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Educação

Dizem as Fontes conta como o jornalismo pode dar voz a quem não tem

O podcast entrevista a jovem Fernanda Lima e a veterana Mara Régia
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Mariana Tokarnia e Akemi Nitahara
14/02/2025 - 07:00
Rio de Janeiro
Podcast Dizem as fontes, episódio 3 o público
© Arte EBC

No terceiro episódio do podcast Dizem as fontes, o tema é o público. Vamos discutir a prática jornalística, mais especificamente, uma função do jornalismo que, de tão óbvia, acaba passando desapercebida, que é servir à população. Divulgar informações de interesse público. Isso significa que o público, seja ele de determinada região, do país inteiro, internacional ou de determinado segmento, é sempre o objetivo final do jornalismo.

E, para falar sobre este tema, nada melhor que começar ouvindo a Mara Régia, jornalista que há mais de 40 anos comanda, entre outros programas, o Viva Maria, na Rádio Nacional. Trata-se de um programa sobre mulheres, voltado principalmente para mulheres na Amazônia.

Em uma região onde a comunicação é um desafio, o sinal do rádio consegue romper barreiras tecnológicas e acessar regiões de apagões ou desertos de notícias, ou seja, sem acesso à imprensa e à mídia. E foi assim que a voz de Mara se tornou conhecida, sobretudo na Região Norte.

"A gente tem um privilégio, né? A Rádio Nacional da Amazônia, ela tem um canhão de voz voltada para os nove estados da Amazônia Legal, né, pega até uma parte do Maranhão. Tem também uma rede que reproduz a nossa programação para mais de quatro mil emissoras em todo o país. Nós temos um potencial pela rádio de 17 milhões de pessoas para serem atingidas, e isso nos dá não só uma presença constante na vida das pessoas, que precisam inclusive do rádio para se orientar. 

Já saindo da Amazônia e indo para a segunda maior cidade do Brasil, o Rio de Janeiro, está Fernanda Lima, que está à frente do Voz de Guadalupe: "A gente faz jornalismo nas favelas do Rio de Janeiro. É uma página que eu criei onde eu cresci, no Complexo do Chapadão. Eu também faço matérias lá por conta própria, com a minha página, que hoje também tem parceria com a RJTV. Essa é a área que eu tenho mais experiência, do jornalismo comunitário."

O foco da cobertura de Fernanda é a favela, mas não aquela que sai nos grandes veículos ou apenas aquela que aparece quando acontece algum episódio de violência.

"É muito diferente o jornalismo na comunidade, o jornalismo que a gente vê nas grandes mídias, porque, infelizmente, né, as emissoras, muitas vezes, não conseguem pegar todo o território, porque o Rio de Janeiro é muito grande, Brasil, falando no geral, e tem áreas, especificamente, principalmente nas favelas, que tem um território que a gente sabe que é de violência. Então, realmente, as emissoras têm, muitas vezes, medo de entrar nessas favelas e não conseguem fazer um jornalismo ali."

Este é o podcast Dizem as Fontes, uma parceria entre a Radioagência Nacional e a Agência Brasil. Este projeto começou na academia, fruto do mestrado profissional de Mariana Tokarnia, na área de mídias criativas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ.

 Na Radioagência Nacional, também estão disponíveis podcasts sobre Doenças Raras - Histórias Raras e sobre o Programa Nacional de Imunizações, o PNI - Sala de Vacina. Todos os capítulos estão disponíveis nos tocadores de áudio e no site da Radioagência Nacional, um serviço público de mídia da EBC

PODCAST DIZEM AS FONTES - Episódio 3 – O público

VINHETA: Dizem as fontes - jornalismo e educação midiática

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PODCAST DIZEM AS FONTESEpisódio 3 – O público

VINHETA: Dizem as fontes - jornalismo e educação midiática

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EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

MARA: Agora vamos, agora para valer, tchan tchan tchan, quando são dez horas, vinte e cinco minutos. Atenção, atenção, vai começar nossa programação. Vamos nessa.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

MARIANA: Esta é Mara Régia, jornalista que há mais de 40 anos comanda, entre outros programas, o Viva Maria, na Rádio Nacional. Trata-se de um programa sobre mulheres, voltado principalmente para mulheres e, especialmente, mulheres na Amazônia. E é para a Amazônia que Mara empresta a voz há anos.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

MARA: Como muita gente já sabe, eu sou Mara Régia, carrego essa flor símbolo da Amazônia no nome. Acho que isso sempre foi uma premonição por parte de minha mãe, né, porque eu não tinha um porquê colocar essa régia no meu nome (risos). Isso facilita muito a minha vida na Amazônia, né?

ÁUDIO VIVA MARIA: Viva Maria produção e apresentação, Mara Régia. Oi, oi, mulheres do mundo e marias do meu Brasil. O grande dia chegou com direito a duas edições do nosso programa neste oito de março.

MARA: Como diria Gonzaguinha na música, quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda que aqui quem fala é uma rádio apaixonada. Navego os rios da Amazônia nas ondas da Rádio Nacional há mais de 40 anos, não é pouca coisa (risos). Ai, olha, aqui é a voz de uma mulher, ai, como eu gosto de ser mulher, e venho aprendendo ao longo da vida o que é ser feminina, como canta Joyce, né? Eu sou branca, tenho cabelos castanhos, os cabelos e os olhos, muito embora de vez em quando amendoados, esverdeados, sei lá, depende também do óculos (risos). Absolutamente necessários, né, nessa idade onde a gente não escapa

inclusive das cataratas da vida, né? (risos) Pois é, e olha, gosto muito de vestir o verde da floresta e o preto também para os momentos de luto e de luta. Sou feminista, graças a Deus.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

MARA: Sem dúvida, é um marco divisor da minha vida e é a minha vida, né? Porque primeiro trabalhar com mulheres, que é uma coisa muito interessante sob todos os pontos de vista, né? Ajudá-las, inclusive dentro da comunicação, a consolidarem espaços, né? A terem ali um direito à voz, a serem inclusive as garotas do calendário, não sei se você chegou a ver. Na comemoração dos 40 anos do Viva Maria, a gente elegeu as mulheres que tiveram suas vidas transformadas a partir do programa. Então, da parteira Zenaide, no Acre, passando pelas vítimas de escalpelamento no Amapá e indo até, a agora ministra Vera Lúcia, ativista do movimento negro unificado que pilotou muitas vezes os microfones da Nacional, porque nos momentos onde a gente precisava discutir a música do Luiz Caldas, que era Fricote, “nega do cabelo duro, que não gosta de pentear”, a gente convocava o movimento e cedia os microfones para esse debate, inclusive com o próprio Luiz Caldas. E daí a gente fez esse calendário, justamente para registro dessas histórias, dessas mulheres e meninas. Tem também a Izabele Maciel, que fez uma tese de finalização de curso a partir do Viva Maria, né. Então, lá estão Dona Raimunda dos Cocos, que é uma referência eterna na vida do extrativismo brasileiro, ela foi a primeira Secretária da Mulher no Conselho Nacional das Populações Extrativistas. Foi com ela que nós fomos para a China, lá em Beijing, em 95. Então, muita história para contar.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

MARIANA: Nada melhor do que alguém com muita história para contar para este episódio. Aqui, vamos discutir a prática jornalística, mais especificamente, uma função do jornalismo que, de tão óbvia, acaba passando desapercebida, que é servir à população. Divulgar informações de interesse público. Isso significa que o público, seja ele um público de determinada região, do país inteiro, internacional ou de determinado segmento, é sempre o objetivo final do jornalismo.

ÁUDIO VIVA MARIA: Saudações cidadãs a toda a audiência desse nosso programa, porque nós estamos às vésperas do histórico 24 de fevereiro. Essa é a data que celebra a conquista do voto feminino no Brasil e Viva Maria faz questão de destacar a violência de gênero na política, quanto mais não seja, porque 2024 é ano de eleições.

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MARIANA: Mara Régia participou, nos anos 70, da criação da Rádio Nacional da Amazônia. A ideia era ter uma rádio, como ela mesma explica, não que falasse do centro do país para a Amazônia, mas que falasse da Amazônia para o centro do país. Vale lembrar que, nessa época, o Brasil vivia uma ditadura militar.

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MARIANA: Em uma região onde a comunicação é um desafio, o sinal do rádio consegue romper barreiras tecnológicas e acessar regiões de apagões ou desertos de notícias, ou seja, sem acesso à imprensa e à mídia. E foi assim que a voz de Mara se tornou conhecida, sobretudo na Região Norte.

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MARA: A gente tem um privilégio, né? A Rádio Nacional da Amazônia, ela tem um canhão de voz voltada para os nove estados da Amazônia Legal, né, pega até uma parte do Maranhão. Tem também uma rede que reproduz a nossa programação para mais de 4 mil emissoras em todo o país. Nós temos um potencial pela rádio de 17 milhões de pessoas, né, para serem atingidas e isso nos dá, não só uma presença constante, né, na vida das pessoas, que precisam inclusive do rádio para se orientar. Lá em Riozinho do Anfrizio, por exemplo, o seu Régis costuma dizer, “ah, o rádio para nós aqui é bússola e calendário”, porque é o único meio que eles têm de saber até o ano que eles estão vivendo, a hora que eles estão tendo, enfim, a comunicação do rádio é a vida nesses rincões, nesse Brasil profundo, que se não fosse o rádio seria um continente apartado.

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MARA: O rádio, por ter essa capacidade de universalizar as mensagens, de ser democrático, todo mundo tem e não importa onde você esteja, eu já tive gente me ouvindo até na hora que lava louça lá no Igarapé, o rádio cai, aí diz a Maria do Boiadeiro, “ah, Mara Regi, já te salvei tantas vezes das águas, quando tu cai lá eu pego o rádio de volta”. Então, são histórias assim, absolutas, maravilhosas, que valem a vida.

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MARA: Como se trata de uma rádio que pretende falar da Região Norte, nada mais natural que as pautas sejam também dali. Para conquistar os ouvintes, Mara destaca que é preciso estar sempre presente, ter constância na cobertura e não apenas publicar uma notícia e não acompanhar os desdobramentos dela.

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MARA: No meu caso, eu sempre recebo cartas com denúncias, seja no campo ambiental, seja no campo da sexualidade, mulheres que estão vivendo violência doméstica, principalmente. Hoje, muitas dessas histórias chegam via WhatsApp, não é? E uma coisa que faz toda a diferença é o fato de eu estar há tanto tempo, né, em um único lugar, né? Estou na Rádio Nacional da Amazônia há mais de 40 anos e isso me dá a possibilidade de ter esse pertencimento natural, porque eu estou na casa dessas pessoas diariamente, né, então não é pouca coisa. E aí nasce o filho, casa o mais velho, enfim, você participa da vida, isso facilita muito, né. Agora, existem casos onde a pessoa, por medo, é relutante, né? Então, o caso das denúncias mais sérias que envolvem, inclusive, corrupção na prefeitura ou qualquer outra coisa, e aí é que entra essa bagagem, né, o fato de você ter esse compromisso selado com a sua voz e toda uma credibilidade que te dá, digamos, confiança para você poder fazer uma abordagem. Então, feito esse elo, né, você consegue tirar coisas, ouvir coisas e até gravar coisas que de uma outra forma não seria possível, né. Porque não é um quebra-queixo que você faz ali e acolá as pessoas, o que você está achando dessas sonoras tão superficiais? Uma coisa que sempre se aprofunda, né, a partir do processo, porque eu gosto de cobrir processos, eu não gosto de fazer à instantaneidade. Na Amazônia isso acontece muito, né o pessoal gosta do escândalo, as matérias tem todo aquele aparato, aquela panaceia, é a espetacularização da notícia o tempo todo. Aí acaba ali, você faz aquele murundu, vai embora e a pessoa que ficou, fica em maus lençóis, né. Então, uma coisa que eu sempre procuro fazer é atestar o meu compromisso de continuar com essas pessoas, a ponto de elas plantarem uma semente e quando eu volto lá, elas dizem, “vem conhecer a Mara Régia”, quando eu vou ver é o nome que elas deram para a árvore, que elas plantaram com aquela semente que eu dei. Então você planta o coração das pessoas e acho que nessa dimensão o rádio é o único na comunicação. Isso na televisão seria quase impossível, você não consegue ter esse nível de intimidade, porque o olho é devastador, né. Então o ouvido é o sentido mais profundo, é o que faz do rádio esse veículo companheiro, tanta gente diz, “é o meu companheiro, é o meu amigo”, você não diz isso da televisão nunca, reparou? Então faz toda a diferença. E eu quero sempre, enquanto tiver voz e vez (risos), me manter fiel a essa maravilha que é esse nível das ondas hertzianas.

ÁUDIO VIVA MARIA: Viva Maria, produção e apresentação Mara Régia

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MARIANA: Saindo da Amazônia e indo para a segunda maior cidade do Brasil, o Rio de Janeiro, está Fernanda Lima, ao contrário de Mara, Fernanda está iniciando na profissão, apesar de já estar trabalhando, ela está ainda na universidade.

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FERNANDA: Meu nome é Fernanda Lima, eu sou jornalista do Voz de Guadalupe e que a gente fala sobre, a gente faz jornalismo nas favelas do Rio de Janeiro, é uma página que eu criei, né, onde eu cresci, no Complexo do Chapadão, eu também faço matérias lá por conta própria, com a minha página que hoje também tem parceria com a RJTV. Essa é a área que eu tenho mais experiência, né, do jornalismo comunitário.

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FERNANDA: Minha aparência, eu sou negra, de cabelo cacheado, olhos castanhos, pequena, 1,52 metros, tenho 25 anos.

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MARIANA: O Rio de Janeiro é uma cidade com mais de 6 milhões de habitantes. Segundo os últimos dados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cerca de um quinto dessa população vive em áreas de favela. As favelas compõem o ambiente urbano e são parte importante da cidade. O Voz das Comunidades é um veículo que foi criado por René Silva dos Santos, quando ele tinha apenas 11 anos. Na época, ele queria fazer parte de um jornal da escola onde estudava, só que tinha um problema, só participavam do jornal os alunos mais velhos. Ele não apenas conseguiu participar, como acabou criando o próprio jornal, o Voz da Comunidade. Ele queria extrapolar a cobertura do que acontecia dentro da escola e percebeu que a própria comunidade também merecia atenção. O jornal teve repercussão internacional e um grande boom em 2010. Desde então, ampliou a cobertura para outras comunidades do Rio, tornando-se o Voz das Comunidades. Ampliou também a atuação, tornando-se uma organização não governamental. Baseada nesse exemplo de jornalismo comunitário, Fernanda criou a página Voz de Guadalupe, com foco específico em Guadalupe, bairro localizado na zona norte da cidade onde vive. Fernanda também tem uma parceria com a RJTV, da TV Globo. O público foi o motivo principal pelo qual Fernanda buscou o jornalismo.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶 

FERNANDA: Olha, eu entrei na faculdade, né, em 2018, eu estudo na Unicarioca. Eu nunca sei explicar assim como é que eu virei jornalista, né? Porque é engraçado, eu entrei na faculdade para fazer publicidade, pelo Prouni eu consegui uma bolsa e o pessoal da faculdade falou “olha, a gente não tem vaga para publicidade, você fica no jornalismo, que é a mesma matéria, quando for no segundo semestre você troca”. Só que no primeiro semestre eu já me apaixonei e aí nunca mais troquei. Logo no meu primeiro período eu já criei a página que é a Voz de Guadalupe e aí logo no meu primeiro período eu já consegui parceria com a RJTV. Então assim, minha experiência foi mais na prática. Eu não sabia o que era jornalismo, você no primeiro período estava ali fazendo jornalismo, você não sabia o que estava fazendo, muito. Mas a minha intenção antes mesmo de fazer a faculdade, eu sempre fui uma pessoa atuante na minha favela, no Chapadão, então eu já participava de ações sociais, tentava ajudar a população lá de alguma forma. Então o que eu faço basicamente na minha comunidade é comunicar em um veículo de comunicação que ajuda a favela com problemas sociais, seja buraco, falta de luz. Então eu comecei resolvendo os problemas da minha favela. Então quando a pessoa pergunta como eu virei jornalista, foi por causa da minha favela, porque eu via muitas coisas que não funcionavam ali. Eu pensei, pô, como que eu posso mudar isso daqui? Então, eu digo que eu não escolhi o jornalismo, o jornalismo acabou me escolhendo. Porque eu sempre fui uma pessoa crítica, e ver as coisas sem achar muito normal, diferente de pessoas que acabam vivendo aquilo dali no dia a dia, acaba achando normal, e eu nunca achei normal as coisas, sempre buscava entender, “ah, por que isso daqui não funciona”, quais são os nossos direitos, sabe? Onde eu moro nem ônibus tem, como que o estudante, né, vai para a escola se não passa ônibus? Então foi essas questões que eu fui pensando, me questionando, e falei, não, isso daqui tem que mudar. Foi onde que eu vi no jornalismo uma forma de poder ajudar a população naquela área periférica.

ÁUDIO VOZ DE GUADALUPE: Olá, me chamo Fernanda Lima, sou do Voz do Guadalupe, e hoje estou em uma das vias mais movimentadas do Rio de Janeiro, que é a Vila da Brasil, aqui em Guadalupe, na Passarela 28. Os moradores relatam o mal estado das passarelas e pedem por passarelas novas. Eu acho que isso aqui um absurdo.

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MARIANA: O foco da cobertura de Fernanda é a favela, mas não aquela que sai nos grandes veículos, ou apenas aquela que aparece quando acontece algum episódio de violência. É claro que essa é uma questão, mas não é apenas isso que ocorre nesses territórios.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

MARIANA: Aqui vale também explicar o que é jornalismo comunitário. Jornalismo comunitário é aquele que é voltado para um bairro, para uma comunidade específica. Uma das características é a proximidade dos jornalistas com os moradores. Ele também é voltado para a prestação de serviços e para questões bem particulares desse grupo de pessoas. É diferente de um veículo de abrangência local, voltado para toda uma cidade; ou nacional, com notícias de todo o país.

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FERNANDA: Isso, assim, é muito diferente o jornalismo na comunidade, o jornalismo que a gente vê nas grandes mídias, porque, infelizmente, né, as emissoras, muitas vezes, não conseguem pegar todo o território, né, que Rio de Janeiro é muito grande, Brasil, falando no geral, e tem áreas, especificamente, principalmente nas favelas, que tem um território que a gente sabe que é de violência. Então, realmente, as emissoras têm, muitas vezes, medo de entrar nessas favelas e não conseguem fazer um jornalismo ali. Então, a maioria das reportagens que saem no jornal é quando o circo pega fogo, que está dando tiroteio, que tem algum confronto, aí eles fazem a reportagem. Agora, de problemas sociais, buraco, é o que eu mais vejo, que os moradores me pedem. Pauta, sei lá, de cultura na favela, pelo menos na minha favela, do Chapadão, se você pesquisar no Google, não tem. Se você botar Chapadão, só tem violência.

ÁUDIO VOZ DAS COMUNIDADES: Bom dia, esse buraco aí está causando acidente. O rapaz passou de moto aqui, bateu no muro, acabou se machucando. Caiu com a moto aí, tivemos que chamar até ambulância. Olha o buraco aí. Alguém toma providência.

FERNANDA: A gente pega muita pauta sobre favela, um empreendedor da favela, uma atleta que saiu da favela, que muita gente não mostra. Então a gente tenta dar voz para as pessoas de favela que sabem que não têm voz.

ÁUDIO RIO PARADA FUNK: Olá, eu sou a MC Marie. Se você não me conhece, você vai conhecer. Olha, gente, só deu funk hoje no Sambódromo. O Rio Parada Funk reuniu MCs de todas as gerações num grande baile.

FERNANDA: Teve a Parada Rio Funk. Eu fiz uma cobertura do funk, então para mim foi muito importante. O Rio Parada Funk reúne, acontece todo ano, né? Na Apoteose, né. Então vai pessoas tanto do Rio de Janeiro quanto de fora, muitos MCs. Então mostra um pouco da cultura do Rio de Janeiro. Funk, então essa cobertura eu gostei bastante.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

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MARIANA: Para o futuro, Fernanda quer se formar e seguir no jornalismo comunitário.

FERNANDA: Se Deus quiser eu vou terminar esse ano. Glória a Deus. O jornalismo comunitário é o que diz sobre mim, assim. Eu comecei sozinha, na minha comunidade, no Chapadão. Comecei com a minha página e eu falei eu não sei como fazer, mas eu vou fazer. Então, a minha dica que eu dou hoje para qualquer pessoa: começa de onde você está, o que você tem. Comecei com o meu celular, sem equipamento, sem nada. E a Globo me chamou para fazer a parceria com o RJTV, para eu saber que o território que eu vivo, o Chapadão, é um território que não é falado. Não tem jornalismo lá, não tem pessoas de liderança, lá não tem. Então, basicamente ficou o Chapadão na minha mão e a minha missão hoje, o meu sonho, é poder dar mais voz para o meu território. Estou estudando mais esse ano, quero me dedicar mais, fazer mais matérias lá, levar pro RJTV e montar a minha equipe. O meu sonho é ter o meu jornal, montar a minha equipe e é isso, poder dar voz para quem não tem voz.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

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MARIANA: Este é o Dizem as Fontes, o podcast que discute o papel do jornalista na educação midiática e como a educação midiática pode contribuir com o próprio jornalismo.

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MARIANA: Eu sou Mariana Tokarnia, repórter da Agência Brasil. O projeto Dizem as Fontes é fruto do meu mestrado profissional em Mídias Criativas na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, com orientação de Inês Maciel. Eu fiz a reportagem, entrevistas, roteiro, apresentação e montagem desse podcast.

Akemi Nitahara complementou a edição, sonorização e adaptação.

Tâmara Freire gravou a vinheta e os títulos dos episódios. 

Implementação web de Lincoln Araújo e Beatriz Arcoverde, que também faz a coordenação de processos. 

Utilizamos na trilha sonora a composição Informalidade, de Ricardo Vilas. 

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MARIANA: Este episódio usou áudios da Rádio Nacional, Voz das Comunidades, Voz de Guadalupe e do Instagram do Rio Parada Funk.

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MARIANA: Na Radioagência Nacional, também estão disponíveis podcasts sobre Doenças Raras e sobre o Programa Nacional de Imunizações, o PNI. Todos os capítulos estão disponíveis nos tocadores de áudio e no site da Radioagência Nacional, um serviço público de mídia da EBC. No próximo episódio, vamos falar da investigação no jornalismo. 

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Em breve
 
 

Reportagem, entrevistas, roteiro, apresentação e montagem

Mariana Tokarnia
Edição, sonorização e adaptação Akemi Nitahara 
Coordenação de processos

Beatriz Arcoverde

Identidade visual e design:

Caroline Ramos

Interpretação em Libras: Equipe EBC
Implementação na Web:

Lincoln Araújo e Beatriz Arcoverde

Trilha Ricardo Vilas
Locução da vinheta e títulos dos episódios Tâmara Freire
Áudios Rádio Nacional, Voz das Comunidades, Voz de Guadalupe e do Instagram do Rio Parada Funk

 

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