Começa no dia 19 de junho de 1898. Neste dia, o ítalo-brasileiro Afonso Segreto, a bordo do navio Brésil, filma a Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Segreto voltava da França, onde aprendera técnicas de filmagem.
Outra cena. O mesmo Afonso Segreto, considerado o primeiro cineasta nacional, realiza, em parceria com o irmão dele, Pascoal Segreto, a primeira exibição pública de um documentário feito por eles sobre a praia de Santa Luzia, em 5 de novembro de 1896.
Mais uma cena: a chegada de um trem na estação de Petrópolis, no ano de 1897.
Qual a data afinal a ser considerada?
A professora do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Pará, Ana Cláudia Melo, esclarece:
"quando falamos do início do cinema no Brasil, sem dúvida, a data de 19 de junho é bastante significativa. Esta data nos remete a uma manhã de domingo de 19 de junho de 1898, dia e ano em que muitos estudiosos consideram ter acontecido aquela que foi a primeira filmagem no Brasil. Uma filmagem feita a bordo de um navio, por um italiano chamado Afonso Segreto. Afonso Segreto fez algumas tomadas ou vistas da Baía de Guanabara quando chegava ao Rio de Janeiro, após uma viagem à Europa e aos Estados Unidos". Embora não existam ou estejam desaparecidas essas filmagens, notícias publicadas no jornal Gazeta de Notícias, do dia 20 de junho de 1898, acabaram sendo fundamentais para que alguns historiadores definissem o dia 19 de junho como o dia do nascimento do cinema brasileiro.
Passados 126 anos daquela clara manhã de domingo, o cinema brasileiro cresceu, se desenvolveu e alcançou sucessos insuspeitos para aqueles pioneiros do século XIX. Acumulou produções premiadas em festivais internacionais e que conquistaram renome tanto no Brasil quanto no exterior. Filmes como Central do Brasil, Cidade de Deus, Tropa de Elite e O Auto da Compadecida são exemplos de sucessos do cinema brasileiro.
O aniversário da cinematografia nacional é uma oportunidade de valorizar a produção local, promover debates sobre o cinema brasileiro e relembrar a importância cultural e artística dessa forma de expressão, como reforça a professora Ana Cláudia Melo:
"O cinema é estratégico para qualquer país minimamente preocupado com a defesa, com a valorização e com a preservação da sua identidade cultural. Podemos dizer, e essa é a minha opinião, que o cinema brasileiro é um cinema que resiste. A gente precisa dizer também que é um cinema que tem uma história riquíssima, que hoje representa, no mínimo, um legado inquestionável para a nossa memória, seja cultural, patrimonial ou seja para a nossa memória histórica."
Como eu falei ainda há pouco, as obras, a exemplo de Cidade de Deus, Tropa de Elite, O Auto da Compadecida e Central do Brasil, colocam o país na rota mundial da sétima arte. Sem esquecer de nomes como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, João César Monteiro e todos aqueles que ousaram, renovaram, reinventaram e revolucionaram, não apenas o cinema, mas a própria maneira de pensar e fazer arte no Brasil.