Choques e comida azeda: resgatados em vinícolas falam de maus-tratos
Trabalhadores baianos encontrados em situação análoga à escravidão no Rio Grande do Sul chegaram à Bahia. Eles foram acolhidos pelo governo do estado e pela Defensoria Pública. Uma das vítimas disse que maus-tratos, jornada de trabalho extensa, alimentação estragada e violência faziam parte da rotina.
"A gente trabalhando, e eles falavam: 'vocês vão começar a trabalhar 4h até 22h. E que se vocês não conseguirem trabalhar, a hora vai render mais ainda. Vai ser pior pra vocês. (Falavam) bem assim com a gente. A gente trabalhando, daqui a pouco eles vinham com a comida e era comida azeda. E quando a gente falava alguma coisa, que que o café não dava para a gente, para a gente trabalhar, um (deles) vinha com uma arma de choque querendo dar choque na gente".
O grupo resgatado foi contratado por uma empresa terceirizada que oferecia os serviços dos trabalhadores às vinícolas de Bento Gonçalves. Nesta segunda-feira (27), 54 dos 197 trabalhadores baianos que foram expostos à atividades análogas à escravidão foram recebidos na sede da Defensoria Pública do estado, no bairro do Canela, em Salvador, e em estruturas dos municípios de Lauro de Freitas, Serrinha e Feira de Santana. Agora, está sendo feita uma ação articulada para acolher essas pessoas, como explica a defensora pública Cristina Ulm.
"Nós queremos fazer esse acolhimento, juntamente com os outros órgãos que estão aqui envolvidos nessa força-tarefa. Nós vamos identificar as demandas dos assistidos. Identificar essas vulnerabilidade deles. Seja em ações de saúde, seja nas questões de documentação que eles podem estar com dificuldade, ou terem perdido nessa situação, né? De ter se extraviado. E seja também nessa articulação junto com a SJDH - que eu acredito muito que, a gente trabalhando interligados, a gente pode beneficiar melhor o nosso assistido".
A ação foi coordenada pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado, em conjunto com autoridades federais e municipais para garantir acesso à cuidados de saúde e à segurança dos trabalhadores.
A recolocação deles no mercado de trabalho e ações preventivas também serão desenvolvidas, de acordo com o secretário de Justiça e Direitos Humanos da Bahia, Felipe Freitas.
"É uma iniciativa, junto à Secretaria de Trabalho, Emprego e Renda, para que a gente possa recolocar essas pessoas no mercado de trabalho em condições de trabalho decente. Paralelamente à essas iniciativas, nós vamos reunir a Comissão Estadual pela Erradicação do Trabalho Escravo e nós vamos discutir com o Ministério Público Federal, Polícia Federal, Ministério dos Direitos Humanos, uma iniciativa, uma concertação nacional para que nós possamos desmontar essa rede de aliciadores. E o mais importante: desenvolver medidas preventivas para que casos como esse não voltem a acontecer".