Competição de foguetes estimula espírito científico em alunos do ensino médio
A pista de pouso do Hotel Fazenda Ribeirão, na cidade fluminense de Barra do Piraí, transformou-se, esta semana, em plataformas de lançamento de foguetes. Em substituição a metais, combustíveis fósseis e muita fumaça, os protótipos produzidos por alunos de ensino médio de todo o Brasil eram de garrafas PET. Eles subiam movidos pelo gás produzido com a reação química entre vinagre e bicarbonato de sódio. Com um rastro de espuma, os foguetes decolavam para chegar o mais longe que pudessem. A competição vale 35 bolsas de iniciação científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
"Tivemos um que atingiu 248 metros de distância. Em anos anteriores, chegamos a registrar 275 metros", revelou o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, João Canalle, que coordena a 8ª Mostra Brasileira de Foguetes, a organizadora da VI Jornada de Foguetes. Aproximadamente 600 alunos de 25 estados e do Distrito Federal participaram do evento. Eles representam mais de 60 mil estudantes que disputaram competições internas ao longo do ano e, dentro das regras do jogo, ousaram nas inovações: "Tivemos foguetes lançados com controle remoto e bases de lançamento automatizadas", destacou Pâmela Marjorie, coordenadora da jornada.
Conforme Canalle, até alcançar voo, o caminho é de muitos testes. "Tem de experimentar para aperfeiçoar. É bom que eles desenvolvem a criatividade e aprendem a conectar os caninhos, cortar, colar e perfurar. A maioria está acostumada a produzir trabalhos escolares no computador. Na escola, eles estudam o lançamento de uma pedra sem atrito. Na realidade, o problema fica muito mais complexo. Então, eles ficam mais perto das verdadeira ciência", salientou.
Professor de física da unidade Timóteo do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), Weber Feu trouxe quatro alunos dos mais de 20 que participam do grupo de astronomia. "A gente deixa eles livres para procurar soluções. Assim, aprendem a ser independentes e despertam para solucionar problemas além da sala de aula".
Até lançar um foguete, com apoio de um colega de turma, o cearense Fábio Souza, da Escola Estadual Theolina Muryllo Zaca, tentou, pelo menos, 20 lançamentos. O trabalho começou em fevereiro, na própria escola e fora do horário de aula. "Foram várias tentativas para atingir uma melhor proporção do material. Trabalhamos no contraturno para fazer os cálculos do vinagre e do bicarbonato. Estudamos bastante". São Paulo e Ceará foram os estados com maior número de representantes. Cada um participou com 25 escolas públicas e duas particulares.
Para João Canalle, além de despertar o interesse científico, a iniciativa garante a autoestima dos alunos. "O livro didático e a aula do professor menos preparado revelam que a ciência é feita por gênios que nasceram gênios, que as pessoas nasceram cientistas. Não é nada disso. Quando estudamos a vida das pessoas, percebemos que são pessoas comuns que se dedicaram a algum problema particular e encontraram soluções que se tornaram leis da natureza", assinalou o professor.