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Cultura

Conheça a história da festa do Presente à Iemanjá, que faz cem anos

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Josy Braga - Repórter da Rádio Educadora de Salvador
02/02/2023 - 15:49
Salvador

Consolidada como a maior celebração da cultura afro-brasileira na Bahia, a festa de Iemanjá, celebrada no dia 2 de fevereiro, completa cem anos de realização. Reconhecido em 2022 como patrimônio cultural de Salvador, o cortejo realizado no meio do mar com várias embarcações vem sendo promovido desde a década de 1920.

Segundo o jornalista, pesquisador e escritor Nelson Cadena, a festa, que começou oficialmente em 1923m passou por várias mudanças ao longo do tempo. 

"Bom, na verdade, (sobre) a festa de Iemanjá tem que falar na festa do Rio Vermelho, né? Nós já tivemos três festas: a primeira festa era a festa que se chamava de Romaria dos Jangadeiros, que é a mais antiga de todas e era realizada em meados do século 19. Depois da da festa do Jangadeiro, nós temos a festa de Nossa Senhora de Sant'Ana, que prevaleceu até 1971, e, em paralelo, surgiu a festa de Iemanjá. Tudo indica que ela surgiu em 1923. Ou seja, ela estaria comemorando neste ano cem anos".

A tradição partiu de pescadores da capital baiana, especialmente do bairro do Rio Vermelho, que resolveram oferecer presentes para a divindade das águas na expectativa de que ela pudesse resolver o problema de escassez de peixes. Mas o pesquisador esclarece que, antes da realização da festa, já existia na cidade, desde o final do século 19, o culto à divindade Iemanjá. 

"Aí tem que distinguir duas coisas: o que é o culto de Iemanjá e o que é a festa de Iemanjá. O culto à Iemanjá é mais antigo: ele data do final do século 19 e ele não era realizado no Rio Vermelho. O território do culto de Iemanjá era na Cidade Baixa, atrás do  Monte Serrat, uma prainha que ainda tem lá. Era ali que era feita a oferenda, ali se reunia somente o povo de santo da Bahia. Essa festa, era uma festa, assim, fechada, digamos. Tinha que ser fechada também porque tinha muita repressão das autoridades para tudo que fosse candomblé, umbanda e tudo que tivesse em relação com os terreiros. Uma festa não: um culto fechado. A festa, teoricamente, no Rio Vermelho, começa em 1923. Por que teoricamente? Porque é o relato de um de um construtor de jangadas, Zequinha, que ele declarou (ele já faleceu), que em 1923 eles fizeram o primeiro presente de Iemanjá. E a partir daí passou a ser feito todos os anos".

Mas foi a partir da década de 1960 que a festa ganha consolidação e popularidade: "Depois de 1967 em diante, a festa de Iemanjá passou a ser a principal. Porque ela conviveu muito tempo com a festa de Nossa Senhora de Sant'Ana, né? Tanto que se você pegar os jornais da década de 1960, você você vai ver uma grande cobertura da festa da Igreja de Sant'Ana e algumas notas pequenas, uma ou outra matéria sobre a festa de Iemanjá. Mas depois ela passa a ser a festa principal. E passa a ser uma festa exclusivamente do povo de santo da Bahia, organizada, inclusive. Com um acordo entre a Colônia dos Pescadores, o terreiro de candomblé... sempre tem uma mãe de santo que faz o preceito, que encomenda o presente especial, né? Esse presente que vai ser levado na praia do Rio Vermelho. Então, a partir dessa década de 1960, principalmente de 1967 em diante, é que a festa de Iemanjá ganha a força e a popularidade que ganhou até hoje".

A comemoração do centenário do Presente à Iemanjá também propõe uma revisão histórica sobre a representação das divindades africanas no Brasil. A Colônia de Pescadores vai passar a abrigar uma escultura realista, que personifica uma Iemanjá negra, com traços africanos. A imagem, cedida pelo Museu Nacional de Cultura Afro-Brasileira, foi produzida pelo artista plástico Rodrigo Siqueira. Cintia Maria, diretora do museu, conta que a proposta partiu de uma inquietude dela ao participar do festejo e explica a importância do resgate da ancestralidade: 

"Então a gente tem aí um trabalho relevante de poder estar presenteando a Colônia com essa cultura que levantou esse debate, né? Um debate que eu acho que é importante sobre a identidade dessa deusa, né? Dessa deidade africana. E aí a gente reafirma, né? O museu, enquanto espaço de preservação das culturas de matriz africanas, afro-brasileiras, ele tem esse papel também de colaborar para esse debate, colaborar para reafirmar a identidade dessa divindade".

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