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Política

Contrato com Petrobras serviu para Bumlai quitar empréstimo, diz procurador

Michèlle Canes e Bruno Bocchini – Repórteres da Agência Brasil
Publicado em 24/11/2015 - 13:57
 - Atualizado em 24/11/2015 - 18:32
Brasília

O procurador da República Diogo de Mattos disse  hoje (24) que o empresário e pecuarista José Carlos Bumlai usou contratos firmados com a Petrobras para quitar empréstimos com o Banco Schahin. A afirmação do procurador foi feita durante entrevista coletiva para detalhar a 21ª fase da Operação Lava Jato, denominada Operação Passe Livre, que investiga indícios de fraude em licitação na contratação de navio-sonda pela Petrobras.

De acordo com o procurador, o que a investigação comprovou até agora é que, em 2004, houve um empréstimo contraído formalmente no nome de José Carlos Bumlai. "Segundo informações de três colaboradores, na realidade esse empréstimo se destinava ao Partido dos Trabalhadores (PT) e foi pago mediante a contratação da Schahin como operadora do navio-sonda Vitória 10.000, da Petrobras, em 2009.”

Diogo Mattos acrescentou que o principal empréstimo investigado, de R$ 12 milhões, foi contraído em 2004. “Esse empréstimo foi postergado ao longo dos anos. No fim de 2005, a fim de quitá-lo, foi feito um novo empréstimo no mesmo banco por uma empresa de Bumlai. Essa empresa contraiu o empréstimo, passou para Bumlai, que o quitou, mas surgiu um novo débito de R$18 milhões. Esse empréstimo também não foi pago”, afirmou Mattos.

Segundo o auditor da Receita Federal Roberto Leonel de Oliveira Lima, integrante da equipe da Operação Passe Livre, esta fase da Lava Jato se diferencia das demais pelo número de empréstimos investigados. “A diferença verificada na análise da recondução do patrimônio de alguns dos envolvidos e de algumas de suas empresas é basicamente centrada em uma série de empréstimos recebidos de bancos públicos e privados. Essa série de empréstimos gerou recursos que foram transferidos a várias pessoas”.

“O que temos claramente é um depoimento informando que Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, esteve no Banco Schahin para realização desse empréstimo e que houve um telefonema de José Dirceu ao então presidente do banco para se responsabilizar pelo empréstimo. Não que ele tenha falado nesse telefonema sobre o empréstimo, mas ele nunca tinha ligado ao banco ou conversado com o senhor Schahin antes”, disse o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima.

José Carlos Bumlai foi preso hoje pela Polícia Federal (PF). Ele iria depor às 14h30 na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do BNDES, na Câmara dos Deputados, que investiga operações envolvendo o banco estatal.

Bumlai vem sendo lembrado como suposto amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele foi citado por delatores da Operação Lava Jato como intermediário de reuniões de Lula com empresários. Segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, não há nada que indique qualquer intercessão do ex-presidente Lula na ação envolvendo o empréstimo com o banco Schahin .

A Operação Passe Livre emitiu 25 mandados de busca e apreensão, um mandado de prisão preventiva e seis de condução coercitiva em São Paulo (SP), Lins (SP), Piracicaba (SP), Rio de Janeiro (RJ), Campo Grande (MS), Dourados (MS) e Brasília (DF). A operação conta com 140 policiais federais e 23 auditores fiscais.

Os investigados nesta fase responderão pela prática de crimes como fraudes a licitação, falsidade ideológica, falsificação de documentos, corrupção ativa e passiva, tráfico de influência e lavagem de dinheiro. Os policiais também estiveram na sede do BNDES, que colaborou entregando os documentos solicitados. 

O empresário e pecuarista José Carlos Bumlai chegou à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba por volta das 12h. Ele foi levado ao Instituto Médico-Legal (IML), onde fará exame de corpo de delito. Após o exame, Bumlai retornará à Superintendência da PF, onde cumprirá prisão preventiva.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o PT informou que não vai se manifestar sobre a prisão do empresário e pecuarista José Carlos Bumlai. O Instituto Lula disse que também não vai se pronunciar.

Em nota, enviada às 18 horas, o escritório Malheiros Filho, que defende Bumlai, disse que as advogadas Daniella Meggilaro e Lyziê Perfil estiveram na Polícia Federal em Curitiba onde encontraram Bumlai "sereno e tranquilo". Segundo o escritório, como várias medidas tiveram de ser cumpridas hoje, como o exame de corpo de delito, "não foi possível uma entrevista pessoal e reservada para a discussão sobre o encaminhamento da defesa. Por isso não há ainda posição sobre medidas que serão adotadas". O escritório também representa o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

O advogado do ex-ministro José Dirceu, Roberto Podval, disse que ainda vai tomar conhecimento da operação. 

O banco Schahin foi vendido para o BMG em 2011, após o fato investigado pela PF. Desta forma, o BMG informou, por meio de assessoria, que não irá se pronunciar sobre a operação. A página do grupo Schahin na internet está em manutenção e a reportagem não conseguiu contato com representante do grupo.

* A matéria foi alterada às 14h21 e às 15h16 para inclusão de novas informações. Texto atualizado às 18h54 para inclusão do posicionamento da defesa de Bumlai.