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Cultura

Podcast: Ep 3 - Sharylane fala de ações pela visibilidade feminina

Dos griôs da África para as periferias do mundo: 50 anos de Hip Hop
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Akemi Nitahara e Daniel Mello
26/12/2023 - 07:15
Rio de Janeiro
destaque sharylaine
© Arte sobre foto de Rovena Rosa/Agência Brasil

Neste terceiro episódio do podcast sobre os 50 anos da cultura Hip Hop no mundo, a artista Sharylaine, que integrou a coletânea Consciência Black, volume 1, ao lado dos Racionais MC’s, fala sobre a invisibilidade dada às mulheres no início do movimento Hip Hop, barreiras que perduram até os tempos atuais, e sobre sua carreira. A conversa foi gravada no local que consagrou a cultura Hip Hop nos anos 80: a Estação São Bento do metrô, no centro de São Paulo. 

A rapper Sharylane, ao longo de 38 anos de carreira, não só lutou para abrir caminho no Hip Hop, mas também trabalhou para deixar as portas abertas para as mulheres que vieram depois. Para a artista, mesmo 40 anos após a chegada dessa cultura ao Brasil, o machismo ainda é um obstáculo a ser superado. 

"Ainda hoje há homens hip hoppers, dentro da cultura, que acreditam que a mulher só é boa se ela rimar feito um homem. E também que o rap foi feito para homem. Eu já ouvi isso, e não estou falando de uma década atrás, estou falando de 2023 quando a cultura Hip Hop completa 50 anos mundialmente falando, e 40 anos no Brasil, e de produtores que produziram mulheres. Então tem alguma coisa errada aí, né?

Eu fiquei bem chocada, mas, ao invés de me retrair, eu acho que me deu mais força pra reforçar a luta que eu já encampei ao longo do tempo," destaca a rapper.

Para Sharylane buscar as origens é trabalhar de fato a visibilidade das mulheres, e não só na cultura Hip Hop. Quando se leva em conta o papel das mães que confiaram na movimentação que resultou no Hip Hop, das matriarcas do samba abriram suas casas para que seus filhos para que fizessem o samba e não fossem hostilizados pela segurança pública. "É esse olhar para esse matriarcado. Porque as coisas acontecem muito por conta das mulheres, né. Que ali elas cerceiam, elas guardam, elas garantem que aquilo aconteça" destaca a artista. 

Para saber mais ouça a entrevista completa no play acima.

Você pode conferir, no menu abaixo, a transcrição do episódio, a tradução em Libras e ouvir o podcast no Spotify, além de checar toda a equipe que fez esse conteúdo chegar até você.

 

EPISÓDIO 3: Sharylane 

Sobe som 🎶 Rappers Delight, de Sugarhill Gang  

Vinheta: Dos griôs da África para as periferias do mundo: 50 anos de Hip Hop 

Sharylane:  É um problema eu acho que mundial, mas que nós mulheres começamos em vários lugares, em vários momentos, a trabalhar isso, e trabalhar juntas, porque a gente entende que só juntas nós conseguimos alcançar mais, dar mais passos, sabe. Então eu acho que esse é um processo que não tem fim. 

Daniel Mello: Ao longo de 38 anos de carreira, a rapper Sharylaine não só lutou para abrir caminho no Hip Hop, mas também trabalhou para deixar as portas abertas para as mulheres que vieram depois. Para a artista, mesmo 40 anos após a chegada dessa cultura ao Brasil, o machismo ainda é um obstáculo a ser superado. 

Sobe som 🎶  Nossos dias - Sharylane 

“Disseram então que eu não podia cantar 

Que para outros grupos era 13 dias de azar 

Não ligue meu bem que isto é prosa 

E se tudo se renova Sharylaine está a toda prova” 

Daniel Mello: : Eu sou Daniel Mello, jornalista da Empresa Brasil de Comunicação e neste terceiro episódio do podcast sobre os 50 anos da cultura Hip Hop no mundo, a artista Sharylaine, que integrou a coletânea Consciência Black, volume 1, ao lado dos Racionais MC’s, fala sobre a invisibilidade dada às mulheres no início do movimento Hip Hop e sobre sua carreira. A nossa conversa foi gravada no local que consagrou a cultura Hip Hop nos anos 80: a Estação São Bento do metrô, no centro de São Paulo. 

Sobe som 🎶

Daniel Mello: E como foi a ideia de começar a fazer os eventos aqui? 

Sharylane: Então, na verdade, foi uma questão de ocupação da galera do breaking, um espaço que viabilizava o chão, né, o chão é bom, um espaço que viabilizava você poder dançar, de uma certa forma um espaço seguro e também tinha acesso a energia elétrica, para não gastar tanto das pilhas, porque eram pilhas para rádio eram muito grandes e muito caras. Então você precisava às vezes de 4, 6, 8 pilhas para um rádio funcionar. Então, você tinha pontos de energia, aqui era um palco, que há 30 anos atrás a gente fez a mostra nacional que se tornou até internacional, pelas pessoas que vieram. Nós fizemos a mostra de breaking com apoio do Geledés, em parceria também com o Metrô de São Paulo. A gente fez uma grande mostra que também está no documentário Projeto Rappers, a primeira Casa de Hip Hop, que é um documentário assinado por mim, pelo Clodoaldo Arruda e a Jaqueline Santos também, muito por conta de trazer esse histórico do que foi a movimentação da galera mais engajada de Hip  Hop nessas décadas. 

Daniel Mello: E você começou como b-girl? 

Sharylane:  Não, na verdade, havia uma intenção de dançar. Eu andava com os meninos do breaking, da gangue, mas era mais difícil pra mim dançar e tal, dançar no chão. O que eu aprendi foi smurf dancing, que hoje a galera chama de dança de rua, que é uma dança mais no alto, nada de.... E também porque eu tive uma queda, né, no basquete, que zoou meu joelho e que eu tenho o abcesso até hoje, e que inviabilizava mesmo. 

Daniel Mello: E como foi essa transição da dança pra ser MC? 

Sharylane: Bom, eu conheço os meninos em 85 no baile do meio tio, José Augusto, e aí eu começo a acompanhar eles e dentro da gangue mesmo que eu conheci o rap. Aí eu falei: "bom, isso é possível". Comecei a ensaiar, cantar o rap de um amigo, até que eu resolvi que a gente devia ir pro palco, né. Então, em 86 tava fundando o Rap Girls, que é considerado um dos primeiros ou o primeiro grupo de rap feminino do Brasil. 

Daniel Mello: E até hoje tem batalha aqui em cima, né? 

Sharylane: Tem, quer dizer, acho que é uma retomada mesmo do movimento, porque o movimento é uma coisa que sempre aconteceu no âmbito central da cidade, né. Dizer que hoje, assim, a gente ter batalha feminina é um avanço muito importante, né, porque a cultura Hip Hop continua machista, continua masculina e, se a gente quer ter algum espaço nesse lugar, nós precisamos criar este espaço. 

Daniel Mello: Como foi isso de ser mulher e se inserir nesse mundo machista do Hip Hop? 

Sharylane: Luta, porque ainda hoje há homens hip hoppers, dentro da cultura, que acreditam que a mulher só é boa se ela rimar feito um homem. E também que o rap foi feito para homem. Eu já ouvi isso, e não estou falando de uma década atrás, estou falando de 2023 quando a cultura Hip Hop completa 50 anos mundialmente falando, e 40 anos no Brasil, e de produtores que produziram mulheres. Então tem alguma coisa errada aí, né?

Eu fiquei bem chocada, mas, ao invés de me retrair, eu acho que me deu mais força pra reforçar a luta que eu já encampei ao longo do tempo, sabe? Porque, nós, mulheres, a gente acabou se organizando em grupos, em núcleos, nos quais as pessoas falavam pra gente tipo: “ah, agora vai ser o Clube da Luluzinha? Vocês estão querendo dividir o movimento?". Não, a gente não está querendo dividir, mas a gente não está se vendo representada, a gente não está se vendo reconhecida no processo, porque você vai ver homens citando homens como referências. Raramente você vai ver um homem citando uma mulher como referência pro trabalho dele. E aí você pode falar nacionalmente ou internacionalmente. 

Daniel Mello: Por falar em referência, acho interessante que tem essa questão que a gente fala muito do Kool Herc como um grande produtor, mas a Cindy Campbel estava lá fazendo a produção da primeira festa de Hip Hop nesse pioneirismo. Como é que você vê isso, qual é a importância da Cindy Campbel, ela te influenciou pra você estar nesse lugar? 

Sharylane: Não me influenciou justamente porque ela foi invisibilizada. Então eu conheci três homens antes de saber que ela era o pivô disso tudo. Quer dizer, décadas depois eu fui saber da Cindy Campbel. Décadas depois eu fui saber que a produtora do Sugar Hill Gang era uma mulher, a Silvia Robinson, que também ficou invisibilizada no processo. Então as pessoas sabiam qual era o nome da gravadora, né, mas ninguém falou quem era a produtora. Não se teve a necessidade de falar quem era o produtor porque o produtor não era um homem. E esse é um processo, tanto lá quanto aqui, é um processo de construção. Porque mesmo lá, nesse período de cinquentenário que a gente teve a oportunidade de acompanhar celebrações, a gente percebeu a invisibilidade das mulheres. Então você teve, por exemplo, um evento no Yankee Stadium que as mulheres que foram, foram convidadas por homens. Elas não estavam no flyer, né, de divulgação. Tinha uma, dentre centenas de mulheres, né, e que ocupam até lugares de número baixo nos rankings. Mas foram os homens que levaram as mulheres a convite. 

Então a Cindy, para mim, ela é a grande mama da cultura hip-hop. Ela precisa ser citada, não dá para falar mais só sobre o Kool Herc, o Grandmaster Flash e o Afrika Bambaataa. Acho que tem que citar ela primeiro e depois eles. Entender também que existe uma leitura de que o Hip Hop só é o que Hip Hop, por conta das mulheres e muito por conta das mães desses jovens, que numa grande maioria eram mães solteiras e que confiaram nessa movimentação de outros jovens ainda da mesma idade, de estar junto, de começar a andar junto, produzir junto, fora desse universo de gangue, porque podia ser mais uma gangue para arrumar treta, enfim.

É, citar o Racionais e não citar a Sharilyne é a mesma coisa do que citar o Kooll Herc e não citar a Cindy Campbell. Até porque esse Consciência Black que você cita, os Racionais estavam no mesmo disco que eu. Nós saímos primeiramente neste disco. Então, como é que a gente trabalha de fato a visibilidade das mulheres não só na cultura Hip Hop, de uma forma geral, buscar essas origens. Assim como a gente pensar no samba, né, as matriarcas do samba que abriram suas casas para que seus filhos e os jovens daquela geração fizessem o samba e não fossem hostilizados pela segurança pública. É esse olhar para esse matriarcado. Porque as coisas acontecem muito por conta das mulheres, né. Que ali elas cerceiam, elas guardam, elas garantem que aquilo aconteça. 

Daniel Mello: A gente estava vendo uma entrevista sua em que você diz que foi preciso Os Racionais te citarem, apesar de você estar desde o início, pra você ganhar visibilidade. Você sente que ainda tem essa necessidade de validação dos homens pras mulheres conseguirem destaque, ou pelo menos isso foi superado? 

Sharylane: Então, na verdade, os homens precisam que outros homens validem as mulheres pra eles acreditarem nessas mulheres. Eu não preciso. Não preciso de Racionais, eu não preciso de nenhum rapper, seja de São Paulo ou do Brasil dizer, né. Porém, é dessa forma que as pessoas nutrem um pouco de o que eu chamaria de "instigar a conhecer", instigar a saber, né, quando um homem diz. Se uma mulher falar, tá, beleza, mas quando o homem diz, aí eles se instigam, né, incita eles a olhar ou pra ver o que que é. O que eu acho péssimo, né, acho que não preciso de um homem dizer que eu existo pra que as pessoas queiram saber que eu existo. Basta buscar a história, se buscar a história já vai saber que muitos dos grandes ídolos e grandes dentro da cultura Hip Hop, muitos deles não são old school, mas fazem parte desse fortalecimento da cultura, né. E aí, se for atrás da história, aí eles conseguem conhecer a mim e a outros que trabalham a base da cultura para que o mainstream continue no mainstream. 

Daniel Mello: Você falou de história, acho que é importante também, você fundou a Frente de Mulheres do Hip Hop... 

Sharylane: É, eu sou co-fundadora do Feminrappers, que nasceu em Geledés, o Instituto da Mulher Negra, também sou co-fundadora do Minas da Rima que veio do embrião do Feminirappers pra pensar essa movimentação da mulher do rap na cena, mas abrigando os outros elementos, e da Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop, que aí eu falo que é um coletivo de vários coletivos, que aí abriga mulheres de todos os elementos, né, e todos com um fundamento único: que é pensar essa mulher no cenário, como que ela chega, como que ela é acolhida, o que a gente faz pra mantê-la, pra que ela não desista, pra que ela continue e como que a gente viabiliza espaços pra ela mostrar sua arte, né. Espaços respeitosos, que elas possam colocar o seu equipamento e não ter o equipamento sabotado por terceiros, pra ver se realmente ela é boa, porque quando é a mulher na produção, há sempre a questão: "Será que ela é boa mesmo? Será que ela é competente?” Então você tem algumas sabotagens pra testar essas mulheres, né. E aí posso falar que é em todos os elementos da cultura Hip Hop, não é só com a mulher MC, né, mas é uma problemática pra B-Girl, Break-girl, que dança o breaking, para DJ, para a grafiteira, que muitas das vezes você tem uma parede pra ser grafitada e eles deixam um cantinho só pra ela, eles ocupam todo o lugar e deixa só um pontinho pra ela. Então, são sabotagens que a todo tempo a gente vem nessa de tentar quebrar ou, de fato, construir esse espaço pra gente poder fazer cultura.  

Daniel Mello: Ainda falando um pouco dessas iniciativas que você participou pra apoiar as mulheres no Hip Hop, em todos os elementos, você vê isso dando frutos, teve gente que conseguiu crescer melhor porque tinha esse tipo de apoio? 

Sharylane: Sim, eu me orgulho em dizer e até me emociono de ter as meninas hoje em patamares melhores, com acessos melhores, pensando e desenvolvendo sua produção não necessariamente dependendo de um produtor pra dizer o que ela vai ter que fazer, né. Então, eu sou muito feliz com isso, mas também tenho que dizer que Brasil afora a coisa é mais difícil. Então, assim, se em São Paulo nós estamos caminhando, as meninas fora do que a gente chamaria Grande Centro, que é São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasília, Rio Grande do Sul, as meninas têm uma dificuldade maior. Então tem a questão do assédio pra poder participar do evento, o assédio pra poder ser produzida musicalmente ou enfim. Então isso ainda é uma problemática que a gente está o tempo todo em discussão pra ver como a gente age. A questão da violência que também parte pra situações, pra ações de feminícidio, que está dentro da cultura também, dos fazedores, fazedores da cultura, homens, companheiros, que são atuantes na cultura reproduzindo esse machismo, então a gente também sofre por esse lado. Mas entender essa luta pra aquelas que não estão organizadas. Entender que essa luta é possível. São experiências que a gente troca e vai se fortalecendo.  

Daniel Mello: Vamos falar um pouco da sua trajetória? Você participou de um disco que é um dos mais emblemáticos do Hip Hop brasileiro, que é o Consciência Black. Queria que você falasse o que foi pra você estar nesse momento, né, contar um pouquinho dessa história pra gente. 

Sobe som 🎶  Nossos dias - Sharylaine 

Sharylane: Bom, não era pra mim ir sozinha, era pra ir Rap Girls eu e minha parceira City Lee, que não foi porque ela desistiu, parou, né. E aí eu ainda titubeei se ia ou não gravar. E aí eu tive ajuda dos amigos, enfim, indo comigo, me inscrevendo pra cantar nos clubes, né, até pra mim me sentir segura e acabei indo gravar. Assim, foi bom porque, assim, eu nem imaginava que aquilo ia ser tão importante pra trajetória que eu olho pra trás hoje e vejo. Mas foi num momento que eu ainda era muito crua, né? Então, assim, eu queria ter escolhido a minha batida, eu queria ter escolhido o meu sampler. E eu fui meio que impulsionada, né, pelo produtor executivo, pelo produtor da música a escolhas como uni-duni-te, né. Então, acho que se eu tivesse um pouco mais de maturidade eu teria feito a música do jeito que eu queria e ela teria pulsado mais, sabe. Mas foi muito importante pra minha trajetória, eu agradeço à equipe Zimbabwe por ter gostado primeiro do trabalho e acreditado e investido, né, pra eu poder estar lá e firmar a marca de ter sido a primeira mulher solo a gravar, né, e agora acho que com o reconhecimento de âmbito nacional. De fato, a gente não tinha dimensão do que podia ser. Pensar que há 38 anos atrás eu tava me divertindo só, né, não tinha uma expectativa de seriedade. Diversão e entretenimento, só isso. 

Daniel Mello: Tem outros momentos que você destacaria como marcos da sua carreira? 

Sharylane: Marco é ter em 1985 quando eu conheci a cultura através da Gangue Nação Zulu. 86, quando comecei a cantar e subir num palco pela primeira vez pra cantar um rap de minissaia falando de política, né. Em 89, quando foi a gravação do disco. A chegada em Geledés, que é o Instituto da Mulher Negra, que foi um divisor de águas de entender o mundo, entender o racismo, entender o machismo, o feminismo, a sociedade, a violência policial, enfim. Conhecer sobre a cultura negra, sobre os nossos ídolos e líderes negros, a história do meu povo, isso também foi um grande divisor. Acho que os três momentos que eu chamo de três ondas desse movimento de mulheres que foi o Feminirappers, Minas da Rima e a Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop. E de participar dos embriões, né, então a Semana de Cultura Hip Hop, né. 

A minha trajetória foi me dando campo pra atuar em diversos lugares, então, assim, pensar em política pública, foi através da cultura Hip Hop. Foi pensando uma política para o Hip Hop que hoje eu discuto política pública, né. Estou conselheira do Conselho de Participação Social do governo Lula, isso também foi através do Hip Hop, que eu me tornei produtora cultural, arte-educadora, são muitas coisas que o Hip Hop me levou a. 

Daniel Mello: Quando você começou, que assuntos, que temas que te tocavam, te afetavam, te faziam rimar? Ainda são os mesmos que te fazem rimar hoje?  

Sharylane: 40 anos de Hip Hop e eu, nesses 38 anos, foi um processo de ir conhecendo a cultura Hip Hop, né. Você vê o Hip Hop tá em todo lugar. Olha que coisa mais linda, né: está nos prédios no centro da cidade, está nas comunidades nas casas, nas favelas coloridas que os grafiteiros e grafiteiras promovem. Então, naquela época, os primeiros contatos que eu tive com a escrita daquela época, era pensar em política, pensar no mundo, enfim, pensar fora da caixa. Como jovem que nasceu, na sua adolescência, com liberdade, fora do período de ditadura, né. Então, era isso. Quando eu conheço o Geledés é que isso se volta mais para as questões femininas. E aí eu pensava assim, eu não posso ser uma mulher que fala só sobre a questão da mulher. Porque não é só isso. A gente não vive só isso. E aí pensar mundo mesmo, pensar política, pensar a história do meu povo, poder contar a história do meu povo através da minha rima, da minha levada, falar sobre o que é o Hip Hop, porque até hoje, depois de 40 anos, as pessoas ainda têm dúvidas. 

Daniel Mello: E para a juventude preta, a juventude periférica, como você vê o Hip Hop na questão de abrir horizonte, gerar oportunidades?  

Sharylane: Bom, o Hip Hop tem gerado desde a sua criação ou fundação, né. Então, se você for pensar na cultura Hip Hop com quatro elementos artísticos, é uma coisa. Mas o quão acaba se ligando a outras coisas a partir desses quatro elementos. Você dialoga com o audiovisual, dialoga com cenografia, você dialoga com sonoplastia, arte-educação, produção cultural. Então, a partir da cultura Hip Hop e de cada um dos seus elementos, você tem um leque de possibilidades e oportunidades de ofício. E, de uma certa forma, muitos desses jovens começam a fazer de forma amadora, mas que vai criando, vai se fortalecendo esse processo. Porque nos dias de hoje, com a tecnologia que tem, o amador às vezes é mais profissional do que o profissional. Ele consegue extrair algo mais, usando a tecnologia chamar a atenção das pessoas, né.  

Sobe som 🎶 Livre no mundo – Sharyline 1’33” 

“Sou tão forte que formo a pública opinião 

Denuncio o machismo, racismo, sexismo, exclusão 

Tráfico de armas, de drogas e de pessoas 

A pobreza e do capital a dominação 

Revelo conceitos, mas não tenho a conclusão” 

Cai som 🎶

CRÉDITOS: 

 Sobe som 🎶

Daniel Mello: Você conferiu o segundo episódio do Podcast Dos griôs da África para as periferias do mundo: 50 anos de Hip Hop. Uma produção da Radioagência Nacional. 

A reportagem, entrevistas e narração foram minhas, Daniel Mello. 

A produção foi de Sara Quines. 

Adaptação, edição, roteiro e montagem de Akemi Nitahara. 

A coordenação de processos é da Beatriz Arcoverde 

Sonoplastia: Jaílton Sodré 

Liliane Farias foi a responsável pela estratégia de publicação e distribuição nas redes sociais  

Implementação na Web: Beatriz Arcoverde e Lincoln Araújo   

Interpretação em Libras: Jhonatas Narciso  

Música tema da série: Rappers Delight, de Sugarhill Gang 

Neste episódio também utilizamos as músicas Nossos Dias e Livre no Mundo, de Sharylaine. 

No próximo episódio do podcast, nossa conversa é com o autor do primeiro disco de Hip Hop do Brasil, MC Who. 

Sobe som 🎶

Em breve
 

 

Entrevistas e narração Daniel Mello
Adaptação, edição, roteiro e montagem Akemi Nitahara
Produção  Sara Quines
Coordenação de processos e edição  Beatriz Arcoverde
Sonoplastia: Jailton Sodré
Identidade visual e design: Caroline Ramos
Interpretação em Libras: Equipe EBC
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   

 

Quer saber mais sobre o tema? Confira o Caminhos da Reportagem, produzido pela  TV Brasil e a série de entrevistas da Agência Brasil. 

 
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