Polícia transfere 220 detentos de Alcaçuz para outras unidades do estado
A operação do Batalhão de Choque da Polícia Militar na tarde de hoje (18) na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, localizada na região metropolitana de Natal (RN), resultou na transferência de 220 detentos do presídio para outras unidades prisionais do estado, entre elas a Penitenciária Estadual de Parnamirim (PEP) e a Cadeia Pública Raimundo Nonato. O governo do Rio Grande do Norte ainda aguarda resposta do pedido apresentado à Justiça para a transferências de 18 detentos retirados hoje de Alcaçuz para presídios federais.
Os presos que deixaram Alcaçuz ocupavam os pavilhões 1 e 2, dominados pela facção criminosa Sindicato do RN. Os 220 homens que deixaram Alcaçuz serão substituídos por outros 230 detentos de outros presídios que supostamente não fazem parte de nenhum grupo organizado: são conhecidos como “a massa”, pela posição neutra.
“Trouxemos para Alcaçuz presos de posição neutra e acreditamos que com isso a unidade pode ficar mais tranquila.”, disse o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do RN, Caio Bezerra, em entrevista coletiva. Ele explicou que não foi possível simplesmente tirar presos de Alcaçuz, devido à dificuldade de vagas dentro do sistema carcerário do estado. “Foi necessário abrirmos essas novas vagas, com autorização da Justiça, para receber os presos que estavam amotinados em Alcaçuz.”
Fuga e confrontos
Bezerra afirmou que não houve diálogo com as facções criminosas para negociar as transferências. Segundo ele, a decisão foi estratégica, dado o risco de fuga e de novo confronto em Alcaçuz.
“Fizemos a transferência, principalmente, de presos que estavam nos pavilhões 1 e 2, porque tivemos notícias de escavações intensas de túneis que traziam risco muito grande de fugas”, explicou. Além disso, segundo o secretário, investigações da Polícia Civil do estado apontavam para um planejamento avançado de retaliação dos presos dos pavilhões 1 e 2, do Sindicato do RN, contra os presos do pavilhão 5, composto por integrantes do PCC.
Os detentos do pavilhão 5 foram os responsáveis pelo início do motim que ocorreu de sábado para domingo, resultando na morte de 26 pessoas. Questionado sobre o motivo para não fazer a transferência dos detentos do pavilhão 5, já que eles tinham iniciado a rebelião, o secretário disse que "diversos fatores” influenciaram a decisão, em especial a questão logística. O pavilhão 5 abriga mais de 500 presos e fica no fundo do complexo, enquanto os pavilhões 1 e 2 ficam próximos à entrada do presídio, facilitando a ação da polícia e evitando confrontos.
Na avliação do secretário Caio Bezerra, a operação deu certo. “A operação foi muito bem-sucedida. Não houve resistência por parte dos presos e fizemos revistas em todos os pavilhões”, disse. Durante a revista foram encontradas armas de fogo, um colete balístico e grande quantidade de armas brancas.
O secretário também informou que as forças policiais do estado estão mobilizadas para evitar retaliação das facções criminosas com ataques nas ruas.Segundo ele, o policiamento ostensivo e os trabalhos de investigação na capital foram reforçados, e a população “pode ficar tranquila”.
Alcaçuz
Desde março de 2015, quando as grades das celas do presídio de Alcaçuz foram destruídas durante uma rebelião, os detentos circulam livremente nos pavilhões do complexo, com exceção do prédio administrativo. A penitenciária comporta 620 presos, mas atualmente abriga 1.150 homens.
O clima na Penitenciária Estadual de Alcaçuz ficou mais tenso desde a madrugada do último sábado para domingo, quando detentos de facções criminosas rivais – em especial do Primeiro Comando da Capital (PCC) e da Família do Norte (FDN) – entraram em confronto, resultando na morte de 26 pessoas. O motim ocorreu no pavilhão 4 da penitenciária, quando detentos do pavilhão 5, ocupado por integrantes do PCC que são mantidos separados de membros de outras facções, escaparam e deram início ao confronto. O motim foi contido pelas forças policiais no começo da manhã de domingo.
Ainda no domingo, a Polícia Militar chegou a entrar no presídio para fazer a contagem de presos e resgatar os 26 corpos encontrados, a maior parte deles mutilados e decapitados.