Após votação de denúncia, deputados se articulam para debater reformas
Um dia após a votação que rejeitou a denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara dos Deputados, parlamentares compareceram à Casa e já se articulam para retomar a agenda de votações. Além da reforma da Previdência, os deputados apostam que a reforma política deve tomar o centro da agenda nas próximas semanas.
Apesar de algumas comissões terem cancelado as atividades, a Câmara teve quórum alto para uma quinta-feira. Até o fim da manhã, 381 deputados haviam registrado presença. No Plenário e no Salão Verde, alguns parlamentares ainda repercutiram a votação de ontem.
Para o deputado Chico Alencar (Psol-RJ), da oposição, a vitória do governo é temporária e pode ser revertida com os desdobramentos da crise. “O jogo não acabou. Foi um jogo de ida, governo ganhou por uma pequena margem, mas se a mobilização popular crescer, os resultados começam a mudar”, afirmou Alencar. Na votação, 263 deputados votaram negando autorização para que o Supremo Tribunal Federal (STF) investigue Temer e 227 votaram a favor da investigação.
Segundo o líder da minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE), apesar do resultado favorável para a base governista, a oposição saiu fortalecida do processo. Para Guimarães, a base está dividida e não tem condições para aprovar reformas de peso, como a da Previdência, e a oposição continua mobilizada para impedir a aprovação das reformas. “A reforma da Previdência já está enterrada. A única reforma que vamos concentrar é a política. Vamos trabalhar para aprová-la na primeira quinzena de agosto”, disse Guimarães.
Já o líder do DEM, Efraim Filho (PB), defendeu que a Câmara retome a pauta econômica e priorize as reformas. “As condições de governabilidade são um grande desafio agora. Temos que retomar temas como a segurança pública, a reforma tributária e a agenda econômica. Construir maioria para o futuro vai depender do poder de convencimento junto à sociedade”, disse Efraim.
O líder democrata destacou que a partir de semana que vem estará na pauta a reforma política, que deve ser votada até o início de outubro para que possa valer para as próximas eleições. “Existe o prazo de 7 de outubro para que as modificações sejam feitas. A reforma é desejada, porque o atual modelo político está exaurido e esgotado, precisa ser reformulado, e temos os próximos dois meses para providenciar essas mudanças.”
Recomposição da base
O vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS),disse que o governo de Michel Temer sai fortalecido pela demonstração de "capital político" do presidente. O deputado está confiante de que as reformas serão aprovadas, pois muitos deputados, principalmente do PSDB que votaram contra o presidente, defendem a pauta reformista.
“O governo mostrou ontem que tem 285 votos. As abstenções e ausências nos ajudaram. Para chegar a 308 [quórum necessário para aprovar a reforma da Previdência] não é difícil. Não dá para ligar fortemente a votação de ontem com a Previdência”, disse.
O deputado Beto Mansur (PRB-SP), um dos responsáveis pela articulação dos votos da base governista, afirmou que vai reanalisar a lista de apoio que tinha elaborado para entender porque houve diferença entre a projeção feita pelo governo e o resultado final de ontem.
Antes da votação, era esperado pelos governistas que a rejeição da denúncia fosse aprovada com pelo menos 280 votos, quase 20 votos a mais que os 263 registrados na votação de ontem.
“Eu não diria que o governo saiu menor, mas tínhamos a previsão de 280 votos. Vou fazer uma análise mais apurada e passar para o presidente Temer. Eu vi que em alguns estados perdemos uma concentração de votos que nós tínhamos. Saímos desse processo, mas é uma base que pode aumentar e precisa aprovar reformar. Precisamos retomar e ampliar a base”, disse Mansur.
O deputado adiantou que chamou a atenção a mudança de alguns votos do PSD da Bahia, cinco votos do PMDB, partido de Michel Temer, e algumas faltas de parlamentares do PSDB que eram favoráveis a Temer, apesar de estarem em Brasília. Mansur ressaltou, no entanto, que não haverá retaliação a aqueles que mudaram de voto.
“Não é hora de retaliar ninguém. Temos é que recompor a base, até porque precisamos retomar o crescimento”, declarou.
O Supremo Tribunal Federal (STF) só deve ser notificado da decisão da Câmara na próxima semana, depois da publicação no Diário do Congresso e quando passar o prazo regimental de duas sessões plenárias.