Após incêndio, moradores de Paraisópolis querem reconstruir casas
Dois dias após o incêndio que destruiu ao menos 50 casas na comunidade de Paraisópolis, zona sul da capital paulista, parte dos moradores se prepara para voltar à área. Na região atingida pelo fogo, os terrenos foram marcados com fitas pelos moradores que querem reerguer em breve as moradias afetadas. A Secretaria Municipal de Habitação disse que vai avaliar a questão, pois a área tem grande risco de deslizamento.
Segundo o secretário municipal de Habitação, Fernando Chucre, ainda vai ser decidido o destino da área atingida pelo fogo. A previsão era que o terreno fosse usado para a construção de uma escola de música. Por isso, os ocupantes dessa parte da comunidade não estão, de acordo com ele, inseridos nas listas dos programas habitacionais da prefeitura.
“Esta área já foi desocupada há um ano e meio”, ressaltou após visitar o local, acompanhado de equipes das secretarias municipais de Assistência Social e de Direitos Humanos. O presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do governo estadual, Edson Aparecido, também esteve em Paraisópolis.
As famílias atingidas pelo incêndio receberam kits de higiene, colchões e cestas básicas como atendimento emergencial. Segundo a Secretaria Municipal de Direitos Humanos, 334 desabrigados foram alojados nas casas de parentes e amigos. Apenas 20 pessoas solicitaram abrigo em locais disponibilizados pela prefeitura.
Cadastro e auxílio-aluguel
A partir de agora, a administração municipal vai checar os cadastros para identificar quem tem direito aos benefícios como o auxílio-aluguel. “O que acontece, muitas vezes, nesses casos, é que no local do incêndio moravam 50 ou 100 famílias, e aparecem 800 para se cadastrar na expectativa de ter algum atendimento”, justificou Chucre sobre a necessidade de fazer o cruzamento de dados antes de conceder os auxílios.
Sobre a ação dos moradores para reconstruir as casas no local, o secretário disse que a questão ainda será avaliada. Ele ponderou, no entanto, que a região, uma espécie de escarpa, oferece elevado risco de deslizamentos. “A parte alta é um talude bastante íngreme, provavelmente uma área de risco 4 [nível mais alto na escala da Defesa Civil]", enfatizou.
“Era bem aqui minha casa”, disse, apontando para o chão, Vera Lúcia Teixeira, de 42 anos, sobre o lugar em que vivia. “Eu pretendo fazer o meu barraquinho de alvenaria”, acrescentou sobre a nova moradia que quer construir, exatamente no ponto em que o fogo consumiu todos os seus bens. Na hora do incêndio, ela conta que havia ido a Santo Amaro, também na zona sul, comprar um jogo de videogame para o filho de 12 anos, que tem deficiência mental.
Em outra parte da comunidade havia fila para receber colchões e cestas básicas distribuídas no Centro de Referência de Assistência Social. Do outro lado da rua, a empregada doméstica Lucicleide Melo amarrava os três colchões que havia recebido para facilitar o transporte. Atualmente, ela está morando com o cunhado de uma amiga, enquanto a avó e o filho de 14 anos, que viviam com ela, estão na casa do irmão, em Guarulhos.
Os documentos foram a única coisa que Lucicleide conseguiu salvar das chamas. “Os barracos já estavam pegando fogo e eu não estava vendo. Foi quando o vizinho gritou: 'Sai vizinha, que tá pegando fogo'. Eu peguei a bolsa e saí correndo” contou. “A gente abriu uma tampa de esgoto e começou a apagar com o próprio esgoto. A gente pegou uns baldes e começou a jogar água e esgoto”, acrescentou sobre como tentou, junto com os outros moradores, controlar o fogo.