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Cultura

Povos da Amazônia revelam a força das tradições folclóricas

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Ariane Póvoa
22/08/2015 - 08:00
Brasília

Os mistérios da floresta sempre foram inspiração para o nascimento de mitos e lendas que fazem parte do folclore brasileiro. Histórias surgiram da maneira como os amazônidas entendiam e explicavam os fenômenos da natureza.

 

Crenças e tradições, que passaram de geração para geração, ainda hoje permanecem vivas e influenciam a vida dessas populações.

 

É o caso do seringueiro e repentista Cícero de Farias Franca. Apaixonado pelas sensações e os enigmas da mata, Cícero, que mora em Rio Branco, capital do Acre, diz que está sempre em contato com as culturas indígenas da região.

 

Ele conta que já viu a Jiboia Branca, ser mitológico caracterizado principalmente no imaginário da tribo Huni Kuin, que vive à margem do rio Jordão. De acordo com o repentista, a jiboia seria um ser encantado, responsável por trazer conhecimento ao povo.

 

Sonora: "Eu acredito na lenda da Jiboia porque eu sinto e vejo. A jiboia ela é a mãe Terra. Ela é mansa; é amor. Ela não é agressiva. Ela se manifesta aqui na minha pessoa. Eu recebo ela e aí de repente eu me transformo; onde tiver dor vai desaparecendo todas as dores. Então a lenda da jiboia ela é muito real".


O fascínio e o respeito pela natureza e pelas tradições da população amazônida fizeram Cícero se juntar a outros artistas da família. Há dez anos, eles criaram uma nova figura folclórica no Acre, o Jabuti Bumbá.

 

Silene Farias, irmã de Cícero, disse que em 2005, ano de criação do grupo, uma queimada matou milhares de jabutis no estado. A figura folclórica nasceu da crítica à devastação da floresta.

 

Sonora: "A gente viu que era uma forma, vamos dizer assim, fazer uma justiça; usar o jabuti como um símbolo para falar melhor sobre essa coisa trágica que é essa queimada. E aí saímos brincando e cantando e falando de coisas sérias e hoje, inclusive, o Ministério da Cultura já reconhece o Jabuti como um brinquedo da cultura popular aqui do Acre."


De acordo com o professor de literatura da Universidade Federal de Roraima e pesquisador do Núcleo de Licenciatura Intercultural Indígena, Fábio Carvalho, o folclore pode ser criado e recriado. Ele se transforma a todo tempo.

 

Sonora: "O folclore é uma coisa que se renova, e as manifestações folclóricas são interpretadas como impulsos, como forças inconscientes, ligadas à alma dos povos que a recebeu como fonte comum universal. No ambiente da floresta, o folclore se apresenta com muita força no sentido de que, tudo aquilo que não pode ser explicado pela razão lógica, ganha uma dimensão folclórica, ou seja, ela se atualiza sempre."


Como uma forma de valorizar as histórias e personagens do folclore brasileiro, a professora Nelma Castilho, coordenadora do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (ProLer), em Macapá, realiza diversas atividades que aproximam a população da cidade aos contos e mitos.

 

Sonora: "Através desse projeto está inserida a contação de histórias através da ludicidade; do teatro de fantoches também; através de dança e através de música. E nasceu dentro do comitê Proler, daqui do Amapá, a história do saci que não tinha uma perna só. Quando ele surge com duas pernas, ele é discriminado pelos outros sacis que só têm uma perna."


Neste sábado, o Dia do Folclore vai ser celebrado internacionalmente. No Brasil, a comemoração completa 50 anos. Assinado em agosto de 1965, o decreto que instituiu a data determina que as instituições de ensino realcem a importância do folclore na formação cultural do país.

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