Manifestação no Recife reúne 120 mil pessoas na praia de Boa Viagem
A manifestação contra o governo federal, no Recife, levou 120 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, à orla da capital pernambucana, no bairro de Boa Viagem. O ato, que começou às 10h, pediu o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Sob um sol intenso, três trios elétricos e um carro de som puxavam o ato. Os manifestantes vestiam verde e amarelo e levavam cartazes pedindo o impeachment e criticando o Partido dos Trabalhadores (PT). Muitas bandeiras do Brasil foram levadas, e também cartazes de apoio ao juiz Sérgio Moro, responsável pelo processo da Operação Lava Jato, que investiga a lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e políticos de vários partidos. Até um boneco de Olinda do juiz foi levado para o ato.
A multidão percorreu a avenida da orla no bairro de Boa Viagem, um setor nobre da capital pernambucana. Muitos moradores de prédios que ficam à beira mar colocaram mensagens e bandeiras brasileiras nas janelas em apoio à manifestação. A parte da frente dos edifícios funcionaram como uma espécie de camarote, de onde os recifenses aplaudiam o ato e gritavam mensagens contra o governo.
Na rua, alguns manifestantes foram até fantasiados. Como Marcos Nunes, 48, administrador de empresas, que levava uma maleta cheia de notas de dinheiro com os rostos de políticos conhecidos. Ele foi demitido quando a companhia onde trabalhava se fundiu a outra e reduziu a equipe. “Eu tinha emprego, ganhava bem, sustentava minha família, estou desempregado há dois anos. Já cansei de mandar currículo, trabalho por conta própria fazendo alguns serviços, em todo lugar que eu vou dizem que meu currículo é bom mas ninguém me dá emprego”, reclama. “Tenho R$ 5 mil de despesas para pagar, só de imposto – IPTU, IPVA e outras coisas mais. Ontem deixei de fazer feira porque meu dinheiro não deu”.
Ele, no entanto, não defende um nome específico para assumir a Presidência da República no futuro. “Infelizmente não temos ninguém que possa assumir a Presidência de imediato, que seja do meu gosto, porém a gente sabe que na pior das hipóteses quem vai assumir é o vice. Ele vendo essa pressão ou ele faz alguma coisa ou vai pra cima de novo, até que apareça alguém decente”, disse.
A família de Matheus Henrique, 22, foi toda para a manifestação. O estudante da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) afirmou que eles estão “cansados da corrupção”. Ele disse gostaria de novas eleições e novas ideias para o país, mas também não citou nomes.
Delegados da Polícia Federal também estiveram presentes no ato. De acordo com a diretora regional da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Kilma Caminha, eles aproveitaram a manifestação para pedir apoio à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 412, que estabelece a autonomia administrativa, financeira e orçamentária da PF.
"Viemos chamar a atenção do povo e pedir apoio popular para que a Polícia Federal possa ser independente do governo e possa fazer o seu trabalho no combate à corrupção sem depender de qualquer tipo de governante", disse Kiloma.
A delegada disse que o movimento não estava no local para defender as bandeiras levantadas pelo ato. "Nosso movimento é apartidário. Não somos conta ou a favor de qualquer partido. Não estamos em defesa ou contra o impeachment, estamos pedindo apoio popular para a proposta".
Movimentos suprapartidários
A organização do protesto foi do Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua. As organizações se dizem suprapartidárias, ou seja, que não estariam ligadas a nenhum partido. Ao ser perguntado sobre o projeto político do movimento para o país, e se apoiariam algum partido ou nome para assumir a Presidência do Brasil, Gustavo Gesteira, porta-voz do Vem Pra Rua, fez um discurso anticorrupção. “É importante que fique claro que o que tem acontecido tem sido em decorrência do que tem na legislação brasileira, na Constituição Federal. Então o movimento defende o respeito às leis, à Constituição, e é por isso que as pessoas que estão envolvidas em escândalos de corrupção têm que ser processadas, julgadas e punidas”.
Outra pergunta tratou da participação do presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), citado em delação nas investigações da Lava Jato, na manifestação realizada pelo movimento em Belo Horizonte. “O Vem Pra Rua defende que todos aqueles que estejam envolvidos em escândalos de corrupção sejam investigados e, se denunciados, processados e julgados, independente de qual partido seja filiado ou que posição for”, respondeu Gesteira.
Já o MBL tem orientação política liberal, de acordo com o estudante de direito Paulo Figueiredo, representante do movimento. Ele afirmou que o alvo do protesto não deve ser só o Partido dos Trabalhadores (PT). “A gente não pode limitar a corrupção ao PT e à esquerda. A gente quer a punição do [deputado] Eduardo Cunha, de [ex-presidente] Lula, [senador] Delcídio do Amaral e [senador] Aécio Neves, caso seja comprovado. Não queremos limitar combate a corrupção”, argumentou. “O impeachment, pela legalidade, quem assume é o vice-presidente. Agora, além do impeachment, o MBL não vai parar suas manifestações, não vai parar de defender um projeto de pais. A gente quer um país com mais liberdade, mais livre iniciativa”
Mesmo com a adesão da classe alta que mora nessa região, o representante do MBL, Paulo Figueiredo, contesta a afirmação de que a manifestação só atrai a parcela da população brasileira que tem uma condição de vida melhor. "[a classe média e alta] Tem direito de protestar. Não desabona a conduta de alguém por ser classe média ou alta. O que desabona é a pessoa ser dessas classes por causa de desvio de dinheiro. E sinceramente eu creio que rico não vem para protesto de ônibus como vi hoje de manhã. Pessoas pobres estão aqui também, porque elas são as que sofrem quando o governo tira dinheiro do nosso delas para dar aos ricos, que sofre com aumento da gasolina, luz, inflação comendo a salário", defende.
Outro movimento que colocou seus cartazes e um trio elétrico no ato é o Direita Pernambuco, que defende o nome do deputado federal Jair Bolsonaro para a Presidência da República. Mateus Henrique de Souza, de 19 anos, falou pelo movimento. “O Brasil tem uma direita, e ela está viva. E ela tem um representante. A gente tem como visão o parlamentar Jair Bolsonaro”.
O jovem explicou ainda qual o projeto político defendido pela organização. “O [nosso] programa político é que seja instaurado uma política de direita liberal economicamente, para que recuperemos a nossa economia, estruturar as escolas, federalizar, para que a gente possa ter maior conscientização”.
O empresário Antônio Cláudio Ribeiro Pereira, 60 anos, dono de uma microempresa de brindes, também defende Bolsonaro para presidente. “Não voto há 34 anos, rasguei meu título. Mas tenho acompanhado o Bolsonaro, e talvez até renove meu título por causa disso”, disse. “O que eu quero é um país melhor para mim. Se isso não acontecer eu vou embora daqui, já estou decidido”, conta, ao informar que já pensa em morar na Argentina, no Chile ou no Uruguai.
Antônio diz preferir a ditadura civil-militar que deu um golpe no país em 1964. “Não que o governo militar volte, não é isso. Mas se fosse para escolher entre esse bando de bandidos e o governo militar, eu preferiria”, compara. Os organizadores do ato declararam, ao microfone e em entrevistas, que não são a favor da intervenção militar.
Ato pró-governo
Para evitar brigas, a orientação das entidades integrantes da Frente Brasil Popular - movimento que se coloca contra o impeachment e em defesa da democracia -, foi que não houvesse manifestação pró-governo neste domingo (13). O ato oficial da frente está marcada para o dia 18 de março, às 15h, na comunidade Brasília Teimosa, localizada no bairro do Pina, vizinho à Boa Viagem. Em nota, a organização afirmou que a direita brasileira tentou forjar confrontos e pediu que todos os militantes evitassem provocações.
Um ato espontâneo, no entanto, foi registrado no Recife. Apoiadores do Partido dos Trabalhadores (PT) foram ao Marco Zero, no centro da capital pernambucana, demonstrar o apoio ao ex-presidente Lula e à presidenta Dilma Rousseff. Cerca de 50 pessoas estiveram no local.
* Matéria atualizada para corrigir informação. Na versão anterior havíamos informado, segundo números passados pela Polícia Militra, que 20 mil pessoas participaram da manifestação no Recife. O correto é 120 mil. O título também foi alterado