Entrevista: pesquisador fala sobre os três anos da pandemia de covid

Publicado em 11/03/2023 - 08:12 Por Beatriz Evaristo - Repórter da Rádio Nacional - Brasília

O primeiro caso de covid-19 no Brasil foi identificado no dia 26 de fevereiro de 2020: era um cidadão de São Paulo que havia acabado de chegar da Itália. E foi no dia 11 de março daquele ano que a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o estado da contaminação da doença causada pelo novo coronavírus ao de pandemia - quando existem surtos da doença em vários países e regiões do mundo, e uma disseminação geográfica rápida. No terceiro ano desta declaração, a Rádio Nacional traz esta entrevista com o pesquisador e especialista em saúde pública Christovam Barcellos. que faz parte do Observatório Covid-19 da Fiocruz.

A íntegra da entrevista pode ser ouvida e baixada no player do topo da página. Leia, abaixo, a transcrição da conversa:

Rádio Nacional: Qual é o cenário atual da pandemia de covid-19 no Brasil?

Christovam Barcellos: Infelizmente o balanço é bastante negativo. Nós estamos chegando agora a 700 mil óbitos. É muita coisa. O Brasil só perde, nesse ranking muito trágico, para os Estados Unidos, em número de mortes. Nós cometemos diversos erros, mas, ao longo da pandemia aprendemos alguma coisa. Isso que é importante. Aprendemos que o sistema de saúde tem que estar mais preparado, que a pessoa tem que se vacinar. Que existem populações mais vulneráveis que outras em alguns grupos sociais, algumas faixas etárias. Algumas condições clínicas tornam as pessoas mais frágeis para doenças. Com isso, houve uma diminuição do número de casos, um pouco, mas principalmente no número de óbitos e internações. Quer dizer, o vírus continua circulando mas ele causa agora menos problemas graves.

Rádio Nacional: E quais os cuidados são necessários neste momento?

Christovam Barcellos: As pessoas que tem alguma doença crônica, que são mais idosas, ainda tem que tomar muito cuidado. Algumas profissões, algumas ocupações ainda expõem muitas pessoas. A gente vê um pouco do reflexo disso - algumas pessoas com bastante consciência e usando máscara. Por exemplo, pessoas que estão em tratamento de câncer, pessoas que tem insuficiência respiratória, adotaram a máscara como uma prática, principalmente quando vão a lugares fechados. Do outro lado, o sistema de saúde também teve que se adaptar. A pior fase da pandemia, nós passamos (inaudível) o de 2021, quando aconteceu aquele colapso do sistema de saúde. As pessoas relaxaram, infelizmente (...), e o sistema de saúde, mesmo um ano depois de decretada a emergência de saúde, a pandemia, o sistema de saúde entrou em colapso. Faltava oxigênio, faltava profissionais de saúde, kits de intubação. Essa foi a pior tragédia que aconteceu durante a pandemia. Não só em 2020, mas em 2021, a gente já deveria ter ter aprendido. Nós, cidadãos, e também o sistema de saúde, deveríamos ter aprendido a nos comportarmos corretamente. Acho que agora existe esse esforço - por exemplo, dessa vacina bivalente, o melhor monitoramento da situação... a gente se lembra do apagão de dados que a gente teve em 2020 e 2021. Agora, existe um monitoramento mais próximo do que está acontecendo - inclusive para gerar alertas. Cabe ao sistema de saúde, principalmente ao Ministério da Saúde, emitir esses alertas: "olha, chegou uma variante nova, que pode ser perigosa", ou um evento de massa que pode ser perigoso. Como se comportar, e, principalmente fazer esse diagnóstico de quem é portador de alguma doença crônica, como diabetes, tuberculose, hipertensão, insuficiência renal. Todas essas pessoas tem que tomar muito cuidado. E lembrando que, no Brasil, muitas dessas pessoas podem ter essas doenças sem ter conhecimento. Quantas pessoas no Brasil podem ter hipertensão sem saber que tem hipertensão? E que só vai descobrir que tem hipertensão quando tem um acidente mais grave, quando tem algum sintoma mais grave.

Rádio Nacional: E a gente já pode falar que o fim da pandemia está próximo? Assim, o que que a gente pode esperar? Ainda mais agora com o avanço da vacinação, com vacinas novas...

Christovam Barcellos: O fim da pandemia não significa o fim da transmissão do vírus da covid-19. Fim de casos de covid-19. Talvez signifique incorporar algumas práticas - nós, os cidadãos e o sistema de saúde. Por exemplo, em 2016, tivemos a pandemia de zika. E foi decretado depois o fim da pandemia, mas não é porque
acabou, desapareceu o vírus da zika. Diminuiu a incidência, obviamente, de zika e o sistema de saúde se preparou para atender, diagnosticar e tratar esses casos, né? E o monitoramento, o tempo todo. O fim da pandemia pode significar então uma mudança nos protocolos, a incorporação dessas práticas tanto pelas pessoas quanto pelo sistema de saúde. 

Rádio Nacional: E a gente deve se preocupar com possíveis pioras no quadro atual? Se não forem tomados devidos cuidados?

Christovam Barcellos: Sim. Primeiro, o sistema de saúde tem que monitorar permanentemente o que está acontecendo. Se houver uma nova onda, é preciso detectar isso a tempo de emitir esses alertas. É preciso fazer o que a gente chama de vigilância genômica, quer dizer, surgimento (de novas variantes). Felizmente, as últimas variantes do vírus tem sido menos letais, menos perigosas. Mas pode surgir uma variante perigosa, no futuro. Então é preciso detectar essas variantes em todos os lugares do mundo, para a gente se preparar para o que pode acontecer. Do outro lado, o cidadão e os seus familiares e seus amigos, podem se comportar de uma maneira mais cuidadosa, principalmente esses que eu que são portadores de doenças crônicas.

Edição: Nathália Mendes

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