Festejos de Zambiapunga colorem as ruas da Bahia após a Semana Santa

Publicado em 06/04/2024 - 09:15 Por Joana Côrtes - repórter da Rádio Nacional - São Paulo

O som misturado de tambores, pás de enxadas e assobio de búzios é sinal que lá vem vindo em cortejo os Zambiapungas. Logo após a Semana Santa ou em época de Finados, mascarados coloridos, com calças enfeitadas com papel de seda e blusas de cetim brilhantes desfilam com seus instrumentos musicais pelas ruas das cidades da região do Baixo Sul da Bahia.

Patrimônio cultural imaterial baiano, os Caretas e Zambiapungas das cidades de Nilo Peçanha, Taperoá, Cairu e Valença seguem a tradição do ritual ancestral de saudar o chão que pisam com dança, música, máscaras e vestes de cores fortes e diversas.

A tradição vem de longe, trazida da África para a Bahia pelos negros bantos escravizados na região do Congo-Angola, na época do ciclo da cana-de-açúcar. Quem sabe contar melhor essa história é o mestre Walmório, liderança do Zambiapunga de Nilo Peçanha.

“O Zambiapunga é um Deus supremo do povo banto, originário do norte da África, cujo nome Zambi quer dizer Deus e Punga, homem. Zambiapunga se tornou muito forte nessa região e só existe Zambiapunga, depois da África, nessa região do Baixo Sul. A gente fala, fala não, tem certeza, que Zambiapunga é hereditário, passa de geração pra geração, de pai pra filho, de tio pra sobrinho. No meu caso, o pai me deixou todo o amor e todo respeito pela cultura popular”, conta.   

Agora, quando é madrugada alta na noite que antecede o dia de Finados, mestre Walmório ensina aos filhos David, Júlia e Vitória tudo o que aprendeu da dança, do toque e da sabedoria com mestre Val, seu pai.

Os caminhos do festejo do Zambiapunga percorrem, há mais de cem anos, a vida dessas cidades e o imaginário de quem cresceu seguindo o cortejo ao som cativante da percussão, que também inclui a cuíca – ou berra-boi, como o povo dessas terras costuma chamá-la.

Gente como mestra Liliane Santos, do Zambiapunga da cidade de Valença, que, aos quarenta anos, tem a responsabilidade de levar adiante o saber ancestral dos seus mestres e mestras - Balbino, Albertino e dona Piriá.

“Dos meus familiares, avós, avô, tio, que já se foram... e a gente está aqui dando continuidade a esse trabalho maravilhoso que é o Zambiapunga. Uma alegria imensa poder estar repassando o que eles nos ensinaram. Vai passando de geração em geração”, afirma.  

Guardiães da cultura popular, mestra Liliane e mestre Walmório permanecem honrando a herança familiar de dar de comer à alma do zambiapunga. Com as máscaras feitas de cetim e algodão, tirando o som das enxadas sem os cabos e de grandes búzios, os zambiapungas do Baixo Sul da Bahia seguem, a cada cortejo, celebrando a vida e a morte com cores, tambores e festa.

Edição: Roberta Lopes / Fran de Paula

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