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Direitos Humanos

Sociedade civil e parentes de vítimas pedem que PF investigue chacinas

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Elaine Patricia Cruz, da Agência Brasil
17/10/2015 - 05:00
São Paulo

Confira a quarta (e última) reportagem do especial "Chacinas em São Paulo: A guerra urbana silenciosa", produzida e publicada originalmente pela Agência Brasil. Nesta versão radiofônica, elaborada em parceria com a Radioagência Nacional, ouça o capítulo "A vingança de grupos organizados e a justiça".

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Na madrugada de 19 de setembro, quatro jovens entregadores de pizza foram mortos em frente ao comércio em que trabalhavam, em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Um policial militar foi preso acusado pelas mortes.

 

Guaracy Mingardi, ex-subsecretário nacional de Segurança Pública e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, diz não ter dúvidas da existência de grupos de extermínio. Segundo ele, São Paulo “foi a terra da chacina” na década de 90 e esse cenário está voltando.

 

Sonora: “Nos tempos áureos dos homicídios, anos atrás em São Paulo, havia dois tipos de chacinas: as que eram praticadas por uma briga por ponto de drogas e as que eram cometidas por grupos de extermínio".

 

Em entrevista à Agência Brasil, o ouvidor das Polícias, Julio Cesar Fernandes Neves, preferiu não usar o termo grupo de extermínio, mas admitiu a existência de grupos organizados com a participação de agentes públicos atuando em chacinas.

 

Sonora: “Na nossa legislação não tem essa capitulação de grupo de extermínio, mas está no Código Penal como quadrilha, com mais de três [pessoas] que se organizam para cometer crimes, no caso, o crime de homicídio. Existem grupos organizados para cometer crimes de homicídio. Tem gente que interpreta como grupos de extermínio”.

 

A existência de grupos de extermínio que tenham policiais entre seus integrantes foi refutada, em nota, pela Secretaria de Segurança Pública. A PM também foi procurada para comentar o assunto, mas não respondeu à reportagem.


A demora na investigação e, muitas vezes, a falta de punição dos responsáveis pelas chacinas preocupa os parentes das vítimas e os movimentos sociais e de direitos humanos. Para eles, uma possível solução seria convocar a Polícia Federal para auxiliar nas investigações. É o que explica Julian Rodrigues, coordenador de formação do Movimento Nacional de Direitos Humanos.

 

Sonora: “Isso exige que o procurador-geral da República acione o Superior Tribunal de Justiça para que as investigações saiam do âmbito do estado de São Paulo e sigam para âmbito federal. Não é algo simples de fazer, é burocrático e precisa ser comprovada negligência do governo estadual, que a gente sabe que existe, mas que é difícil de ser aceita e comprovada pelos órgãos superiores de justiça e pela procuradoria da República”.

 

Em entrevista coletiva no mês passado, o secretário de Segurança Pública do estado, Alexandre de Moraes, disse que “A investigação de Osasco e Barueri é absoluta prioridade do governo do estado de São Paulo”. Ele ponderou, no entanto, que é preciso não confundir pressa com prioridade.

 

No último dia 8, cinco PMs e um coordenador da guarda civil de Barueri foram presos durante a força-tarefa que investiga a chacina de Osasco e Barueri, ocorrida agosto, e que resultou na morte de 19 pessoas. Outro policial militar já havia sido preso por envolvimento no crime.

 

Ficha técnica
Reportagem: Elaine Patricia Cruz
Sonorização: Priscila Resende
Edição: Beatriz Pasqualino e Lilian Beraldo
Coordenação: Lilian Beraldo, Juliana Cezar Nunes e André Muniz
Esta é uma produção da Agência Brasil em parceria com a Radioagência Nacional.

 

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