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Política

Dilma diz que lutará até o fim e acusa Temer de conspiração

Paulo Victor Chagas - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 18/04/2016 - 19:34
Brasília
Brasília - Em declaração à imprensa, a presidenta Dilma Rousseff fala sobre a aprovação da abertura do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados (Valter Campanato/Agência Brasil)

Dilma Rousseff faz declaração à imprensa um dia após a aprovação da abertura do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados Valter Campanato/Agência Brasil

A presidenta Dilma Rousseff disse hoje (18) ser “estarrecedor” o fato de o vice-presidente Michel Temer ter, segundo ela, conspirado “abertamente” contra seu governo. Um dia depois de a Câmara dos Deputados ter aprovado a abertura do impeachment, a presidenta disse que não vai se abater com a decisão, que vai continuar enfrentando o processo e que esse não é o começo do fim. “Nós estamos no início da luta.”

Segundo Dilma, não se pode chamar de impeachment  a “tentativa de eleição indireta” liderada por seus opositores. Em entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto, a presidenta disse que “nenhum governo será legítimo” se não chegar ao poder por meio do voto secreto e direto das urnas.

“Acredito que é importante reconhecer que é extremamente inusitado e estranho, mas sobretudo é estarrecedor que um vice-presidente em exercício de seu mandato conspire contra a presidente abertamente. Em nenhuma democracia do mundo uma pessoa que fizesse isso seria respeitada. A sociedade não gosta de traidores. Porque cada um de nós sabe a injustiça e a dor que se sente quando se vê a traição no ato”, disse, referindo-se a Temer.

Durante a entrevista, Dilma anunciou que ministro da Aviação Civil, Mauro Lopes (PMDB), que deixou o cargo para reassumir o mandato na Câmara e votou pelo impeachment, não faz maos parte de seu governo.

A presidenta lembrou do período em que foi torturada pela ditadura militar, e disse que o processo de impeachment será repercutido internacionalmente como “abuso do poder e descompromisso com as instituições”.

“Acredito que é muito ruim para o Brasil. E que o mundo veja que a nossa jovem democracia enfrenta um processo com essa baixa qualidade, principalmente na formação de culpa da presidenta da República”, disse.

Sobre a continuidade do processo, Dilma disse que não vai se abater nem se deixar paralisar e que vai lutar até o fim. A presidenta voltou a comparar o processo contra ela a um golpe de Estado e disse que lutará “com convicção” contra seus opositores, assim como quando enfrentou a ditadura.

“Tenho ânimo, força e coragem suficiente para enfrentar, apesar que com um sentimento de muita tristeza, essa injustiça. Comecei lutando em uma época que era muito difícil lutar, época que te torturava fisicamente e que tirava a vida de companheiros. Agora eu vivo na democracia. De certa forma, estou tendo meus sonhos torturados, os meus direitos. Não vão matar em mim a esperança, porque sei que a democracia é sempre o lado certo da história.”

Injustiçada

A presidenta começou sua apresentação aos jornalistas dizendo que se sentiu “indignada e injustiçada” com a decisão da Câmara, e ironizou as falas dos deputados pelos argumentos usados para justificar os votos. “Vi na votação vários argumentos. Geralmente pela família, por Deus, por várias outras causas”, criticou.

Dilma voltou a dizer que o governo poderá recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra o impeachment e que a repactuação proposta por ela caso o processo fosse derrubado na Câmara, ficará para depois. “Agora não se trata de modificar ministérios nem tomar alguma medida em termos de cargos. Obviamente, aquelas pessoas que votaram [pelo] impeachment, não há nenhuma justificativa política, ética, para que permaneçam no meu governo, por uma simples questão consequência dos seus próprios atos.”

Dilma disse ainda que o pedido de impeachment foi aberto por vingança do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que teve uma “hegemonia muito forte” ao conduzir o processo no plenário.

“Qualquer governo pode cometer erros, agora ressentimento propriamente dito não é justificativa para nenhum processo no Brasil. Temos de procurar um padrão de seriedade maior quando se trata da democracia.”