimentação, pontos de apoio e combustível na execução das atividades de Manejo Integrado do Fogo (MIF) e no combate às chamas.”