Termina acordo que garantia envio de gás russo à Europa via Ucrânia
Chegou ao fim, no primeiro dia de 2025, um acordo de cinco anos que permitiu o fornecimento de gás russo à Europa através da Ucrânia. Volodymyr Zelensky afirmou que Kiev não vai permitir que a Rússia continue a "ganhar milhões com o sangue" dos ucranianos e que a medida é "uma das maiores derrotas de Moscou".
A Comissão Europeia (UE) garante que os países da União estão preparados, mas o impacto da medida já é sentido em países do Leste, como a Moldávia.
“Devido à recusa repetida e claramente expressa do lado ucraniano em renovar esses acordos, a Gazprom foi privada da capacidade técnica e legal de fornecer gás para trânsito pelo território da Ucrânia a partir de 1º de janeiro de 2025", anunciou a empresa russa Gazprom, nesta quarta-feira (1°), através de uma publicação no Telegram.
A partir das 8h de Moscou (2h, no horário de Brasília), o fluxo de gás russo foi interrompido, segundo a empresa.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, citou a data em uma publicação nas redes sociais em que considerou tratar-se de "uma das maiores derrotas" do presidente russo desde o início da guerra.
"Quando Putin assumiu o poder na Rússia, há mais de 25 anos, a transferência anual de gás através da Ucrânia para a Europa era de mais de 130 bilhões de metros cúbicos. Hoje, o trânsito de gás russo é zero. Essa é uma das maiores derrotas de Moscou", declarou.
A Comissão Europeia minimizou o impacto da interrupção das exportações. "A infraestrutura europeia de gás é suficientemente flexível para fornecer gás de origem não russa à Europa Central e Oriental através de rotas alternativas", disse um porta-voz.
"Foi reforçada com novas capacidades significativas de importação de gás natural liquefeito (GNL) desde 2022", acrescentou.
Desde o início da invasão da Ucrânia, a UE reduziu significativamente as importações de gás da Rússia e procurou fontes alternativas de gás natural no Catar e EUA e de gás canalizado proveniente da Noruega, Países Baixos e da Bélgica.
Impacto
Apesar da preparação da maioria dos Estados-membros da UE para a mudança, países da Europa oriental, como a Eslováquia e a Áustria, continuaram a depender em grande escala dos fornecimentos de gás da Rússia e poderão vir a pagar um preço mais caro.
O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, disse ontem que a interrupção do fluxo de gás através da Ucrância terá um impacto "drástico" nos países da UE, mas não na Rússia, argumentando que levaria a um aumento dos preços do gás e da eletricidade na Europa, especificamente na Eslováquia.
O líder eslovaco pró-russo alertou que o fim do acordo custaria ao seu país centenas de milhões de euros em rotas alternativas já que a Eslováquia é o principal ponto de entrada de gás russo na UE e que até então lucrava com as taxas de trânsito por transportar o gás russo para a Áustria, Hungria e Itália.
Fora do bloco comunitário, a Moldávia já sofre os impactos do corte do fornecimento de gás russo, em pleno inverno gelado, de acordo com a BBC. Na região separatista da Transnístria, que é leal a Moscou e economicamente dependente do gás russo, o "ano começou com apenas hospitais e infraestruturas críticas a aquecidas", relata.
A empresa russa Gazprom anunciou em dezembro que iria interromper o fornecimento de gás para aquele país devido a uma disputa sobre uma dívida de US$ 709 milhões relativa a fornecimentos anteriores.
Uma reivindicação rejeitada pelo governo moldovo pró-ocidente de Maia Sandu, que acusou Moscou de utilizar as suas exportações de energias como "táticas de opressão".