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Cultura

Noite dos Tambores Silenciosos louva orixás e lembra antepassados escravos

Recife
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Sumaia Vilela
28/02/2017 - 11:41
Recife

À meia-noite dessa segunda-feira (27), o Pátio do Terço, no Recife, ecoou as loas, cantos sagrados do candomblé, em jeje-nagô.

 

Com as luzes apagadas e os tambores dos maracatus de baque virado silenciados, tata Raminho de Oxossi conduziu a homenagem aos eguns, os ancestrais do povo negro na Noite dos Tambores Silenciosos.


A cerimônia é o ponto alto do evento que ocorre há 57 anos e é parte da programação oficial do carnaval do Recife. Antes e depois desse momento, 28 nações de maracatus de baque virado passam pelo pátio para fazer a reverência aos antepassados e louvar os orixás.


Esses maracatus são ligados a religiões de matriz africana e, em geral, possuem um orixá como patrono. O rei e a rainha são os principais personagens. À frente do grupo, além do estandarte, vai a calunga, uma boneca que incorpora a força ancestral, carregada pela dama-de-paço.


Essa reverência aos ancestrais faz sentido, também, pela forma como a tradição é passada, por gerações. Antônio José da Silva Neto, o mestre Teté, tem 71 anos e preside o Maracatu Nação Almirante do Forte, ativo desde 1931. A história dele com essa cultura começou com os antigos da família.


Da nova geração de mestres de apito, Felipe Henrique Tavares, 24 anos, substitui o mestre Toinho, no Maracatu Nação Encanto da Alegria. Ele explica o que aprendeu com o mestre sobre a essência da manifestação cultural.


A cerimônia encanta quem assiste à Noite dos Tambores Silenciosos pela primeira vez. A inglesa Olívia Williams, que mora há três semanas no Recife, diz que nunca tinha visto algo semelhante.


A Noite dos Tambores Silenciosos é também um evento de resistência e afirmação da identidade do povo negro, segundo Auzenide Simões, gestora do Núcleo da Cultura Afro-Brasileira, que organiza a cerimônia.


O local onde ocorre a cerimônia, o Pátio do Terço, é um pedaço dessa história e por isso é escolhido. Na época da escravidão na região era feita a venda de africanos escravizados recém-chegados em navios negreiros.


Traços de um passado que, se depender da Noite dos Tambores Silenciosos, nunca será esquecido.

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