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Política

Manifestantes contra impeachment querem participação social para enfrentar crise

Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 06/04/2016 - 18:42
Brasília

A maioria dos entrevistados durante o protesto do dia 31 de março, na Praça da Sé, em São Paulo, é favorável à maior participação social como forma de solucionar a atual crise política brasileira. Pesquisa feita por especialistas ligados à Universidade de São Paulo (USP) e à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que 77% dos manifestantes concordam com o fortalecimento de organizações comunitárias, como ONGs e movimentos sociais, para enfrentar a crise.

Quase 89% dos entrevistados também disseram concordar total ou parcialmente com a hipótese de que as principais decisões políticas devem ser tomadas pelos próprios cidadãos, por meio de consultas populares, como os plebiscitos. Pouco menos de 10% dos que responderam à questão discordaram da proposta.

Em entrevista à Agência Brasil, o professor da USP Pablo Ortellado, um dos coordenadores da pesquisa, disse que o intuito das entrevistas era verificar se em momentos de crise os brasileiros se sentem mais atraídos pela ampliação da participação social, como forma de resgatar a legitimidade, ou por soluções extrapolíticas, como a entrega do poder a juízes ou militares. A pesquisa dá sequência a outras duas, feitas em abril e em agosto de 2015, com manifestantes favoráveis ao impeachment.

“Estamos medindo como os manifestantes dos dois campos reagem à conjuntura. Os que querem o impeachment tem uma resposta dúbia, concordando, em maior ou menor grau, com as duas soluções”, disse Ortellado, referindo-se aos resultados obtidos em 16 de agosto de 2015. Na ocasião, quase 28% dos entrevistados responderam ser favoráveis a entregar o poder para alguém que não fosse um político tradicional - mesmo percentual dos que defenderam o fortalecimento de organizações como ONGs e movimentos sociais.

Ainda entre os que defendem o impeachment, uma boa solução para a crise política seria entregar o poder para um político honesto (87% concordam total ou parcialmente). A proposição de que o poder fosse exercido por um juiz honesto (sem menção a nomes específicos) obteve 63,7% de concordância total ou parcial. Em agosto, 76% dos entrevistados concordavam que as decisões políticas importantes fossem tomadas com base na consulta popular.

“Já na manifestação do último dia 31, contrária ao impeachment, as soluções de aprofundamento democrático sobressaíram de maneira notável. Nossa hipótese é que isso se deve ao fato de as pessoas contrárias ao impeachment sentirem menos a crise de legitimidade política do atual governo e terem maior confiança nos políticos”, acrescentou Ortellado.

As respostas obtidas no dia 31 revelam que, embora contrários ao impeachment, metade dos presentes (50,8%) ao ato organizado pelo movimento Frente Brasil Popular está pouco satisfeita com o governo Dilma. Dez por cento dos entrevistados disse não estar nada satisfeito, enquanto 37,2% responderam estar muito satisfeitos.

Mídia

Mais de 85% dos entrevistados no último dia 31 disseram não confiar na imprensa. E quase 14% responderam confiar pouco.

Entre os manifestantes que apoiam o impeachment, na pesquisa de abril de 2015, 20% não confiam na imprensa e 58% confiam pouco.  Cerca de 21% disseram não confiar nos veículos de comunicação.

“A imprensa política é identificada como parte do sistema político cuja legitimidade vem sendo questionada. Logo, o aparente colapso do sistema significa também o colapso da imprensa”, disse Ortellado.

Boatos

Em comum, os dois grupos acreditam em boatos, principalmente nos que ganham espaço nas redes sociais. Entre os que pedem o impeachment, 60% acreditam que o Bolsa Família financia preguiçosos; 53% que o PCC é um braço armado do PT e 42,6% que o PT trouxe 50 mil haitianos para votar na Dilma nas últimas eleições.

Já os que foram à rua no dia 31 de março e criticam o impeachment, as crenças são de que os protestos contra a corrupção são articulados pelos Estados Unidos para se apropriar do pré-sal (56,7%) e que o juiz Sérgio Moro é filiado ao PSDB (55,7%)

“Desde as primeiras pesquisas, nos surpreendemos com o percentual de pessoas que aderem aos boatos. Voltamos a nos surpreender no último dia 31. Essa adesão independe do nível de escolaridade ou perfil de renda”, acrescentou Ortellado.

A pesquisa do dia 31 de março entrevistou 508 pessoas com mais de 16 anos. Os pesquisadores procuraram identificar o perfil e a opinião dos manifestantes e saber o grau de confiança nas instituições, as propostas para solucionar a crise e algumas das atitudes e crenças políticas. A margem de erro da pesquisa é de 4 pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%. 

 

Datafolha

Uma pesquisa feita pelo Datafolha mostra o perfil socioeconômico dos participantes dos atos ocorridos em São Paulo no mês de março. Na Avenida Paulista, no dia 13, em uma manifestação pró-impeachment, 77% dos participantes tinham ensino superior. Proporção semelhante (73%) foi encontrada na Praça da Sé, na última quinta-feira (31), em um ato em defesa do governo.

Entre a população da cidade, segundo o instituto, a média de ensino superior chega a 28%.

Com relação à renda, o perfil dos manifestantes também é semelhante. Na Praça da Sé, metade declarou ganhar de 5 a 50 salários-mínimos mensais. Na manifestação na Paulista, 61% disseram estar nessa mesma faixa de renda. Entre a população da cidade, 25% têm esse rendimento.

Fazem parte da população economicamente ativa 82% dos manifestantes de 13 de março e 81% dos do dia 21. Nos dois grupos, a ocupação principal preponderante é assalariado registrado (31% dos dois atos).

Na manifestação em defesa de Dilma, 16% declararam ser funcionários públicos – índice três vezes superior ao registrado no ato pró-impeachment (5%).

Já no ato na Paulista, 12% declararam ser empresários – índice bem superior ao registrado entre os presentes no ato da Sé (4%).

O Datafolha ouviu 1.313 pessoas na Praça da Sé no dia 31 e 2.262 na Avenida Paulista, no dia 13. A margem de erro é de dois pontos percentuais.