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Paciente com câncer sofre com falta de medicamento no Hospital de Bonsucesso

Flávia Villela - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 24/02/2017 - 08:40
 - Atualizado em 24/02/2017 - 09:09
Rio de Janeiro

Pacientes com câncer do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) têm tido dificuldade de acesso a medicamentos e ao tratamento. Nesta semana, pacientes entraram em contato com a Agência Brasil para falar sobre a falta dos fármacos irinotecano e Fluoracil na unidade e sobre o adiamento das sessões de quimioterapia. Representantes da Defensoria Pública da União e do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) estiveram no hospital nesta semana para avaliar a situação. O problema tem sido recorrente, disse o filho de uma paciente, que preferiu não se identificar para não expor a mãe.

“No início do ano passado, faltou Oxaliplatina. Após algum tempo de tratamento incompleto, outros medicamentos foram receitados. O tratamento foi retomado, mas interrompido em novembro, o hospital ficou sem Irinotecano e Fluoracil.” Ele disse que só neste mês foram chamados para recomeçar o tratamento após uma pausa de três meses. No entanto, depois de apenas duas sessões, feitas mesmo sem a chegada do Fluoracil, o tratamento foi suspenso pela falta do Irinotecano, acrescentou.

Segundo os pacientes, reclamações são registradas na Ouvidoria do hospital, mas nunca há previsão sobre a chegada dos remédios. “Sem a quimioterapia, o câncer pode avançar, e o tumor voltar a crescer. Isso mexe com a sobrevida do paciente e com a chance de cura”, disse o filho da paciente. “Soubemos que médicos estão deixando o hospital e deduzimos que é pela dificuldade de trabalhar sem recursos. A equipe de enfermagem é muito atenciosa e gentil. O oncologista que nos atende é um profissional extremamente qualificado e dedicado. Torcemos para que não chegue a seu limite e opte por trabalhar em outro hospital que tenha melhores condições de trabalho. Os pacientes do SUS [Sistema Único de Saúde], mais uma vez, sairiam perdendo.”

Uma nova reunião foi marcada para o dia 9 de março, após o recesso de carnaval, com as unidades no Rio de Janeiro que prestam serviços de oncologia para discutir a crise no setor, e quando será dado um prazo curto para encontrarem uma solução.

“Fizemos uma pesquisa e visitamos 19 hospitais que têm oncologia, e a situação é catastrófica”, disse o presidente do Cremerj, Nelson Nahon. “O tempo de espera dos pacientes que conseguem entrar no sistema é dez meses a um ano entre o diagnóstico e o tratamento.” A lei determina que o início do tratamento de quimioterapia não ultrapasse 60 dias.

O presidente do corpo clínico, Baltazar Fernandes, informou ao Cremerj  que a crise já foi anunciada há tempos, e agora chegou ao total déficit de insumos, equipamentos e profissionais. “Nossos médicos estão adoecendo por não terem condições adequadas de atender a população”, afirmou Baltazar.

Em nota, o hospital informou que o atendimento oncológico no ano passado aumentou em quase 20%, incluindo consultas de pacientes com câncer e sessões de quimioterapia, em relação ao ano anterior. A instituição garante que nenhum serviço foi interrompido e que a unidade fez, no ano passado, mais de 11,4 mil atendimentos oncológicos, além dos de emergência aos pacientes com câncer.

Pela localização, a assessoria do hospital afirmou que pacientes da zona norte da cidade e da Baixada Fluminense têm recorrido de forma mais intensa à unidade por não encontrar atendimento em outras unidades. “A emergência do hospital está funcionando com 83% além da capacidade e, mesmo assim, atendeu a todos os pacientes”, diz a nota do HFB.

Em novembro do ano passado, a Defensoria Publica da União solicitou que a Polícia Federal abrisse inquérito para investigar a falta de medicamentos e de assistência aos pacientes com câncer da unidade.

Segundo a unidade, 40% dos pacientes na emergência são pessoas com diagnóstico ou suspeita de câncer. Entre todos os pacientes na emergência, 44% são provenientes de outras cidades, principalmente da Baixada Fluminense. 

O Ministério da Saúde informou que a rede de seis hospitais no Rio de Janeiro, além do Instituto Nacional de Câncer (Inca), está redefinindo o perfil assistencial e cirúrgico para ampliar os serviços oncológicos em todas as unidades, devido à demanda crescente da capital e decoutros municípios do estado. No ano passado, mais de 90 mil atendimentos oncológicos foram feitos nesses hospitais, 10,8 mil a mais que no ano anterior. 

Segundo o ministério, em 2016, foram repassados ao estado R$ 3,99 bilhões para atendimento de média e alta complexidade, que engloba internações e tratamento de câncer, por exemplo, e R$ 3,09 bilhões ao município, gestor pleno da saúde no Rio O estado é responsável pelo atendimento de média e alta complexidade.

Matéria atualizada às 9h 9 para acréscimo de informações.