Movimentos Negros fizeram manifestações pelo fim da violência racial
Nesses últimos dias, temos acompanhado diversas notícias sobre balas perdidas e suspeita de execução de pessoas que moram nas favelas. Nesta quinta-feira, Movimentos Negros de todo o país organizaram manifestações para pedir o fim da violência racial. O dia 24 de agosto foi escolhido por ser o dia que morreu o advogado e abolicionista Luiz Gama e também o sétimo dia da morte de uma líder quilombola e mãe de Santo na Bahia.
Em São Paulo, os manifestantes caminharam pela avenida Paulista com faixas pedindo o fim da violência policial e por justiça pelo assassinato de Maria Bernadete Pacífico, ou Mãe Bernadete. Ela tinha 72 anos, era ialorixá e liderança quilombola. Ela foi morta a tiros no último dia 17, dentro de casa, na companhia dos netos, no Quilombo Pitanga dos Palmares, na cidade de Simões Filho, região metropolitana de Salvador.
Antes de tomar a rua, líderes de religiões de matriz africana fizeram um ritual pedindo proteção e justiça
A ialorixá Mãe Claudia de Oyá era uma dessas lideranças e ela mostrou toda a indignação que negros vêm sofrendo no país.
A Iyalodê Marisa de Oya pediu respeito à vida e as tradições do povo negro.
A passeata também contou com a presença de mães que perderam filhos pela violência policial, como os 9 jovens que morreram pisoteados em 2019 depois de uma operação da Polícia Militar em um baile funk na favela de Paraisópolis.
Além de São Paulo, foram registrados atos em outras 24 capitais, incluindo o Distrito Federal. Em Salvador, foi celebrada a missa de sétimo dia da líder quilombola. A família participou da celebração sob escolta da PM.
Desde o assassinato, a família, que já recebia proteção da Polícia, deixou o quilombo por medo de novos atos violentos. O quilombo Pitanga dos Palmares é palco de um conflito agrário que se estende há pelo menos seis anos. Em 2017, o filho de mãe Bernadete, Flávio Gabriel Pacífico, o Binho do Quilombo, também foi morto a tiros. Líderes quilombolas criticam a demora na titulação do território como origem do conflito.
Nessa quarta-feira o INCRA notificou 44 pessoas que se dizem proprietários de terra ou ocupantes na região do quilombo para contestar a demarcação.
Os atos também lembraram das chacinas mais recentes em favelas de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
As mobilizações em todo o país foram convocadas pela Coalização Negra por Direitos e a Convergência Negra, que reúnem vários coletivos do movimento negro.