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Museu Nacional: resgate e doações ajudam a recompor acervo científico

Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 02/09/2019 - 06:21
Rio de Janeiro

Um ano após o incêndio que destruiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no dia 2 de setembro de 2018, algumas boas notícias animam os pesquisadores da instituição. Uma das coordenadoras do trabalho de resgate de peças nos escombros, a professora Luciana Carvalho detalha que foram recuperadas peças importantes para a pesquisa, como esqueletos humanos, inclusive fragmentos do icônico crânio da Luzia, o mais antigo fóssil encontrado no continente americano.

A pesquisadora Luciana Carvalho fala durante apresentação de peças resgatadas dos escombros do Museu Nacional e pertencentes a coleção egípcia da instituição em evento no Observatório Nacional, em São Cristóvão, na zona norte do Rio.
Pesquisadora Luciana Carvalho Arquivo/Tomaz Silva/Agência Brasil

Ela cita também a recuperação de paleovertebrados e peças que contribuíram para descrever novas espécies, chamados de holótipos.

“Estamos atuando agora nos esqueletos humanos, que resistem bem ao calor. Nós resgatamos materiais da nossa coleção de paleovertebrados, não só os dinossauros, mas também de diversos mamíferos e os holótipos desses vertebrados. Assim como também toda a coleção de holótipos da paleontologia de invertebrados, que estava em um armário que, pela localização, não foi tombado nem destruído. Isso é uma notícia maravilhosa”.

O diretor do museu, Alexander Kellner, informou que várias doações importantes para recompor o acervo científico e de pesquisa já foram prometidas e entregues.

“Na entomologia nós tivemos 20 doações que dariam mais ou menos 23 mil itens, foi certamente uma das áreas que mais sofreu. Em vertebrados, foram mais de 500 espécimes de diversas áreas do Brasil que foram doados. Na geologia e paleontologia, nós tivemos bens apreendidos pela Receita Federal que foram destinados ao Museu Nacional. Eu faço um apelo público para que isso continue assim: se tiver bens apreendidos, que sejam revertidos para a instituição Museu Nacional”.

Kellner destaca que a Biblioteca Francisca Keller, do Programa de Pós-Graduação em  Antropologia Social, que tinha 37 mil documentos e livros e foi totalmente incinerada, já está sendo recomposta.

“A Biblioteca Francisca Keller tem mais ou menos 10.500 volumes que já foram doados, já foram recebidos, e outros 8 mil a caminho. Desses aí, só o que a gente vai receber da França são aproximadamente 700 quilos. E também tivemos na Biblioteca Central a doação de vários outros livros, mais de 170 quilos”.

Ele cita também a verba disponibilizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), de R$2,5 milhões para a pesquisa de pós-graduação do museu, e as bolsas da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), no valor de R$3 mil reais por mês para 72 pesquisadores pelo período de um ano.

“Pode não parecer muito, mas é essa verba que faz com que você consiga respirar. Faz com que o professor possa fazer uma atividade de campo, que possa levar o estudante para algum local, inclusive para coletar material”.

A reitora nomeada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de Carvalho fala durante evento em comemoração aos 201 anos do Museu Nacional na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.
Denise Pires de Carvalho, reitora da UFRJ Arquivo/Agência Brasil

A reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, destaca que o trabalho científico desenvolvido pelo Museu Nacional é um dos destaques que faz da UFRJ uma das principais universidades do país e da América Latina, com pelo menos cinco áreas entre as cem melhores do mundo.

“Dentre essas cinco áreas, duas estão no Museu Nacional: a arqueologia e a antropologia. O Museu Nacional é muito mais do que a área de exposições. Havia no palácio vários laboratórios de pesquisa, funcionava lá curso de pós-graduação, projeto de extensão, envolvimento de estudantes da graduação das diferentes áreas da universidade, através dos programas de iniciação científica”.

Ela destacou que em 2020 será construído o Campus da Cavalariça, em uma área fora da Quinta da Boa Vista, doada pela União, que vai abrigar os laboratórios perdidos e a parte administrativa do Museu Nacional. A licitação para a elaboração dos projetos das primeiras intervenções, que serão o cercamento e a infraestrutura básica do local, já está em andamento.

Denise adiantou que estão reservados para a obra R$ 30 milhões, parte do total de R$ 43 milhões destinados pela bancada de deputados federais do Rio de Janeiro por meio de uma emenda impositiva. O valor total da emenda havia sido de R$ 55 milhões, mas uma parte foi contingenciada. Segundo a reitora, essa verba já está à disposição da universidade.

 

Linha do tempo de reparos no Museu Nacional
Linha do tempo de reparos no Museu Nacional - Arte EBC

A reitora, o diretor do Museu e a arqueóloga participaram de uma entrevista coletiva à imprensa na quarta-feira (28), para falar sobre o andamento dos trabalhos de recuperação da instituição.

Assista na TV Brasil: um passeio pelo Museu Nacional do Rio, relembre.

Matéria alterada às 18h38 do dia 06/09/2019 para corrigir informação no primeiro parágrafo. O incêndio no Museu Nacional aconteceu no dia 2 de setembro de 2018, e não de 2008, como foi informado inicialmente