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Direitos Humanos

Histórias Raras #5 🎙️ Raros e nada típicos

Temporada 2, episódio de estreia: o que TDAH e Tourette tem em comum?
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Leyberson Pedrosa e Patrícia Serrão
27/07/2023 - 15:19
Brasília e Rio de Janeiro
Imagem mostra o título
© Arte / Agência Brasil

Na segunda temporada de Histórias Raras, a gente conversa com pessoas que  tiveram o diagnóstico de alguma neurodivergência depois de adultas. No episódio #5 Raros e nada típicos, Alana Yaponirah e Fábio Cizotti relatam o baque de se descobrirem com cérebros atípicos depois dos quarenta anos de idade.

Alana é terapeuta, divorciada, mãe de dois filhos e tem transtorno do Déficit de Atenção (TDAH). Em 2022, a lei 14.420 de 2022 instituiu a Semana Nacional de Conscientização sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). As ações de conscientização devem ocorrer sempre na semana que abrange 1º de agosto.

No caso de Alana, apesar dos sintomas começarem ainda na infância, o diagnóstico chegou depois de uma vida típica, cheia de altos e baixos. Por isso, Alana nos ajuda a entender o impacto do diagnóstico tardio de uma neurodivergência.

E Fábio Cizotti faz ponte entre a primeira e a segunda temporada de Histórias Raras. Em 2021, ele se descobriu com a Síndrome de Tourette durante um evento sobre doenças raras. Essa comorbidade neurológica gera tiques motores e vocais involuntários. Além de não ter cura, parece não ser tão rara assim. Saiba o porquê ao longo do episódio.

Você pode ouvir o episódio na íntegra. Se preferir, pode navegar pelas partes abaixo até o trecho desejado:

▶️ 00:00 Prólogo: conheça Alana e Fábio
▶️ 04:10 Abertura: nova temporada
▶️ 05:02 Parte 1: TDAH, nem tão raro assim
▶️ 10:31 Aviso de utilidade pública
▶️ 11:12 Parte 2: Tourette, um raro nada típico
▶️ 18:26 Créditos
▶️ 20:06 Pós-créditos

 

  • Prólogo: conheça Alana e Fábio
 

[música tema do Projeto Pulsos] 🎶

[Alana] Eu sempre me senti meio inadequada, mas até (palavra inaudível... a minha vida funcional e estava tudo bem, né? Muitas pessoas vivem sem saber de si, sem saber absolutamente nada de si…Porque eu me achava tão inadequada.

[Leyberson] Inadequada. É com esse adjetivo que Alana Yaponirah define as questões que a acompanham desde criança. [música ao fundo para de tocar] 🎶

[Leyberson] Alana só encontraria algumas respostas depois de adulta, quando finalmente entendeu ser dona de um cérebro atípico.

[Alana] No início, eu fiquei, meu Deus, então, quer dizer que era isso, isso responde…A minha inadequação, a minha falta de…eu acho que eu me sentia não encaixada.

[Leyberson] Antes de explicar “o que era isso”, a gente pede licença para comparar o cérebro de Alana a um lego cheio de possibilidades, mas com todas as peças desmontadas. [som anuncia voz acelerada] 🎶

[Leyberson] Quando digo LEGO, me refiro a qualquer brinquedo que tenha blocos de construção feitos de plástico, madeira ou outro material, independente de marca. Bem, vocês entenderam! [som anuncia fim da voz acelerada] 🎶

[Leyberson] O cérebro de Alana consegue criar conexões bem funcionais com esses blocos imaginários. Uma casa com janelas e portas, por exemplo. Também é provável que surjam simultaneamente vários projetos inacabados e uma bagunça considerável de peças espalhadas. [trilha sonora toca ao fundo por breve momento] 🎶

[Leyberson] Alana tem Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Esse transtorno é neurobiológico e costuma ser identificado na infância porque é ali que ele começa a se manifestar.

[Alana] Sabe quando é que as pessoas que têm neurodivergência são diagnosticadas quando criança? Quando o comportamento delas interfere na vida de outras pessoas. Quando aquele comportamento dela angustia o outro, porque não é sobre ela, porque ela tá vivendo ali a vida normal dela, e pra mim aquilo era o meu normal.

[Leyberson] Mas a descoberta precoce nem sempre é possível. Alana cresceu, teve depressão na adolescência, se recuperou. Estudou, teve filhos, se divorciou, se deprimiu de novo até que, somente aos 43 anos, foi diagnosticada com TDAH. [trilha sonora toca ao fundo por breve momento] 🎶. Um bloco desse lego sem regras até então invisível e que tanto a inquietava.

[Patrícia] E a gente leva a analogia do lego para outro cérebro atípico, o do Fábio Cizotti, o Fabinho. Ele já é figurinha conhecida aqui. É o marido da Roseli Cizotti, diretora de Comunicação no Instituto Vidas Raras e apareceu lá na primeira temporada. [som de rebobinar]

[Roseli - episódio 3] Havia 20 anos que ele tinha o diagnóstico errado e tomava a medicação errada, por isso ele não melhorava, só piorava. Então, hoje a gente tem o diagnóstico de síndrome de Tourette pro meu esposo e, pra minha surpresa, o meu menininho de 9 anos também tem. [som de rebobinar]

[Patrícia] Hoje o Fábio assume o protagonismo e nos ajuda a fazer a ponte entre as temporadas. Antes, os nossos protagonistas eram pessoas que conviviam direta ou indiretamente com doenças raras. Agora, os nossos entrevistados são neurodivergentes que, como o Fábio, podem ser raros também. Afinal, não vivemos fechados dentro de uma única caixinha. Bom, voltando. [som anuncia voz acelerada]

[Patrícia] Nos próximos episódios, a gente vai explicar melhor esse tal conceito NEURODIVERGÊNCIA. Antes, que tal maratonar a primeira temporada? Depois desse episódio, é claro! São histórias raras de pessoas que não se resumem as suas caixinhas, digo aos códigos de suas doenças. Ah, aproveite para seguir a gente na sua plataforma de podcast. Assim, você será notificado quando sair os próximos episódios. Um por semana, hein! Bom, voltando! [som anuncia fim da voz acelerada]

[Patrícia] O Fábio se descobriu com um cérebro atípico depois de adulto. Ele tem a Síndrome de Tourette, um distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado por múltiplos tiques, motores ou vocais.

[Fábio Cizotti] A síndrome de Tourette minha vem desde quando eu tinha oito anos, foi a primeira vez que surgiu assim, sete, oito anos, e eu fui conseguir o diagnóstico agora com 44, né? Foi num encontro que estava tendo de doenças raras e lá tinha uma médica, uma neurologista, a doutora Sara, e ela percebeu algumas coisas que ela achou um pouco diferentes em mim, alguns tiques que eu tinha. Ela fez todos os exames, fez muitas perguntas, muitas coisas assim, e aí ela chegou à conclusão que tinha Síndrome de Tourette.

  • Abertura: nova temporada
 

[trilha sonora do episódio toca ao fundo] 🎶

[Leyberson 8] Olá! Sou Leyberson Pedrosa, jornalista da EBC. Quem continua a me acompanhar nesta jornada é a Patrícia Serrão.

[Patrícia 5] Oie de novo! Nas próximas semanas, a gente explora esses arranjos diversos de lego na vida de nossos entrevistados.

[Leyberson 9] Bloco a bloco, a gente reconstrói histórias de pessoas que se descobriram neurodivergentes depois de adultas. [trilha sonora para de tocar] 🎶

[Leyberson 10] Episódio 5: RAROS e nada típicos. [trilha sonora toca ao fundo] 🎶

[Patrícia 6] Neurodivergentes é o tema da segunda temporada de Histórias Raras, um podcast original da Radioagência Nacional.

[Leyberson 11] Para a criação do Histórias Raras, contamos com o apoio de produção de Simone Magalhães, sonoplastia de José Maria Pardal, design de Caroline Ramos e a revisão final de Bia Arcoverde.

[Patrícia 7] E nos minutos finais do episódio você encontra a escalação completa de quem nos ajuda a distribuir o Histórias Raras nas plataformas digitais e também na Língua Brasileira de Sinais (Libras).

 
  • TDAH, nem tão raro assim
 

[trilha sonora toca ao fundo por breve momento] 🎶

[Leyberson] Neurodivergentes, parte 1: Nem tão raro assim.

[Patrícia] Cérebros atípicos, neurodivergência, inadequação. Você já deve estar se perguntando se o TDAH é tão raro assim para justificar abrir a nova temporada?

[Leyberson] A resposta é: nem tanto. A Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) estima que o TDAH esteja presente entre 5 e 8% da população mundial.

[Patrícia] Numa hipótese mais conservadora, a cada 100 mil pessoas no mundo, 5 mil são afetadas pelo TDAH. Já no caso de uma doença rara, esse número se reduz para até 65 indivíduos a cada 100 mil. [trilha sonora toca ao fundo] 🎶

[Leyberson] Deixando um pouco os números de lado, o que torna essa e outras histórias raras para a gente é a descoberta tardia de uma doença oculta, somente na vida adulta.

[Patrícia] O TDAH é um transtorno de causas genéticas que aparece na infância. Quando não identificado e tratado corretamente, os sintomas podem ser confundidos com outras comorbidades, dificultando o diagnóstico.

[Leyberson] Foi o que aconteceu com Alana. Durante a pandemia de covid-19, aquela depressão lá da adolescência tinha voltado. Só que esse incômodo recorrente a fez buscar ajuda.

[Alana] E nesse período eu fui em um psiquiatra pelo quadro de depressão, porque muitas pessoas vão atrás de diagnóstico na fase adulta, ou por causa de um filho, ou por questões de você estar com comorbidade. Aí, depois desse quadro de depressão, a gente foi investigar um pouco mais a fundo através do meu outro psiquiatra, que eu passei para outro, aí ele fechou o quadro do TDAH.

[Patrícia] O diagnóstico chegou para Alana bem depois dela ter feito duas faculdades, ter se casado, tido dois filhos, se divorciado. Enfim, depois de ter vivido uma vida típica e, ainda assim, inquietante.

[Alana] O meu diagnóstico eu estava com, deixa eu ver, eu estou com 45, vou fazer 46, eu já estava com 42 anos. E foi um baque que é muito grande, mas acho que se você ter um diagnóstico é como se você tivesse uma resposta.

[Leyberson] O diagnóstico não veio para Alana como se fosse um oráculo que tudo sabe. Mas por se tratar de uma doença, fez com que Alana começasse a enfrentar melhor as características do TDAH como se fossem feras arredias:

[Alana] E eu penso hoje em tratar os meus filhos para que eles não passem pelo que eu passei, para que as cargas que eu levei, os leões, eu digo: que se uma pessoa mata um leão por dia, eu mato três por dia, no sentido figurado na metáfora.

[Patrícia] E leões imaginários da Alana continuam a renascer diariamente. Mas com o diagnóstico, terapia, exercícios físicos e acompanhamento médico, ela pode finalmente domesticá-los e até chamá-los pelos verdadeiros nomes.

[Leyberson] O primeiro leão é a DIFICULDADE DE ATENÇÃO, que dificulta o foco em tarefas mais chatas e repetitivas. A outra fera é a HIPERATIVIDADE, que não para quieta e está sempre tentando fazer várias coisas ao mesmo tempo. E a última fera é a tal IMPULSIVIDADE, que teima em fazer as coisas sem pensar.

[Patrícia] Aí você pensa: legal a metáfora. Pardal, coloca um rugido aí pra cada característica dita:

[som de miado de um gatinho]

[Patrícia] Não, Pardal, rugido de leão, né.

[Leyberson] IMPULSIVIDADE [som de um leão bravo]

[Leyberson] HIPERATIVIDADE [som de vários leões]

[Leyberson] DIFICULDADE DE ATENÇÃO [piados de passarinhos]

[Patrícia] Assim, para cada leão e esse piado teimoso de PARDAL, temos uma característica de TDAH. Por essa lógica, logo, logo esses leões vão virar gatinhos na mão de Alana.

[som de vários gatinhos miando]

[Patrícia] Só que, durante a entrevista, ela me lembra de um pequeno grande detalhe. Leões andam em bando.

[Patrícia] Você fala que tem que matar três leões por dia…

[Alana] Meu Deus, em relação à maternidade, eu vou dizer que são seis leões.

[Patrícia] Afinal, Alana é mãe. Diga-se de passagem, uma mãe neurodivergente.

[som anuncia voz acelerada]

[Patrícia] Bem que seria legal um capítulo à parte sobre maternidades neurodiversas, né? Ah é, é o que to fazendo, vai sair na próxima semana. Então, podem soltar as feras.

[som anuncia fim da voz acelerada]

[Patrícia] Mas voltando para Alana…

[Patrícia] E você acha que o TDAH teve alguma influência na sua maternidade? É mais difícil?

[Alana] Hoje, o meu TDAH eu estou investigando essas questões com a minha filha, mais durante a pandemia, Maya faz terapia, ela já fazia a pandemia e continuou fazendo para que as minhas questões não atrapalhem as questões dela.

[Leyberson] Alana é mãe de João Vitor, de dezenove anos, e de Maya, de seis. Sem saber do TDAH, ela colocava tudo na conta da maternidade: a agitação, a irritabilidade e o esgotamento constante que sentia.

[Patrícia] Quando a Maya era bebê e quando o João Vitor era, Alana, você ainda não tinha o diagnóstico de neurodivergência…você acha que isso teria…?

[Alana] Engravidei muito cedo, né, casei muito jovem e era normal, mas se eu tivesse descoberto que eu tinha uma neurodivergência, isso teria feito toda a diferença na minha vida, porque eu teria me visto com um pouco mais de cuidado, eu teria me visto com um pouco menos de dureza, eu teria me cobrado menos, eu teria sido mais justa e gentil comigo. E é isso que eu procuro fazer com os meus filhos hoje.

[Patrícia] Alana já tinha percebido que a filha mais nova, Maya, tem demonstrado características semelhantes ao TDAH da mãe. E para tentar quebrar o ciclo de diagnóstico tardio, ela já iniciou uma série de investigações médicas. Talvez seja TDAH mesmo, mas ela prefere não se precipitar no diagnóstico, ainda mais depois de uma pandemia que revirou a rotina das famílias, inclusive das crianças.

[sons de várias crianças e de rugidos de leões]

[Leyberson] A gente dá uma pausa na história de Alana, que não se resume ao TDAH. Ela volta no próximo episódio dedicado às maternidades neurodiversas.

  • Aviso de utilidade pública
 

[trilha sonora toca ao fundo por breve momento]

[Patrícia] E antes de retomar a história do Fábio Cizzoti, um recado importante:

[Leyberson] O cérebro é um grande labirinto neurocognitivo. O diagnóstico de TDAH não é um bingo que aparece quando você completa a cartela da desatenção, inquietude e impulsividade. Às vezes, pode ser só cansaço ou sinal de outra doença.

[Patrícia] Há diferentes transtornos com sintomas parecidos. Por isso, é preciso uma investigação médica séria, baseada em evidências científicas. Se você se sente identificado com os sintomas relatados, o primeiro passo é conversar com seu médico de confiança.

[Leyberson] E se a dúvida persistir, ir atrás de mais opiniões médicas.

  • Parte 2: Tourette, um raro nada típico
 

PARTE 2: UM RARO NADA TÍPICO

[trilha sonora toca ao fundo por breve momento] 🎶

[Leyberson] Neurodivergentes, parte 2: um raro nada típico.

[Patrícia] Nesta temporada, já não é mais spoiler que eu sou uma jornalista com doença rara.

[som de rebobinar]

[Patrícia - episódio 3] Eu tenho uma síndrome rara, eu não sou uma síndrome rara, eu sou uma pessoa. Pra além da doença, existem outras coisas, e essa nossa série veio falando disso, veio falando das pessoas, das dificuldades delas, e a gente vê que muitas das dificuldades foi de compreensão, foi de acolhimento, foi de empatia.

[som de rebobinar]

[Patrícia] De vez em quando eu vou nos eventos que o Instituto Vidas Raras realiza. E lá eu encontrei o Fábio, marido da Roseli, algumas vezes. Ele costuma ficar nos bastidores cuidando da esposa, que trabalha no Instituto, e do filhinho de 10 anos. Ele se preocupa com o almoço deles, os lanchinhos, distrair o menino, com todas as coisas de bastidores. Mesmo ali, Fábio não aparenta ter algo fora do comum. Os tiques que o afligem são cíclicos e costumam estar controlados.

[Fábio] A síndrome de Tourette, ela mexe com o neurológico da gente. Quando eu comecei, eu lembro que eu piscava muito, aí depois fazia barulho com a boca, umas coisinhas assim, mas eu achava que era uma coisa normal da idade, mas já eram sintomas da síndrome, né?

[Patrícia] Na última década, uma série de pesquisas científicas começou a chamar atenção para a subnotificação da Síndrome. Em artigo revisado por pares de cientistas e publicado na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos em 2021, a gente encontra a seguinte pergunta: Síndrome de Tourette é uma condição rara? O artigo tem um resumo bem objetivo, que se a gente traduz livremente do inglês:

[texto é lido em português e em inglês]

[Leitura do resumo em inglês] Based on its prevalence, Tourette syndrome cannot be considered a rare condition. However, in this opinion article, we make the claim that it should nonetheless be considered as an orphan or neglected disease.

[Leitura da tradução em português] Com base em sua prevalência, a síndrome de Tourette não pode ser considerada uma condição rara. Neste artigo de opinião, no entanto, afirmamos que deve ser considerada uma doença órfã ou negligenciada.

[Patrícia] A condição de Fábio pode não ser tão mais rara, mas continua com pouca visibilidade. Não à toa, Fábio foi diagnosticado por uma neurologista que participava de um evento sobre doenças raras. A partir daí, a vida do Fabinho mudou. Ele passou a pesquisar mais sobre o assunto e se aceitar mais.

[Fábio 3] Geralmente é assim, começa com um tique no olho, depois no ombro, alguma coisinha assim, aí depois tem quando é muito grave, é muito forte na pessoa, a pessoa pode até falar palavrão, gritar, do nada assim, tá de boa, do nada começa a gritar, começa a falar palavras bem alto, sabe, graças a Deus não é o meu caso, o meu é leve, o meu é do meu menino, o meu menino também tem, nós somos leves.

[Patricia 28] Mesmo tendo um quadro dito leve da síndrome, ele conta que sofreu bullying na infância. Por isso, fica aliviado pelo diagnóstico precoce do filho. Do outro lado, se sente pesaroso em não ter descoberto a doença bem antes.

[Fábio 4] O diagnóstico o meu, realmente, demorou muito e isso trouxe muitas coisas assim, acarretaram muitas coisas na minha vida, né, quando eu não sabia o que eu tinha. Por exemplo, eu acabei desistindo da faculdade, porque, junto ao Tourette, você pode ter o TDAH. Eu tinha muita dificuldade em guardar as coisas, em conseguir estudar, em prestar atenção, né, nas coisas que às vezes você falava uma coisa agora, dali em cinco minutos você já não tava mais lembrando. Então, quanto mais cedo o diagn óstico, melhor.

[Patricia] TDAH? Mas não era Tourette? Na verdade, além de Fábio ser um marido e pai carinhoso, ele também é uma pessoa com doença subdiagnosticada, a Síndrome de Tourette, e TDAH. Essa associação de Tourette com outros transtornos comportamentais e psiquiátricos já foi amplamente estudada e comprovada.

[tema do extinto programa televisivo Telecurso 2000] 🎶

[Patricia ] No artigo “Síndrome de Tourette: aspectos genéticos atuais”, publicado na revista brasileira Neurociências, os autores explicam que “as desordens mais comumente associadas ao Tourette são o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

[fim do tema do extinto programa televisivo Telecurso 2000] 🎶

[Patricia 31] É possível que existam fatores hereditários comuns a essas três condições, apesar da causa ainda ser desconhecida. Em um dos estudos citados na revisão, a associação de Tourette e TDAH em crianças e adolescentes era de 12%.

[Fábio 5] Hoje eu já não sinto tanta diferença, porque eu aprendi a conviver com isso. Mas a gente tem dificuldades maiores, lógico do que os outros, pelo fato de o TDAH que judia muito da gente, né? A gente não consegue guardar bem as coisas, e hoje o mundo te exige que você seja uma pessoa que estude, que você guarde tudo, que você esteja concentrado 100%. Às vezes eu falo que a minha cabeça parece que ela está a 200 ligada, direto.

[música tema do Projeto Pulsos] 🎶

[Leyberson 26] E aqui eu volto para dizer que a temporada só está começando. Teremos mais histórias como a de Alana…

[Alana] Que desencadeiam em mim crises de, que a gente chama de a paralisia do TDAH. Quando chega o fim do dia, eu to esgotada.

[Leyberson] e do Fábio.

[Fábio] Tem hora que eu não consigo entrar no que o mundo exige. Esse padrão de que você tem que estar toda hora sendo forte, toda hora conseguindo gravar bem as coisas. E na hora de escrever o roteiro, confesso que não foi fácil pois eu me identifico com as histórias. Foram décadas de vida, consultas, terapia e laudos até descobrir que a sombra do TDAH era real.

[Leyberson] Enquanto escrevo, sinto que o roteiro não acaba nunca. Aí penso na quantidade de entrevistados e no cronograma de tarefas pela frente. E vem a ansiedade! Afinal, escrever é só o começo.

[som anuncia voz acelerada] 🎶

[Patrícia] Depois do roteiro, ainda tem o trabalho de cortar e montar as entrevistas, fazer a locução, enviar ao sonoplasta, revisar, enviar para divulgação, acompanhar a transcrição para Libras e torcer para que, no fim, não passe nenhum erro de desatenção no final.

[som anuncia fim da voz acelerada] 🎶

[Leyberson] Até aqui, faz parte do trabalho e, ao nosso jeito, com a ajuda de profissionais como, por exemplo o Rafael Thomaz, que está aqui operando o áudio, a equipe funciona bem.

[trilha sonora toca ao fundo brevemente] 🎶

[Leyberson] Só que do nada me vejo formatando a fonte e a cor do texto do roteiro que sequer vai aparecer no produto final. Me canso, bebo água. Volto e tenho que reler tudo para voltar de onde parei. Mas aí uma conversa ao fundo na redação me tira da linha. E volto a mexer na formatação do texto.

[Leyberson] No final das contas, o episódio sai no prazo, só que eu percebo o desgaste. Ainda mais quando a sociedade tenta encaixar as peças desse lego que não precisa ter encaixe, mas sim compreensão e adaptação.

[trilha sonora toca ao fundo brevemente] 🎶

[Patrícia] Além do TDAH, isso ocorre também com outros transtornos neuropsiquiátricos. Nesta temporada, a gente ouve histórias de pessoas com autismo, Síndrome de Savant, autismo com TDAH, altas habilidades, dislexia e tudo e junto e misturado.

[Leyberson] E enquanto retomo o fôlego, quem assume os leões do próximo roteiro é a Pati.

[Patrícia] Até lá!

  • Créditos
 

[música tema do Projeto Pulsos] 🎶

[Leyberson] Histórias Raras é um podcast da Radioagência Nacional apresentado por Patrícia Serrão, responsável pela concepção de pauta, produção e entrevistas. A Simone Magalhães colabora na produção dos episódios. Ela é escrita e dirigida por Leyberson Pedrosa, responsável pela ideia do formato. Eu também participo da apresentação, entrevistas e montagem dos episódios.

[Patrícia] A edição de roteiro e coordenação de equipe são da Bia Arcoverde. A sonoplastia e identidade sonora são de José Maria, o Pardal. Na operação de áudio, Toni Godoy, Rafael Thomaz, Fabio Luiz e Rafael Espindola.

[Leyberson] E a gente não pode esquecer da Lúcia Safatle, que também ajudou a gente aqui na operação de áudio.

[Patrícia] Isadora Pimentel colaborou com a gente neste episódio com a indicação de estudos científicos. Ela faz a voz em inglês do resumo do artigo "Is Tourette syndrome a rare condition?".

[Leyberson] E a Marizete de Souza é quem lê a versão do resumo livremente traduzida para o português.

[Patricia] Liliane Farias e Raíssa Saraiva atuam nas estratégias de publicação e distribuição em redes. A identidade visual e design nesta temporada é de Caroline Ramos.

[Leyberson] A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é interpretada por Neide Lins. O Youtube tem direção de vídeo de Lorena Veras e captação de imagens de Daniel Hiroshi. A edição do vídeo ficou por conta de Felipe Leite e Fernando Miranda.

[Patrícia] Esta série tem finalidade jornalística e utilizou trechos de artigos científicos. Os links do material estão disponíveis em bit.ly/historiasraras5. A gente também usa dados do CID-11, Classificação Internacional de Doenças, publicado pela Organização Mundial de Saúde.

  • Pós-créditos
 

[Patrícia] Nasce uma mãe, nasce uma culpada, né?

[Alana] Aí vem isso, a culpa, será até que ponto a neurodivergência a minha está influenciando na dela, na criação, e isso eu tenho tratado muito em terapia, porque é desafiador, extremamente desafiador. Nasce uma mãe, nasce uma culpada, né? É muito difícil.

[Patrícia] E ela bebê, como é que você controlava o volume?

[Ana Rosa] Como é que controlava? Não controlava… O problema é o choro que não passava, aquele choro de cólica. É muito difícil. Tinha horas que parecia que eu realmente estava entrando em meltdown e não sabia. Então, eu acho que muitas vezes eu entrei em meltdown e não sabia.

[Thaís] Eu não acho que culpa materna seja algo natural. Eu acho que isso é completamente introjetado na cabeça das mães. Eu não sinto essa culpa materna, eu sei o que eu tenho capacidade de fazer, eu sei o que eu não tenho capacidade de fazer. Eu efetivamente faço o melhor que eu puder. Eu busco as informações que preciso e se não chegar no resultado, paciência.

[Obrigad@ 🤝 Até o próximo episódio!] 🎶

Apresentação e entrevistas:Leyberson Pedrosa e Patrícia Serrão
Roteiro, direção, formato e montagem: Leyberson Pedrosa
Concepção de pauta e produção: Patrícia e Simone Magalhães (apoio)
Edição de texto e coordenação: Bia Arcoverde
Identidade sonora e sonoplastia: José Maria Pardal
Operação de áudio: Toni Godoy, Rafael Thomaz, Fabio Luiz e Lúcia Safatle
Leitura do resumo: Marizete Cardoso (Isadora Pimentel colaborou)
Distribuição em redes: Liliane Farias e Raíssa Saraiva
Identidade visual e design gráfico: Caroline Ramos
Versão em Libras: Neide Lins (intérprete); Lorena Veras (direção de vídeo); Daniel Hiroshi (captação de imagem)e Felipe Leite e Fernando Miranda (montagem em vídeo).

A implementação web desta página foi feita por Leyberson Pedrosa sob código desenvolvido por Renata Haerdy para o especial Histórias Raras.
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