Temer continua a ouvir sugestões para formação de governo caso haja impeachment
O vice-presidente da República, Michel Temer, passou mais um dia em reuniões com aliados, conversas com integrantes do PMDB e de outros partidos ou recebendo sugestões para a formação de um eventual governo, caso a presidenta Dilma Rousseff seja afastada pelo Senado em maio e ele assuma a Presidência, como consequência do processo de impeachment instaurado contra ela.
Durante a tarde, Temer permaneceu por cinco horas em audiências no gabinete da Vice-Presidência, no Palácio do Planalto, e, ao final, demonstrou novamente preferir o silêncio no momento atual. "Terei de ser repetitivo. Vou esperar o Senado Federal", disse aos jornalistas, fazendo referência a duas ocasiões na semana passada, quando disse que aguardará “silenciosa e respeitosamente” a análise dos senadores sobre a admissibilidade do processo de impeachment de Dilma.
Pela manhã, porém, ele repetiu a estratégia da última sexta-feira (22), e deu entrevista à imprensa estrangeira para rebater a tese da presidenta de que o processo de impeachment é um golpe. Antes mesmo de embarcar para Nova York, Dilma passou a conceder entrevistas em que acusa Temer de participar de tramar e conspirar contra ela.
"O processo de impeachment é legal e constitucional. A visão no exterior atualmente é de que o Brasil é uma pequena república, que é capaz de um golpe. Por isso, eu digo que não há golpe, nem tentativa de violar a Constituição. Sessenta e dois por-cento da população brasileira são favoráveis ao impeachment. Então, que conspiração eu estou liderando? Eu tenho poder para convencer 367 deputados e mais da metade da população brasileira? Acho que é mais um equívoco", afirmou ao canal norte-americano CNN.
Além de deputados do PMDB, partido do qual é presidente nacional licenciado, o vice-presidente se reuniu com outros aliados, como o governador de Tocantins, Marcelo Miranda, e o ex-governador de Minas Gerais, Newton Cardoso. O peemedebista mineiro, que disse já ter se aposentado e possuir apenas "expectativa" de que "amigos" assumam, afirmou que Temer precisa estar preparado para o primeiro dia após um eventual afastamento da presidenta pelo Senado.
"Ele [Temer] disse que tem um plano muito inteligente, que vai atender a grande expectativa popular. Assim que assumir, tem na cabeça dele já muita coisa pronta. Ele está com boa expectativa, bem assessorado, se preparando para o eventual governo. E eu tenho certeza que vai dar certo", declarou Newton Cardoso aos jornalistas após o encontro.
Depois de se reunir nos últimos dias com integrantes de siglas como o PSDB (José Serra) e do PSD (Gilberto Kassab e Henrique Meireles) (LINK), hoje Temer recebeu o PV. O líder da legenda na Câmara, deputado Sarney Filho (MA), disse que "tinha a obrigação" de conversar com o vice-presidente sobre as preocupações com a questão ambiental, pois o PV foi o primeiro partido a decidir votar a favor do impeachment.
Todas as pessoas que passaram pelo gabinete de Temer afirmaram que ele não está conversando sobre ocupação de cargos nem fazendo convites. Sarney Filho, por exemplo, disse que o PV ainda não se decidiu sobre integrar formalmente um eventual governo, e negou que o "caminho natural" seja ocupar o ministério do Meio Ambiente. Ele admitiu, porém, que concorda com um apoio amplo das legendas.
"Eu já defendi isso: se formos fazer um governo de salvação nacional, acho que todos os partidos não podem se negar a colaborar. Vamos ajudar. Vamos nos incorporar, mas não tem nada que signifique isso [ocupar a pasta do Meio Ambiente]", disse Sarney Filho.
No domingo (24), Temer se reuniu com o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (PMDB), que informou ter apresentado um conjunto de propostas para resolver a situação fiscal do país sem aumentar impostos.
"Ouvindo com serenidade". Assim resumiu um dos interlocutores que esteve com Temer nesta segunda-feira. Nos próximos dias, a agenda deve continuar com o mesmo objetivo, já que ele recebe nesta terça-feira (26), pela manhã, representantes de quatro centrais sindicais: UGT, Nova Central Sindical, CSB e Força Sindical.