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Internacional

Acordo de paz, morte de Fidel e suspensão marcam América Latina em 2016; veja

O acordo de paz entre o governo da Colômbia e as Farc foi destaque na
Da Agência Brasil*
Publicado em 19/12/2016 - 07:09
Brasília
Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia
© EPA/Olivier Douliery/ Agência Lusa

Na América Latina, além de conturbado politicamente, 2016 não foi um ano dos melhores do ponto de vista econômico, com poucas exceções. Segundo relatório de dezembro da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), “a região finalizará 2016 com contração média de 1,1%, e a América do Sul será a mais afetada, com queda de 2,4%. Dos 10 países sul-americanos, quatro terminam o ano no vermelho: Venezuela, Brasil, Argentina  e Equador.

Veja alguns fatos marcantes na região em 2016:

Colômbia: acordo de paz entre governo e Farc

Na Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos e o comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Rodrigo Echeverri, o "Timochenko", assinaram no dia 24 de novembro, em Bogotá, um acordo de paz que pôs fim ao conflito armado mais longevo da América Latina. As negociações entre Bogotá e as Farc duraram mais de quatro anos e renderam a Juan Manuel Santos o Prêmio Nobel da Paz de 2016. O acordo final foi firmado pouco menos de dois meses depois de um pacto anterior ter sido rejeitado em referendo popular.

Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia

Juan Manuel Santos, presidente da ColômbiaEPA/Olivier Douliery/ Agência Lusa

Cuba: relação com EUA e morte de Fidel

Em Cuba, dois grandes acontecimentos marcaram o país em 2016: o reatamento das relações diplomáticas com os Estados Unidos (EUA) e a morte de Fidel Castro.

O ex-presidente e líder da revolução cubana morreu em Havana no dia 25 de novembro, aos 90 anos de idade. O funeral do ex-líder durou nove dias e teve grande repercussão internacional. 

Fidel Castro

Fidel Castro Alejandro Ernesto/Lusa/Direitos Reservados


Já a reaproximação de Cuba com os Estados Unidos incluiu uma visita do presidente Barack Obama à ilha caribenha em março, encerrando, no âmbito das Américas, o último capítulo da guerra fria na política externa norte-americana. Em 27 de setembro, Obama nomeou o primeiro embaixador americano em Cuba após mais de 50 anos de relações diplomáticas rompidas.

Venezuela: crise e suspensão do Mercosul

Para a Venezuela, país imerso em uma prolongada crise político-econômica, o ano de 2016 significou contração do PIB (Produto Interno Bruto) de 9,7% e a persistência de um cenário de agravamento que tende a prosseguir em 2017. O governo de Nicolás Maduro, que enfrenta forte resistência interna, suspendeu um referendo revogatório de seu mandato, levando a oposição às ruas. E, em 2016, pela primeira vez em 17 anos de chavismo, a oposição assumiu maioria no Congresso, o que levou a um enfrentamento entre os poderes, com um Executivo que não reconhece o Congresso, e vice-versa.

Além disso, os quatro países fundadores do Mercosul suspenderam em dezembro a Venezuela do bloco, devido ao descumprimento por Caracas de suas obrigações de adesão ao grupo. Os reflexos da crise venezuelana já se fazem sentir nos países vizinhos, como Brasil e Colômbia, com levas de imigrantes atravessando as fronteiras em busca de melhores condições de vida.

PF em Roraima deporta 450 venezuelanos

Polícia Federal em Roraima deporta 450 venezuelanosDivulgação PF/RR

Bolívia: seca, economia em alta e renovação política

Em 2016, os bolivianos rejeitaram a reforma constitucional promovida pelo presidente Evo Morales, de 56 anos, para se candidatar ao quarto mandato (2020-2025), abrindo campo para a renovação política. Este ano também a Bolívia viveu a sua pior seca desde a década de 1980. O governo declarou emergência nacional, por conta da falta de água em várias cidades, inclusive na capital, La Paz.

Na área econômica, as receitas de hidrocarbonetos tiveram um aumento exponencial e as vendas de gás possibilitaram ao país melhorar sua infraestrutura e serviços e fornecer gás doméstico gratuito a 3,5 milhões de bolivianos. A Bolívia e o Paraguai lideraram o crescimento do PIB na América do Sul em 2016, com 4%.

Chile: baixa popularidade de Bachelet

No Chile, o governo da presidente Michelle Bachelet chega à metade do segundo mandato com  índices baixos de popularidade – apenas cerca de 27% de aprovação. Além disso, as eleições municipais em outubro impuseram uma derrota aos partidos que fazem parte do seu governo.

Como um dos países que têm na exportação de commodities grande parte de suas receitas, o Chile sofreu com a queda na cotação do cobre (35% do consumo mundial vêm de minas chilenas), obrigando o Estado a rever e realocar investimentos básicos. Mas, apesar das dificuldades, o país teve crescimento de 1,6% do PIB, e mesmo opositores admitem que o Chile avançou muito em questões básicas como educação e direitos humanos.

Por fim, em contraponto ao Mercosul, foi realizada em junho, em Santiago, a 11ª Cúpula da Aliança do Pacífico, a iniciativa de integração regional idealizada pelo Chile, a Colômbia, o México e o Peru.

Argentina: um ano de Macri e Cristina processada

Na Argentina, 2016 começou sob o signo do governo do presidente Mauricio Macri, eleito com 51,42% dos votos, encerrando a era de oito anos de Cristina Kirchner. A ex-presidente viveu em 2016 seu inferno astral, com embargo de seus bens pela Justiça e respondendo a processo pela venda de dólares no mercado futuro, que teria causado prejuízo de R$ 17 bilhões aos cofres públicos.

Macri iniciou o mandato anunciando grandes mudanças na política econômica e, em 2016, a Argentina finalmente saiu da moratória, decretada em 2001. O novo governo teve que mudar a legislação para renegociar a dívida externa com os chamados "fundos abutres" (que especulam com títulos da dívida) e, com isso, o país conseguiu reabrir seu acesso ao mercado financeiro global. Macri também acabou com os controles de câmbio impostos por Cristina.

Apesar de ser a segunda economia do continente, a Argentina ainda enfrenta desafios como dívida pública elevada, inflação alta, desemprego, corrupção e más condições de infraestrutura e dos serviços de saúde e educação. Contudo, as ações de Macri demonstram disposição para fazer reformas que poderão ajudar as exportações e a reintegração do país aos mercados globais. Um dos destaques do ano foi a visita a Buenos Aires do presidente dos EUA, Barack Obama, em março, junto com 400 empresários.

Desde que Macri assumiu, as tensões sociais permanecem e os sindicatos relutam em ajudar um governo de centro-direita. Os protestos contra o feminicídio ocorridos em várias cidades foram outro fato merecedor de destaque na Argentina em 2016.

Peru e Paraguai: eleições e crescimento

No Peru, 2016 foi marcado por eleições presidenciais disputadíssimas, em junho, das quais saiu vencedor o economista Pedro Pablo Kuczynski, com um resultado apertado e sem maioria no Congresso, controlado pelos aliados de sua rival, Keiko Fujimori, que era favorita nas pesquisas, mas saiu derrotada nas urnas. Na área econômica, o país fecha o ano com crescimento do PIB de 3,9%. Foi destaque ainda a 24ª Reunião de Líderes da Área de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), realizada em novembro, em Lima, que amplia as possibilidades de comércio globalizado entre os países do bloco, especialmente com a China, segunda economia mundial.

Surpreendentemente, o Paraguai liderou o crescimento do PIB na América do Sul este ano, com 4% de aumento. Parte do sucesso se deve à estabilidade política representada pelo segundo mandato do presidente Horacio Cortes, de 58 anos, do Partido Colorado, um dos homens mais ricos do país, dono de mais de 25 empresas e de um banco. No plano regional, o Paraguai ficou contra a permanência da Venezuela no bloco, alegando “descumprimento, por parte de Caracas, das obrigações do Protocolo de Adesão ao Mercosul”. Na parceria paraguaio-brasileira, destaca-se a hidrelétrica Itaipu Binacional, responsável por cerca de 17% de toda a energia consumida no Brasil e de 75% do Paraguai.

*Com informações de Monica Yanakiew, correspondente da EBC em Buenos Aires