As latino-americanas e caribenhas representam cerca de 30% das mulheres que migram para o Brasil, segundo relatório das Nações Unidas, lançado no ano passado. O desejo de melhorar a vida financeira da família, de oferecer oportunidade de estudos aos filhos ou de fugir da violência estão entre as motivações dessas mulheres migrantes.
Na semana em que se celebra o Dia da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha, neste sábado 25 de julho, conversamos com mulheres negras que escolheram o Brasil para construir uma nova história. É o caso Jennifer Anyuli, de 23 anos. Socióloga, ela veio com os pais e os dois irmãos da Colômbia há 9 anos. E relembra o começo difícil no novo país.
Sonora: “A principal motivação foi a questão econômica, porque lá não se tinha a mesma facilidade de se virar nos 30 como aqui na cidade de São Paulo. Tinha questão da violência também. Nós morávamos numa favela lá”
Com traços andinos, Jennifer se identifica como afro-indígena. Ela conta que passou por um processo de autoconhecimento a partir do trabalho com voluntária na Pastoral do Migrante.
Sonora: “A cultura latina, no geral, cobra muito das mulheres, na parte da imagem. Quando eu usava cabelo comprido, me incomodava com os cachos, eu não sabia como lidar com eles e tomei a decisão de alisar. Foi só depois que comecei a me envolver mais, ter essa construção da identidade que a questão do cabelo ficou importante. Deixa eu assumir meu cabelo bagunçado. Deixa eu assumir cabelo cacheado mesmo”.
Na opinião da socióloga Marilise Sayão, professora da Universidade Federal de Santa Catarina, além da descendência africana, latino-americana e caribenha essas mulheres também se identificam na necessidade de romper com o ciclo de pobreza e miséria em que se encontram.
Sonora: “O que une essas mulheres na América Latina e Caribe? Essa herança da diáspora, da época da escravidão, e, depois, essa diáspora de deslocamento, de migração, de busca de melhores condições em outros países”
Foi essa busca que fez com que a haitiana Beatrice Dominique, de 37 anos, chegasse há dois meses no Brasil. Ela faz parte da crescente migração de haitianos que chegam à cidade de São Paulo, fugidos das trágicas consequências que um terremoto provocou em 2010 no Haiti.
Beatrice era comerciante e aguarda ansiosa o momento em que um empregador irá ao centro de referência para imigrantes lhe oferecer uma oportunidade. Diante de um cenário ainda de instabilidade financeira e social, e de adaptação cultural, a haitiana é de poucas palavras. Ela conta que a viagem para o Brasil já antecipou as dificuldades que encontraria no novo país.
Sonora: “Na passagem pelo Equador, um ladrão levou tudo. Fiquei sem nada. Tive que pedir para os familiares mandarem dinheiro"
O enfrentamento ao racismo e às suas consequências ficam evidentes nos relatos dessas mulheres. A médica nicaraguense Yadira Campbell, de 44 anos, morou no Brasil por cinco anos, quando acompanhava o marido em uma missão das Nações Unidas. Antes, já havia trabalhado em Angola.
Sonora: “Quase toda a população, enfermeiros, médicos, era negra, e todos os pacientes. Era a primeira vez que eu trabalhava com gente parecida comigo. Primeira vez na minha vida."
No Brasil, Yadira cursou pós-graduação, onde sua condição de mulher afro-caribenha revelou a situação de desigualdade social no meio acadêmico.
Sonora: “Na pós-graduação, havia cerca de 100 pessoas e era a única negra de toda essa quantidade de médicos. Eram médicos mais velhos, quase todos especialistas, fazendo capacitação para aprender mais de medicina.”.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013, 53% da população brasileira é negra. Mas entre os 387 mil pós-graduandos no país, menos de 29% são negros.
Sobre as políticas públicas voltadas a essas mulheres migrantes afro-latino-americanas, a ministra da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, Nilma Gomes, destaca a aprovação neste ano da Reunião de Autoridades sobre os Direitos de Afrodescentes do Mercosul.
Sonora: “Nós estamos considerando que ter esta reunião especializada, junto com as outras do Mercosul, é um passo importante para a promoção da igualdade racial e para que a gente tenha a demanda das mulheres negras dessa região sendo organizada e trabalhada em nível de governo. É um primeiro passo. Aos poucos, a nossa ideia é que ações como essa possam ser expandidas para todos os continentes.”
No contexto do Brasil, ela aposta na integração entre estados, municípios e governo federal para desenvolvimento de políticas de promoção da igualdade racial também em relação à população imigrante.
Ficha técnica
Reportagem: Camila Maciel
Sonoplastia: Priscila Resende
Edição: Beatriz Pasqualino
Coordenação: Juliana Cézar Nunes
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