Líderes comunitários dizem que Exército na rua não resolve problema da violência

Publicado em 31/07/2017 - 23:21 Por Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

O reforço das Forças Armadas à segurança pública no estado do Rio não representa, necessariamente, solução para os problemas das comunidades pobres, que passa por mais investimentos econômicos e sociais. A opinião é de líderes comunitários que participaram, nesta segunda-feira (31), de audiência pública sobre o atual cenário da política de segurança e sua compatibilização com a proteção dos cidadãos, promovida pelo Ministério Público.

“Isso não resolve o nosso problema. Não é o que a comunidade e a sociedade querem. Queremos o respeito de ir e vir. O Exército na rua não vai adiantar nada. Só vai aumentar a violência. As crianças vão pensar que estão morando no Vietnã. O governo falou que ia botar o social, o emprego, a cultura e o esporte, mas só botou polícia dentro da comunidade. É só tiro, porrada e bomba”, reclamou Marquinho Balão, presidente da Associação de Moradores da Grota, no Complexo do Alemão.

Também para o presidente da Associação de Moradores da Mangueira, Washington Fortunato, não é a presença de militares nas favelas que vai solucionar problemas de segurança pública. Segundo ele, a solução passa pelo maior diálogo com a comunidade.

“O que resolveria no Complexo da Mangueira é investimento no social. Estamos vivendo uma guerra civil. O Poder Público está tirando o nosso direito de ir e vir. A militarização não é a solução. Não vejo isso com Exército, com Força Nacional. Vejo solução no diálogo com as comunidades. Hoje nós precisamos é das obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], de habitação e saneamento, que não vêm”, disse Washington.

A presidente da Associação de Moradores da Comunidade Faz Quem Quer, em Rocha Miranda, Luciane Costa dos Santos, disse que o objetivo dos moradores não é receber contingentes de militares, mas sim investimentos sociais.

“A gente quer cursos profissionalizantes para nossos jovens e adolescentes, porque aí teríamos como ocupar o tempo deles. A gente não sofre a violência bruta, mas sim a violência do abandono e do descaso do Poder Público. Precisamos é de projetos sociais. Conhecemos um a um na comunidade e podemos trazer os jovens para eles”, disse Luciane.

Polícia Militar

O porta-voz da Polícia Militar, major Ivan Blaz, destacou a importância de haver espaços de diálogo entre polícias e lideranças comunitárias, como na audiência pública promovida pelo MP, mas ressaltou que a política de polícia de proximidade, por meio das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não pode ser descontinuada.

“A solução é complexa, mas é preciso falar sobre entrada de armas no estado e do acesso dos jovens a esse armamento. Precisamos de políticas públicas que atinjam a faixa etária de 14 a 22 anos. Polícia de proximidade não deve jamais ser abandonada. É o que todos queremos, uma polícia cidadã. Enquanto projeto, as UPPs precisam ser revisadas, carecem de investimentos, mas, de forma alguma, podem ser vilanizadas. A essência do projeto está correta”, disse Blaz.

Para a promotora Andrea Amin, integrante do Grupo de Atuação Especial em Segurança Pública (Gaesp), que mediou a audiência pública, é possível diminuir a letalidade das ações policiais. Ela disse que o MP estará atento a eventuais excessos cometidos durante as operações federais, reportando os desvios ao Ministério Público Militar (MPM), que é a instância apropriada.

“Eu não vejo a militarização como uma solução única. A questão é complexa. É um apoio que foi dada à Secretaria Estadual de Segurança e na verdade é uma aplicação do Plano Nacional de Segurança. Vamos jogar um olhar especial sobre operações de quaisquer forças policiais. Se houver necessidade, vamos entrar em contato com o Ministério Público Militar, porque há forças militares [envolvidas]”, disse a promotora.

Edição: Fábio Massalli

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