Megaestrutura de alegorias exige cuidado especial no trajeto até a avenida

Carnavalescos criaram efeitos especiais e importaram a tecnologia

Publicado em 25/01/2016 - 16:39 Por Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

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O tamanho dos carros alegóricos das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro têm aumentado ao longo dos anos. Os carnavalescos também criaram novos efeitos especiais e importaram para o carnaval carioca a tecnologia usada no Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas, que ajuda a dar movimento às alegorias.

Se o visual dos carros fica cada vez mais bonito e agrada o público, até que cheguem à avenida e completem o desfile, todo cuidado é pouco. A montagem das alegorias nos barracões das escolas, na Cidade do Samba, região portuária do Rio, exige cada vez mais estratégia.

O diretor-geral de barracão da Mocidade Independente de Padre Miguel, Marcelo Plácido, tem experiência no assunto. É ele quem verifica o ritmo de montagem e fica de olho nas medidas das alegorias. Segundo ele, não se pode impedir a criatividade dos carnavalescos, mas o limite na largura e na altura dos carros tem que ser respeitado ou o trabalho pode ser prejudicado.

Rio de Janeiro - Desfile das escolas de samba do Grupo Especial no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Imperatriz Leopoldinense.

Com até 5,5 metros de altura e 8 metros de largura no barracão, carros alegóricos exigem logística especial para chegar ao desfile Arquivo/Agência Brasil 

Carnaval na medida
Plácido explicou que o ideal é que os carros tenham até 5,5 metros de altura e até 8 metros de largura. Essa medida, segundo ele, além de garantir a passagem da alegoria nos portões do barracão, facilita o transporte até a área de concentração da passarela do samba.

“É uma verdadeira operação que nós fazemos para a retirada desses carros. Montados dentro do barracão, temos o cuidado de fazer com 5,5 metros por causa dos fios no trajeto entre a Cidade do Samba e a [Avenida] Presidente Vargas [local da concentração]. A largura de 8 metros é por causa dos postes nas ruas”, revelou.

As medidas, no entanto, podem mudar na concentração, porque lá os carros recebem as partes adicionais que não foram incluídas para o deslocamento. Segundo Plácido, algumas alegorias têm sistema hidráulico e isso permite atingir 18 metros de altura.

Este ano, a torre de concreto onde ficavam cinegrafistas e fotógrafos, próximo à Praça da Apoteose, na área final do desfile, foi demolida e será substituída por uma estrutura móvel. Com a mudança, as alegorias podem alcançar alturas maiores, para alegria dos carnavalescos.

Por causa da torre de concreto, algumas escolas, entre elas a Mangueira, já enfrentaram dificuldades na passagem pelo local. Em 2013, o sistema hidráulico de uma alegoria não funcionou como previsto e parte do carro ficou comprometido. A Portela teve mais sorte: em 2015, levou para a avenida uma águia – símbolo da escola – numa versão com asas abertas em referência ao Cristo Redentor. O sistema hidráulico funcionou e a alegoria, de 18 metros, se recolheu na passagem pela torre e saiu intacta.

Cuidados no trajeto
A logística do transporte até a concentração é cheia de cuidados. Na Mocidade, segundo Plácido, a operação mobiliza cerca de 200 pessoas, entre empurradores, eletricistas, mecânicos, borracheiros e motoristas. “Esses carros ficam montados dentro do barracão e a maioria deles tem sistema hidráulico, acoplamentos, gavetas, tudo desmontado. Colocamos estas partes em carretas e caminhões para a logística de transporte. Quando chega lá, essas partes são montadas e os carros ficam maiores.”

Rio de Janeiro - A Águia Redentora, alegoria da Portela, animou o público durante o desfile de 2015 e era aplaudida quando abria as asas e ficava com até 18 metros de altura (Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil)

Em 2015, a Portela desfilou sua Águia Redentora. Com estrutura hidráulica, a ave de 18 metros se fechou para passar pelo trecho final da passarela do sambaCristina Indio do Brasil/Agência Brasil

O diretor-geral de barracão da Mocidade revelou que, um mês antes do desfile, representantes das escolas fazem o percurso dos carros alegóricos para verificar se existe algum impedimento no caminho, como novos postes, fios, placas e calçadas.

Depois disso, encaminham a avaliação para a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa). Este ano, por causa das obras na região portuária, foram necessárias alterações na rota.

O tempo de percurso até a passarela do samba é outra preocupação das escolas. A Mocidade, por exemplo, deve sair do barracão por volta das 23h para chegar à concentração às 8h do dia seguinte. Tudo acompanhado por uma equipe de segurança, que permanece com os carros até o momento do desfile.

“É importante. Não digo nem por maldade, mas já aconteceu uma situação de uma pessoa subir no carro para fazer uma foto. Nós sabemos onde está, por exemplo, um refletor, onde tem um led, um neon, são detalhes que têm que ter cuidado na hora de subir no carro. A segurança está lá para prevenir isso.”

No fim do desfile, o cuidado com as alegorias não termina. As escolas têm que fazer a dispersão dos carros alegóricos da avenida, em no máximo 2h30, tempo contado desde o início do desfile. Se não cumprirem o tempo, pagam multa de R$ 60 mil.

“É tudo cronometrado porque se não trava a outra escola que está na avenida. A mesma estrutura que montamos na concentração tem que ser desmontada na dispersão. Não é porque acabou o desfile que vamos tirar tudo de qualquer maneira”, disse Plácido, já pensando na possibilidade de voltar à avenida no Desfile das Campeãs, no sábado seguinte ao carnaval.

Edição: Luana Lourenço

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