A exposição a violência durante a infância e a adolescência está fortemente associada ao comportamento agressivo de homens adultos. A conclusão é da pesquisa Masculinidades e não Violência, realizada pelo Instituto Promundo, que ouviu 1.151 pessoas moradoras de duas regiões do Rio de Janeiro.
Quase 85% dos homens ouvidos presenciou alguma forma de agressão grave antes de completar 18 anos.
De acordo com a pesquisa, essa exposição aumenta a probabilidade de que eles cometam agressões, inclusive contra parceiras. Há correlação, também, entre presenciar alguma forma de violência doméstica e perpetuá-la.
Dos homens que viram suas mães ou mulheres serem agredidas, 64% já violentaram alguma mulher com quem têm alguma relação íntima. Essa porcentagem cai para 36% entre aqueles que não foram expostos à violência doméstica.
Mas a coordenadora da pesquisa Alice Taylor defende que esse não é um destino inescapável.
Para demonstrar isso, a pesquisa também realizou entrevistas aprofundadas com pessoas que conseguiram deixar o tráfico de drogas, parentes de traficantes, policiais, ativistas e lideranças comunitárias.
Trajetórias como as do criador da organização Observatório de Favelas, Jailson de Souza e Silva, mostram que contar com o apoio da família, receber assistência do Estado ou de alguma ONG e obter escolaridade ajudam a evitar que influências se tranformem em comportamento.
A pesquisa enfatiza, ainda, a relação entre o cuidado dos filhos e a participação nos afazeres domésticos com um comportamento menos violento.
Entre os homens que não cuidam de crianças, 82% confessaram alguma ação violenta. Já entre os que cuidam, essa porcentagem segue alta mas cai para praticamente 58%. Nos casos de violência sexual é próxima da metade.
Como Alice Taylor explica, a pesquisa defende a análise dos índices de violência com uma perpectiva de gênero, já que a masculinidade permanece associada à agressividade, usada para resolver conflitos entre homens e também para subjugar mulheres.
De acordo com Taylor essa agressividade vem desde a infância, quando meninos são estimulados a brigar na rua para resolver questões com outros meninos.
A pesquisa mostra que todos os homens que relataram ter o costume de se envolver em brigas quando novos cometerem alguma ação violenta na idade adulta.