Crianças empreendedoras dividem espaço com adultos na Campus Party
Entre as centenas de eventos da Campus Party Brasília, dois jovens palestrantes chamam a atenção pela pouca idade e pela trajetória precoce. Manoela Meroti, de 9 anos, começou a empreender aos 6 anos, vendendo pulseiras e quadros no salão de beleza de sua mãe para comprar uma boneca. Aos 8, venceu um Hackathon (competição de programação) criando um boneco com palitos de sorvete. Hoje, tem um canal no Youtube em que ensina desenho e artesanato, além de dar palestras e ser jurada em outras maratonas de desenvolvimento.
Já Matheus Moraes, o Teteus Bionic, veio à Campus para falar de astronomia e programação. Desde os 7 anos ele estuda e ensina programação para crianças carentes ao lado do pai, Michael Jackson Moraes. Aos 9 anos, já lecionava sozinho e atualmente dá palestras e oficinas em universidades e eventos de tecnologia, além de desenvolver projetos em robótica e astronomia.
Uma das preocupações dos pais dessas crianças empreendedoras é conciliar a carreira precoce com a escola e a vida offline. “Desenvolvi uma rotina para o Matheus. Ele tem obrigação de uma hora de estudo e de leitura por dia”, conta Michael. “Se tiver uma rotina bacana, dá para conciliar palestras e estudos específicos com a criança, continuar brincando e se divertindo”, complementa. “Nossa prioridade é a educação”, afirma o desenvolvedor Evandro Peixoto, pai de Manoela. “Os eventos e o empreendedorismo dela não podem atrapalhar a educação fundamental”, diz, lembrando que a maioria dos eventos como a Campus Party são realizados em finais de semana.
Michael diz que não vê a infância de Matheus prejudicada pela rotina de projetos e palestras. “Ontem Matheus e Manoela brincaram e correram pela Campus, e vê-lo feliz é a melhor coisa que tem. Vamos continuar trazendo ele enquanto ele estiver curtindo”, diz. Os dois pais afirmam que, apesar de precoces, os filhos são crianças normais, que gostam de brincar e cultivam amigos na escola. Para Matheus, a dificuldade na escola na verdade é encontrar interlocutores. “Não tenho com quem falar de física quântica. A única conversa que posso ter é com os bagunceiros”, lamenta.
Limites
Tanto Manoela quanto Matheus usam a internet com principal meio de trabalho e têm contato direto com outros usuários por meio da rede. “Toda comunicação que chega é revisada por mim e pela mãe. É uma recomendação que faço para outras pessoas”, diz Peixoto.
Já o pai de Matheus conta que, quando o filho perguntou o que era e como se acessava a deep web (parte da internet que não é indexados por mecanismos de busca, comumente utilizada para propagação de conteúdos ilegais), ele preferiu conversar e mostrar porque o conteúdo não é adequado para a idade dele, fortalecendo a relação de confiança.
“A criança naturalmente é curiosa. Se você não ajudá-la a resolver essa curiosidade, ela vai resolver independente do que você pensa”, analisa. “A curiosidade, se bem trabalhada, motiva e direciona a energia da criança, em vez de torná-la rebelde”, conclui Moraes. Apesar do envolvimento com tecnologia, até hoje Matheus não tem um telefone celular.
Dinheiro e futuro
Os pais afirmam que a presença nas palestras geralmente não é remunerada. “Quando acontece um evento ou outro que tem remuneração, fazemos os cálculos juntos, assim o Matheus participa disso e começa a compreender sobre educação financeira”, conta Moraes. Apesar de seu início como empreendedora, o pai de Manoela diz que o dinheiro é apenas consequência da atividade da filha. “A palestra que ela deu ontem é baseada em dois pilares: ela quer juntar dinheiro para viajar e quer fazer um Hackathon para tirar as pessoas da rua”, observa.
Questionada sobre o futuro, Manoela diz que ainda não sabe o que quer ser quando crescer. Já Matheus quer ser astronauta e o pai não duvida que ele chegará lá. “O que eu podia orientar, eu já consegui fazer. A partir de agora é com ele”, diz Moraes. “De uma coisa eu tenho certeza: enquanto ele estiver se divertindo, ele vai chegar longe”, completa.