Manifestação histórica pede saída de Ortega do governo da Nicarágua

Publicado em 24/04/2018 - 05:48 Por Agência EFE - Manágua

Milhares de manifestantes em Manágua e outras cidades da Nicarágua pediram, nessa segunda-feira (23, pacificamente, a saída do poder do presidente Daniel Ortega e de sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo, que acusaram de repressão e violação dos direitos humanos em 11 anos à frente do país.

"Que vá embora o ditador", "Os mortos não dialogam", "Não tememos você", ou "Daniel, queremos você fora", foram frases apresentadas em alguns dos cartazes em Manágua, na maior manifestação em décadas no país.

O protesto na capital ocupou cerca de sete quilômetros de ruas e ocorreu no sexto dia de manifestações populares, feitas contra a reforma da Previdência Social. Em muitos casos, os protestos geraram violência e deixaram mortos, entre eles um jornalista que transmitia o ato, ao vivo, no último sábado (21). Organizações humanitárias estimaram em pelo menos 27 os mortos e em quase 500 os feridos, enquanto o governo informou, na última sexta-feira (20), dez mortos.

"Não eram assassinos, eram estudantes!", era uma das palavras de ordem dos manifestantes. Eles afirmam que as forças de choque do governo atuaram com o apoio da polícia, gerando violência.

A reforma da Previdência, que subiu as cotações e reduziu as pensões, foi revogada pelo governo no último domingo (22), em um tentativa fracassada de conter os protestos, que deixaram de ser apenas por essa questão.
É uma oportunidade para progredirmos, já estamos fartos disso. Não queremos mais ditadura, Nicarágua livre", disse Emerson Velázques à Agência EFE, ao ser questionado sobre o motivo de estar participando da manifestação em Manágua.
 

Protesto em Manágua contra reforma da Previdência
Protesto em Manágua contra reforma da Previdência - (EFE/Jorge Torres/Direitos Reservados)

Ao contrário das acusações do governo, que nos últimos dias chamou de "minúsculos", "vampiros" e violentos os manifestantes, o ato de ontem aconteceu sem relatos de incidentes violentos.

A manifestação, omitida pelos canais oficiais do governo, foi transmitida ao vivo por várias televisões independentes, entre elas o canal "100% Noticias" por meio do Youtube, censurado desde o começo dos protestos.

As mobilizações dessa segunda também serviram para que a população mostrasse apoio aos estudantes universitários, que lideraram os protestos, e especialmente por aqueles que foram presos, cujo número é incerto.

"Queremos paz, sim, com uma mudança; fora Daniel Ortega, fora Rosario Murillo", disse a jornalistas um líder estudantil da Universidade Politécnica da Nicarágua (Upoli), que não quis se identificar.

Os estudantes universitários são os principais protagonistas dessa jornada de protestos, nos quais ocorreram atos de vandalismo e saques, especialmente no final de semana, quando supermercados foram atacados, não apenas por saqueadores, mas também por compradores nervosos. As caixas automáticas ficaram sem dinheiro, e as filas eram intermináveis nos postos de gasolina.

Ontem, o clima era de calma na capital e no resto do país, onde as aulas foram suspensas e algumas ruas ainda tinham barricadas, pneus queimados, pedras e troncos.

"Temos uma calma e uma normalidade que encorajam a todos nós, pois as famílias nicaraguenses querem segurança", disse a vice-presidente Rosario Murillo, reiterando o apelo do governo ao diálogo.

Edição: Graça Adjuto

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