Cratera compromete estrutura de casas construídas para abrigar ribeirinhos em PE

Residenciais construídos para abrigar vítimas das cheias ficam em área

Publicado em 29/06/2017 - 06:27 Por Sumaia Villela - Repórter da Agência Brasil - Recife

Vista aérea dos residenciais construídos para abrigar moradores desalojados na cheia de 2010

Vista aérea dos residenciais construídos para abrigar moradores desalojados na cheia de 2010. Para os ribeirinhos, as casas ficam longe da cidade, por isso preferem ficar nas áreas de riscoSumaia Villela/Agência Brasil

Os residenciais de Palmares construídos para abrigar vítimas da cheia de 2010, chamados de Quilombo I, II e III, ficam em uma área afastada da cidade, do outro lado da rodovia BR-101. Os moradores ribeirinhos, que estão em áreas de risco, criticam essa distância – um dos motivos pelos quais preferem ficar em suas próprias casas. Algumas famílias removidas, porém, já enfrentam problemas com a chuva. Pelos menos 25 moradias foram condenadas por causa de uma cratera que se abriu no morro do Quilombo II, e que avança com o tempo.

A professora da rede municipal Iranilda Araújo dos Santos, de 40 anos, morava de aluguel em um apartamento na Rua Frei Caneca em 2010. A água invadiu a residência, e a família perdeu tudo. O imóvel próprio foi recebido em 2014. Apesar de longe, ela acredita que tomaram a decisão certa. “Não me arrependi. Sobre o transporte, não acho que é tão difícil. Ônibus é de meia em meia hora. Aqui tem supermercado, tem tudo. Eu trabalho no centro e desço com minha criança. Distante, é. Mas se eu tivesse botado isso na minha cabeça eu teria perdido tudo novamente.”

Cratera ao lado das casas dadas às vítimas da cheia de 2010

Cratera ao lado das casas dadas às vítimas da cheia de 2010 Sumaia Villela/Agência Brasil

Os vizinhos da frente de sua casa, porém, não se livraram dos problemas com a chuva. Mais de uma dezena de imóveis foram condenados depois que uma cratera se abriu no fim da rua. Hoje só restaram os esqueletos das residências (portas, janelas e demais itens foram furtados depois da desocupação das casas), onde ainda é possível ver as fissuras na fundação e nas paredes, motivo da condenação da construção. Iranilda conta que o problema era previsível desde a entrega das casas, em 2014. “Quando vim fazer a vistoria da minha [casa], a gente falou logo do calçamento, que estava quebrado. Se eles tivessem tomado providência não tinha acontecido isso.”

Os moradores foram transferidos para outras casas que ainda estavam vagas. Outras pessoas que vivem ao lado da área condenada, no entanto, ainda aguardam um desfecho, com medo do avanço da cratera. A família de José Reinaldo de Oliveira Silva Gomes, 19 anos, é uma das afetadas. Segundo Reinaldo, vários engenheiros já foram até lá para saber se a residência deveria ser interditada. A última notícia foi de que não havia risco.

“Como a casa está toda rachada, a barreira não tem nem 200 metros daqui para lá, tá caindo, e não tem nenhum problema”, questiona. “A gente não dorme direito, acorda de madrugada. Com essa chuva, minha esposa pensou que ia desabar tudo”, conta Reinaldo. Eles anseiam por sair do local.

Ação judicial

Os residenciais foram construídos por meio de financiamento da Caixa Econômica Federal. Em resposta às casas condenadas no Quilombo III por causa da cratera, o banco informou, em nota, que 25 residências foram afetadas, embora tenham sido “construídas a uma distância adequada da encosta”. “Foi ajuizada medida cautelar que visa à realização de perícia no residencial para apurar responsabilidades e sanar os vícios de construção. A Defesa Civil está avaliando a situação das casas próximo à cratera”, diz o texto.

O número de casas é diferente do contabilizado pela prefeitura de Palmares, que relata ainda danos estruturais em outros imóveis que ficam distantes da cratera. São 60 imóveis mapeados pelo município: 29 em área de risco, condenados; e outros 31 que também apresentaram problemas estruturais, embora não sejam afetados pela erosão. De acordo com o secretário de Habitação do município, Alberto Porto, tudo foi fotografado e enviado à Caixa.

Além disso, Porto contabiliza 100 moradias que nunca foram ocupadas, e a estimativa de casas que foram entregues e depois alugadas irregularmente por seus proprietários chega a 30%. Par evitar que beneficiados em 2010 ou em outro programa habitacional recebam um novo imóvel no futuro, o secretário afirma que o cadastro será feito não só pelo nome, mas também pelo endereço da pessoa, evitando que outro membro da família moradora da mesma casa passe despercebido. Os donos das propriedades em áreas de risco que continuam alugando os imóveis também são uma preocupação da prefeitura.

Veja mais detalhes do assunto no especial da Agência Brasil Vidas Inundadas.

Edição: Talita Cavalcante

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