Avanço nos direitos humanos é necessário dentro e fora do Brasil, diz Dilma

Publicado em 30/04/2014 - 20:42 Por Paulo Victor Chagas e Danilo Macedo - Repórteres da Agência Brasil - Brasília

Durante formatura de diplomatas brasileiros no Ministério das Relações Exteriores, a presidenta Dilma Rousseff disse que o Brasil adota em sua política externa a promoção dos direitos humanos, mas não se associa com as nações que fazem desses direitos “uso seletivo e objetivo de luta política”.

“A seara dos direitos humanos e das garantias é uma seara na qual até no Brasil nós temos muito ainda a avançar e temos de reconhecer isso para que não façamos dos direitos humanos uma arma de luta política decorrente de outros interesses”, disse, antes de citar o caso de espionagem pelo qual foram vítimas o governo e cidadãos brasileiros e de outros países, no ano passado. “Não transigimos com a nossa soberania”, declarou.

O Brasil precisa de visão estratégica de médio e longo prazo e precisa entender a complexidade da política externa, disse Dilma aos formandos. “A complexidade das relações nesse mundo multilateral, porque existem vários países e interesses, mas que ainda é tão desigual. E é nele que vocês vão se movimentar”, disse.

Dilma participou da cerimônia de formatura da Turma Nelson Mandela, do Instituto Rio Branco, de 30 diplomatas de dez estados e do Distrito Federal. De acordo com o orador da turma, secretário Pedro Ivo, Mandela foi escolhido como patrono por representar a luta universal dos indivíduos por liberdade, por democracia e por igualdade.

A paraninfa da turma foi a ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, que disse que o Estado brasileiro vem crescentemente incorporando uma "ideia mais nítida e profunda daquilo que somos", derrubando as barreiras seculares de discriminação que dificultam a participação social e política e alargando as noções de democracia e desenvolvimento.

De acordo com a presidenta, a presença brasileira no cenário mundial modificou-se nos últimos anos, fortalecida pelas transformações internas. “Ninguém respeita país que não respeita o seu povo, que aceita pacificamente parte expressiva da sua população estar excluída”.

Ao se referir à homenagem da turma a Nelson Mandela, a presidenta ressaltou as semelhanças do Brasil com a África do Sul, reconhecendo que, após a escravidão, um sistema baseado no racismo se manteve no país com a discriminação pela cor da pele e com a exclusão de serviços.

“Por isso parabenizo a turma, porque é um ato muito importante mostrar que o Itamaraty, nossa representação no exterior, tem essa sensibilidade, não só política, não só cultural, mas sobretudo de perceber que nosso país necessariamente tem de se olhar por inteiro, sobretudo no espelho, e perceber o que nós somos, e que somos variadamente de diversas colorações com uma fundamental presença da origem afrodescendente da qual devemos nos orgulhar”, declarou a presidenta.

O orador Pedro Ivo lembrou que, durante 21 anos de regime militar, as turmas não podiam se pronunciar ao se formarem. O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, lembrou que ele fez parte de uma dessas turmas e disse que o Itamaraty de hoje não tem mais espaço para práticas como essa. “O Itamaraty que eu quero não é o Itamaraty do silêncio. É o da participação, do diálogo, do engajamento e da paixão com a defesa do interesse nacional”, disse.

O ministro também disse que o Itamaraty precisa modernizar-se para estar à altura dos grandes desafios que se apresentam, como o processo de desconcentração mundial. Ele destacou que o Brasil é um dos 11 países que têm relações com todos os membros da Organização das Nações Unidas (ONU) e que se projeta no século 21 como “um país inclusivo e apegado aos princípios de sustentabilidade”. Segundo ele, o Brasil também passou, nos últimos anos, de país receptor para prestador de cooperação internacional. “Compartilhamos sem qualquer imposição ou condicionalidade nossas experiências de impacto social”, disse. 

Edição: Fernando Fraga

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