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Liberdade de expressão é tema do Fórum Mundial de Mídia Livre, em Túnis

Um dos assuntos em debate foi o atentado ao jornal francês Charlie
Ana Cristina Campos — Enviada Especial da Agência Brasil/EBC
Publicado em 23/03/2015 - 15:32
Túnis
Fórum Mundial de Mídia Livre
© (Leandro Melito/Agência Brasil)

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Fórum Mundial de Mídia Livre

Ataque ao Charlie Hebdo foi o mote no debate sobre liberdade de expressãoLeandro Melito/Repórter do Portal EBC

Cartunistas, jornalistas e participantes da quarta edição do Fórum Mundial de Mídia Livre debateram hoje (23), na capital da Tunísia, a liberdade de expressão, tendo como mote o atentado ao jornal francês Charlie Hebdo, em janeiro, que matou 12 pessoas, das quais quatro cartunistas.

Carlos Latuff, Fórum Social de Media Livre

Deve-se  saber  a quem  ou a que o trabalho serve, diz Carlos Latuff Leandro Melito/Repórter do Portal EBC

Na opinião do chargista brasileiro Carlos Latuff, o ataque ao Charlie Hebdo, motivado pelas charges do profeta Maomé não tem como pano de fundo a liberdade de expressão, mas sim o fato de o semanário francês e outros veículos na Europa incentivarem a discriminação crescente contra o islamismo no continente. “Precisamos entender a que servem essas charges no momento em que muçulmanos e imigrantes na Europa são perseguidos. Essa discussão do contexto histórico e geopolítico não foi feita pela imprensa e pelos cartunistas.”

Para Latuff, os cartunistas devem ter bom senso e responsabilidade em seus trabalhos. “Eu não apoio a censura, mas entendo que é preciso saber a quem ou a que o trabalho está servindo. Não é questão de limite, mas de bom senso, de responsabilidade por aquilo que se faz. Quando se fazem charges ofendendo e agredindo muçulmanos, qual o objetivo, dentro de uma lógica de islamofobia na Europa em que os muçulmanos são perseguidos?”, questiona.

O jornalista Sébastien Boistel, do jornal francês Ravi, destacou que não se devem colocar limites arbitrários à liberdade de expressão. “Para nós, o que efetivamente incomodou com as caricaturas publicadas pelo Charlie Hebdo não é propriamente o conteúdo, mas de onde a caricatura vinha. Há caricaturas que vêm de jornais da direita e da extrema direita. Dar audiência a esse tipo de publicação, para nós, representa uma preocupação por retransmitir a opinião desses jornais de direita.”

Segundo Boistel, a liberdade de expressão é um direito fundamental na França, e as pessoas que se sentirem ofendidas com alguma publicação podem recorrer aos tribunais. Ele lembra que o Charlie Hebdo já foi processado diversas vezes.

O Fórum Mundial de Mídia Livre começou ontem (22) na Universidade El Manar e conta com a participação de comunicadores, blogueiros e representantes de movimentos sociais de diversos países, que discutem a liberdade de expressão e o direito à comunicação.

Para Latuff, é urgente criar alternativas de comunicação no Brasil. “Quando se tem uma mídia mais plural, tem-se o contraponto. É muito comum ver uma emissora de rádio ou de TV que não abre para o contraditório. Sinto muita falta de debates no Brasil, por exemplo. Isso tem a ver [com o fato] de as empresas de comunicação estarem nas mãos de famílias que têm seus próprios interesses.”

O Fórum Mundial de Mídia Livre é um evento paralelo ao Fórum Social Mundial, que também ocorrerá em Túnis, de amanhã (24) até sábado (28).