Mulheres fazem manifestação no Recife em defesa da vida

Publicado em 08/03/2016 - 23:48 Por Sumaia Villela - Correspondente da Agência Brasil - Recife

Mulheres fazem manifestação no Recife em defesa da vida da mulher

Mais de 20 organizações, entre sindicatos, coletivos independentes e associações de mulheres, se manifestaram nas ruas da cidade em defesa da vida da mulherSumaia Villela/Agência Brasil

Negras, brancas, gordas, magras, adolescentes, crianças, do campo, da cidade, trabalhadoras, donas de casa. Mulheres de origens e causas as mais variadas se uniram hoje (8), no Recife, para lembrar que o Dia Internacional da Mulher é de luta por equidade de gênero. Mais de 20 organizações, entre sindicatos, coletivos independentes e associações de mulheres, se manifestaram nas ruas da cidade em defesa da vida da mulher, o tema escolhido para o ato deste ano.

A atividade começou às 15h no parque 13 de maio, na zona central do Recife. Vários grupos de conversa se formaram para trocar experiências e ideias sobre direitos femininos e construir cartazes. “Isso nos une mais. A gente escuta as mulheres que fazem parte dos movimentos. Nós somos diversas e nem sempre podemos estar juntas, então juntamos todo esse universo em um lugar só para dialogar, construir e perceber que a luta é a mesma: por direitos”, explica Aline Fagundes, uma das coordenadoras do Fórum de Mulheres de Pernambuco, que estava na coordenação política da marcha.

Reivindicações
As causas eram tão diversas quantos as mulheres presentes. Na roda sobre educação, por exemplo, uma das reivindicações era por creches noturnas. “Muito difícil alguém sair antes das 18h do trabalho e o transporte público não é ágil. Além disso, a mulher quer estudar à noite, quer fazer esporte. Não é possível que as creches fechem às 17h30, às 18h”, diz Glauce Medeiros, da União Brasileira de Mulheres (UBM) e conselheira municipal da Mulher no Recife.

Mulheres fazem manifestação no Recife em defesa da vida da mulher

Além de cartazes e faixas com as pautas das manifestantes, uma bateria de latas puxava paródias de protestoSumaia Villela/Agência Brasil

Na área de saúde, Jô Menezes, da organização não governamental (ONG) Gestos, denuncia a dificuldade das mulheres conseguirem acesso a métodos contraceptivos de emergência. “Quando alguém precisa tomar a pílula do dia seguinte, como é chamada, quer marcar um médico para a mulher, para que ele prescreva o medicamento, com a demora, o método deixa de ser emergencial, não tem o efeito necessário”, denuncia.

Aborto
Questões nacionais também foram pauta do ato. Em cartazes ou nas músicas cantadas na manifestação, as mulheres pediram a destituição do atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), e se colocaram contra projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional.

“A gente repudia o Projeto de Lei 5.069, que pretende criminalizar o aborto. [O projeto] vai totalmente na contramão do que queremos, que é a autonomia sobre nossos corpos. É um projeto que torna ainda mais difícil o caminho para o aborto legal e seguro, criminaliza as mulheres que foram estupradas, pedindo que elas façam uma perícia para provar o estupro”, explica Jéssica Barbosa, do Coletivo Feminista Diadorim, que defende a legalização do aborto.

Embora minoria, homens também participaram da manifestação. Um dos cartazes dizia “Não preciso ser mulher para lutar contra o machismo”. Maike Torres foi um dos apoiadores da causa. “Quem grita é porque sente dor. Você não vai gritar se não está sentindo dor. A luta é supernecessária. Historicamente sempre foi lutando que se teve alguma conquista. O voto feminino disseram que não era necessário e foi através de lutas que se conquistou”.

Trajeto

Mulheres fazem manifestação no Recife em defesa da vida da mulher

As causas defendidas na manifestação eram tão diversas quantos as mulheres presentesSumaia Villela/Agência Brasil

O ato saiu do Parque 13 de Maio às 17h e seguiu pelas ruas centrais do Recife até a Praça do Derby. Além de cartazes e faixas com as pautas das manifestantes, uma bateria de latas puxava paródias de protesto e gritos de guerra feministas, como “Ô abre alas que as mulheres vão passar/ Com essa marcha muita coisa vai mudar/ Nosso lugar não é fogo ou no fogão/ A nossa chama é o fogo da revolução”.

Mensagens em lambe-lambes e stencils também foram deixadas nas pareces por onde a marcha passou. “Ser mãe é uma escolha” e “meu corpo minhas regras” foram algumas das frases escritas pela cidade.

Na terça-feira da próxima semana, dia 15 de março, a previsão é que todas as organizações presentes no ato entreguem uma carta unificada endereçada ao governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), com as reivindicações e denúncias de problemas em cada área relacionada aos direitos das mulheres, como saúde, educação, trabalho, racismo e violência.

Apoio de trabalhadores

Mulheres fazem manifestação no Recife em defesa da vida da mulher

Trabalhadores de lojas e pessoas que esperavam ônibus no trajeto da manifestação apoiaram o atoSumaia Villela/Agência Brasil

Trabalhadores de lojas e pessoas que esperavam ônibus no trajeto da manifestação apoiaram o ato. “Acho importante, para mostrar aos homens que a mulher também tem força. É preciso mais educação e mais respeito com as mulheres”, disse José Paulo de Lima, de 53 anos, que trabalha com serviços gerais.

Quando a esposa de Lima, Selma Marques da Silva, massagista de 55 anos, acrescentou que estão morrendo muitas mulheres, o trabalhador completou: “A maioria dos homens que não entende. Quando a mulher diz que não quer o cara, ele quer matar a mulher. Isso não pode acontecer, cada um tem que seguir sua vida”.

O assistente administrativo Edvan de Santana Pessoa, 33, que aguardava em um ponto de ônibus a manifestação passar, disse não se importar de chegar mais tarde em casa por causa do protesto. “Eu fico orgulhoso de ver as mulheres saindo às ruas, crianças, senhoras de idade, que estão lutando por seus direitos de forma justa e com muita dignidade”, elogia.

 

Edição: Fábio Massalli

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