Clube da Esquina é escolhido nono melhor álbum de todos os tempos

Disco é considerado o mais inovador da música brasileira

Publicado em 22/06/2024 - 07:15 Por Sayonara Moreno - repórter da Rádio Nacional - Brasília

Um álbum inovador, com canções que escaparam da censura em meio à Ditadura Militar, no Brasil: lançado em 1972, o disco Clube da Esquina, dos cantores e compositores Lô Borges e Milton Nascimento, virou assunto nos últimos dias, depois de ser escolhido como o nono melhor de todos os tempos, por especialistas da revista Paste, dos Estados Unidos.  

Lô Borges já viu a obra ter destaque em diversas outras listas especializadas. Mas, para o artista, esta tem um significado especial, já que divide espaço com grandes ídolos que o inspiraram, por exemplo os Beatles.  

“Eu fiquei muito feliz, muito honrado. Conversei com o Milton e ele tava super feliz também, então foi uma alegria generalizada, do pessoal do Clube. Um site internacional, com tantos artistas internacionais envolvidos na lista que, realmente, a honra foi maior um pouco. Porque o álbum Clube da Esquina, 50 anos ser um álbum reverenciado e ser referência para várias pessoas, não só no Brasil, como no mundo, é motivo de muito orgulho”.  

Um olhar atento às letras do álbum duplo Clube da Esquina consegue enxergar referências à repressão imposta nos anos de chumbo.  Lô Borges explica que nem mesmo a dureza daquele período apagou a criatividade dos músicos, no auge da juventude.  

“O contexto do álbum, o contexto social muito inóspito, de falta de liberdade, ditadura matando pessoas, prendendo pessoas, censura. Era tudo muito difícil. A ditadura foi um dos piores momentos que a gente viveu, mas a gente conseguiu manter o foco na arte, nas músicas, nas canções, na feitura do disco. Ditadura incomodou, mas não ao ponto de tolher a nossa criatividade”.

Uma dessas faixas é “Tudo que você podia ser”, sobre um jovem que escolheu se conformar com a opressão militar, na época, em vez de ir à luta contra o autoritarismo.  

52 anos depois do lançamento, a obra de arte dos mineiros desbancou, na lista de 300 discos, artistas como Beatles, Miles Davis, Bob Dylan, David Bowie, Rolling Stones, entre outros.  

A revista que publicou o ranking reconhece que a escolha é subjetiva, mas que segue critérios como influência e atemporalidade. No entanto, para o professor Ivan Vilela, do Departamento de Música da Universidade de São Paulo, a lista traz em sua maioria obras ocidentais e, principalmente, de língua inglesa. Segundo ele, o critério não ficou claro, e essas escolhas tendem a ser menos técnicas.

Ivan Vilela diz que, apesar de não ter tido reconhecimento na época, o disco Clube da Esquina é o que mais trouxe novos elementos para a música de todo o mundo, influenciando a MPB, o jazz e o rock progressivo.  

“É o primeiro disco que constrói a ponte com a música andina no Brasil. O uso do falsete como um recurso tímbrico. A imagem que a gente tem de África na música brasileira tava ligada ao samba e o Milton traz o congado, a música banto mineira. O Milton dá um outro estatuto pra percussão. Às vezes com um volume maior do que o da própria voz. Aliás, a psicodelia que ele traz pra música popular é uma coisa que não existia ainda nesse nível de profundidade”.

O especialista Ivan Vilela, que é pesquisador da obra do Clube da Esquina, cita, como exemplo, uma das mais conhecidas músicas do álbum, O trem azul, composta por Lô Borges. Ivan Vilela diz que a faixa três do disco é um rock, com elementos inovadores.  

“Tem um frescor, tem algo de muito novo. O trem azul é uma música muito curiosa que não tem acorde menor, musicalmente a gente fala, é uma música só de acordes maiores e com uma harmonia complexa. Isso é uma coisa muito difícil de ser feita. Eles acabaram criando um estilo, um jeito de se tocar muito particular.  Dentro da música popular brasileira é o disco, e isso é incontestável, que mais trouxe elementos novos, contribuição de inovações que passaram a ser usadas por todas as pessoas”.  

Depois que o emblemático álbum foi escolhido como o nono do mundo, o cantor e compositor Milton Nascimento, também responsável pela obra, usou as redes sociais para comemorar. Segundo ele, os criadores ficaram “muito felizes com a notícia”, e encerrou dizendo “Sonhos Não Envelhecem”, trecho da canção Clube da Esquina Nº 2, mesmo nome do álbum.

Edição: Nadia Faggiani / Fran de Paula

Últimas notícias
Geral

Mais de mil detentos são transferidos de presídio no RJ

Após a descoberta de um túnel para fuga em massa de presos da facção criminosa Comando Vermelho, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária transferiu nesta sexta-feira, 6, os 1.067 internos para a Penitenciária Moniz Sodré.

Baixar arquivo
Geral

Migrantes retidos em aeroporto não serão repatriados automaticamente

A decisão da Justiça Federal, anunciada na última quinta-feira, se aplica a três grupos, totalizando cerca de 70 pessoas do Vietnã e do Nepal. Esses migrantes receberam habeas corpus, o que impede a repatriação até que uma nova sentença seja emitida pelo Judiciário.

Baixar arquivo
Esportes

Brasil bate recorde de medalhas nas Paralimpíadas de Paris 2024

Dia histórico para o Brasil nas Paralimpíadas de Paris, na França. Neste 7 de setembro o país atingiu o maior número de medalhas em uma única edição dos jogos. O recorde era de 72 medalhas nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro em 2016 e Tóquio 2020. 

Baixar arquivo
Direitos Humanos

Movimentos sociais realizam o 30º Grito dos Excluídos em Brasília

Um dos temas é o alerta ao desrespeito ao uso do Fundo Eleitoral para as candidaturas femininas negras, disse a pastora Val Moraes.

Baixar arquivo
Meio Ambiente

Relatório do Cemaden alerta para estiagem severa no país

Um relatório divulgado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) revela um cenário preocupante de estiagem severa que atinge as regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do país.

Baixar arquivo
Geral

Desfile de 7 de setembro atrai milhares à Esplanada em Brasília

Milhares de pessoas encheram a Esplanada dos Ministérios para acompanhar o desfile de 7 de setembro, em comemoração aos 202 anos da independência do país. A expectativa da organização era de cerca de 30 mil pessoas.

Baixar arquivo