Brexit é um "ponto sem volta", afirma primeira-ministra britânica
A primeira-ministra britânica, Theresa May, disse nesta quarta-feira (28) no Parlamento que o Brexit é um "ponto sem volta", após confirmar que o Reino Unido ativou o Artigo 50 do Tratado de Lisboa, que inicia as negociações para a retirada do país da União Europeia (UE). A informação é da Agência EFE.
Na Câmara dos Comuns, May afirmou que este é um momento "histórico" e que o governo respondeu à "vontade democrática" expressa pelo povo britânico no referendo de 23 de junho. Em discurso a uma câmara cheia, ela prometeu defender, "o mais rápido possível", os direitos dos integrantes da Comunidade Europeia que vivem no Reino Unido e ressaltou o interesse britânico por ver uma UE que "prospere" e "tenha sucesso".
Membro do Partido Conservador, a primeira-ministra disse que seu país inicia uma "viagem transcendental" e pediu "união" do povo para os dois anos de negociações sobre a saída do bloco europeu.
"Agora que a decisão de deixar a União Europeia foi tomada, é o momento de nos unirmos", afirmou May, insistindo que negociará como um "único Reino Unido", mas levando em conta "os interesses de todas as regiões (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte)", em clara referência aos objetivos independentistas do governo autônomo escocês de Nicola Sturgeon.
"Vamos tomar nossas próprias decisões e nossas leis, vamos assumir o controle das coisas que nos importam mais e vamos aproveitar esta oportunidade para construir um Reino Unido mais forte, mais justo, um país que nossos filhos e netos sintam orgulho de chamar casa. Esta é nossa ambição e nossa oportunidade", afirmou May no discurso aos parlamentares.
Protestos
No início da manhã, vários ativistas se reuniram diante do Parlamento britânico com uma marionente com o rosto de Theresa May para protestar contra o Brexit. Os manifestantes, membros do movimento cívico global Avaaz, protagonizaram uma performance na qual a marionete da primeira-ministra segurava uma coleira presa a vários cidadãos que atuaram como cachorros com a boca amordaçada.
O diretor de campanhas do Avaaz, Alex Wilks, declarou à Agência EFE que o protesto é um "símbolo do estado de ânimo de todo o país", que rejeita o chamado "Brexit duro", referindo-se à saída da UE sem acesso ao mercado único europeu. "May quer liderar um complicado divórcio, mas os cidadãos britânicos e o Parlamento rejeitam ser silenciados e vão seguir lutando por uma boa relação com nossos países vizinhos" acrescentou Wilks.
Sobre a carta de saída, Wilks disse que "o papel que Downing Street [residência e escritório do primeiro-ministro britânico, em Londres] entrega a Bruxelas [sede da União Europeia] não é o final da história. Na realidade, é o começo" Para o ativista, querem que "os cidadãos e os parlamentares estejam no meio destas conversas e sejam agentes ativos na negociação, não sujeitos passivos atrás de May".
Reações do mercado financeiro
À espera de saber quais serão as prioridades na negociação, a libra esterlina se mantinha sólida frente ao euro e subia 0,41%, para 1,156 euros, às 12h50 GMT (9h50 de Brasília), após ter sofrido uma valorização de 0,67% em relação à divisa europeia logo depois da ativação do Artigo 50 do Tratado de Lisboa.
Por outro lado, a moeda britânica perdeu 0,20% de seu valor em relação ao dólar, passando para US$ 1,242.
A Bolsa de Valores de Londres também apresentou números negativos, com baixa de 0,11%, até 7.335,31 pontos.
Segundo os analistas, os mercados agradecem, por um lado, o início do processo de negociação e, por outro, estão à espera dos detalhes e de qual será o tom, conciliador ou agressivo, das conversas com Bruxelas.
A evolução da libra dependerá de quão "desafiadora" será a posição do Reino Unido, disse o analista de mercados da ETX Capital Neil Wilson, que alertou também para a possibilidade de um segundo referendo de independência na Escócia.
A prefeitura da City de Londres, que representa os interesses do distrito financeiro da capital britânica, informou hoje que o governo da primeira-ministra Theresa May deve negociar um acordo comercial com a União Europeia, "o mais parecido com a situação atual" e com "acesso recíproco aos mercados".
Com a saída do bloco, o Reino Unido deve pôr fim a 44 anos de participação no clube europeu em 29 de março de 2019.