Em vídeo divulgado pela polícia, terrorista diz que queria levar medo ao Canadá

Publicado em 06/03/2015 - 18:17 Por Iara Falcão – Correspondente da Agência Brasil/EBC - Montreal (Canadá)

A polícia canadense divulgou hoje (6) vídeo em que Michael Zehaf-Bibeau diz que invadiu o Parlamento Nacional, em Ottawa, capital do país, em 22 de outubro do ano passado em retaliação ao Canadá, pelo envio de tropas ao Iraque. O comissário da Guarda Montada Real do Canadá, Bob Paulson, apresentou o vídeo por volta das 11h (horário local) enquanto atualizava o Comitê de Segurança Pública da Câmara dos Comuns sobre as investigações do crime. Após o ataque, Zehaf-Bibeau fugiu para o interior do Parlamento, onde foi morto.

No vídeo, o canadense de 32 anos, convertido ao radicalismo islâmico, diz que queria atingir apenas alguns soldados para mostrar que os canadenses não estão seguros em seu país. “O Canadá não deveria ter se tornado oficialmente um de nossos inimigos, amedrontando e bombardeando-nos, ameaçando-nos e criando terror e matando-nos em nosso país e matando nossos inocentes, Zehaf-Bibeau na gravação, que tem menos de 1 minuto.

Zehaf-Bibeau condena os canadenses por terem “se esquecido de Deus” e permitido “todo tipo de indecência”. No fim, evoca Alá e diz: “não vamos parar até vocês decidirem ser um país pacífico, ficarem em seu próprio país e parar de ir a outros países e matar pessoas corretas, como nós.”

O vídeo foi gravado no próprio carro de Zehaf-Bibeau, próximo ao Memorial da Guerra do Canadá, nas imediações do Parlamento, pouco minutos antes de ele matar o militar que fazia a guarda do monumento. Nas imagens ele aparece lúcido.

Segundo o representante da Polícia Nacional do Canadá, o vídeo não foi divulgado antes para não atrapalhar as investigações. Mesmo na exposição de hoje, o vídeo teve 18 segundos de imagens retiradas, por terem sido consideradas importantes para as buscas policiais. Outra preocupação das autoridades era que o vídeo servisse como uma incitação à radicalização, ao recrutamento e ao financiamento de atividades ligadas ao terrorismo. O país está preocupado com os jovens que têm deixado o país e aderido à jihad (luta) islâmica.

Para parte da opinião pública, o fato de o vídeo ter sido divulgado agora tem razão política, pois o projeto de lei antiterrorista apresentado pelo governo conservador do primeiro-ministro Stephen Harper será discutido na próxima semana. Outro projeto de lei de autoria do governo – que propõe prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional para crimes hediondos de primeiro grau, entre eles o terrorismo – foi apresentado na quarta-feira (4). As eleições gerais no Canadá ocorrem em outubro deste ano. O comissário da Guarda Montada Real negou veementemente essa relação.

Sobre as investigações, Bob Paulson disse que 130 investigadores têm se debruçado no processo. Até agora foram interrogadas 400 pessoas. Michael Zehaf-Bibeau nasceu em Montréal, filho de mãe canadense e pai líbio. Ele tinha problemas com uso de drogas e já havia sido preso por outros crimes.

Segundo a autópsia, o corpo de Zehaf-Bibeau, morto pelas forças policiais no dia do atentado, não apresentou sinais de drogas ou álcool. Nos últimos anos, ele vinha se aproximando cada vez mais das ideologias radicais islâmicas. Em setembro do ano passado, tentou obter um passaporte canadense em Vancouver, mas seu pedido foi negado.

Como tinha dupla nacionalidade, foi para Ottawa, onde procurou a Embaixada da Líbia para renovar o passaporte, que estava vencido. O procedimento demoraria de três a quatro semanas. Sua intenção era viajar para a Síria, para se juntar às forças jihadistas do Estado Islâmico.

No dia 4 de outubro, ele participou de uma visita guiada no edifício do Parlamento, em Ottawa. E dois dias antes de invadir a sede parlamentar do Canadá, comprou um carro. No dia do atentado, colocou uma arma, da qual a polícia não soube dizer a origem, no porta-malas do automóvel e levou um facão atado ao corpo.

A polícia canadense suspeita que Zehaf-Bibeau não tenha agido sozinho e agora busca os possíveis coautores do atentado.

 

Edição: Fábio Massalli

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