A cada quatro horas uma pessoa negra foi morta pela polícia em cinco estados do Nordeste, dois do Sudeste e um do Norte. A informação é do boletim “Pele Alvo: a bala não erra o negro”, feito pela Rede de Observatórios da Segurança. A coordenadora da Rede, Taís Custódio, analisa os motivos por trás desses números.
"Tentamos evidenciar de forma que possamos construir essa contextualização de um histórico brasileiro pautado numa política nacional de segurança apoiada num aparato bélico, patrimonialista, truculenta e que é ineficiente e mantém a perpetualização do racismo dentro dessa lógica que segue ainda em curso".
Os dados de 2022 foram obtidos junto às secretarias estaduais de segurança pública da Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo os dados oficiais, eram negros os 87,35% dos mortos por agentes de segurança estaduais.
Na Bahia a população negra é 80,80%. A escalada da violência no estado tem como principal motivação as operações policiais e a guerra às drogas.
No ranking de 2022, o Pará já se coloca como o segundo estado com maior percentual de negros mortos em operações policiais, com 93,90% dos casos. A capital, Belém, tem o maior número de mortes por intervenção policial, 83 casos, seguida pela cidade de Parauapebas, com 41.
Rio de Janeiro e São Paulo também chamam a atenção pela alta letalidade contra pessoas negras por agentes de segurança. No Rio de Janeiro, 54,39% da população é negra, mas o número de óbitos representa 86,98%. Apenas na capital foram registrados 33,40% dos casos fatais, com 444 mortes de pessoas negras, seguindo-se a região de São Gonçalo, com 131 casos.
Em São Paulo, cuja população inclui 40,26% de negros, as mortes destas pessoas por policiais somam 63,90% do total. Em 2022, São Paulo teve uma redução de 48,32% no número de mortes provocadas por agentes de segurança, desde 2019 — de 867 vítimas para 419 registradas ano passado. Os novos números decorreram de uma política de redução da letalidade aliada ao uso de câmeras corporais, mostrando que é possível a polícia ser menos violenta.
A Secretaria de Segurança de São Paulo informou, por nota, que a PM obedece parâmetros técnicos. A Secretaria do Pará informou que, neste ano, reduziu de 22% as mortes por intervenção de agentes do Estado. Na Bahia, a Secretaria da Segurança Pública diz que as ações policiais são pautadas dentro da legalidade. No Rio de Janeiro, a assessoria de imprensa informou que a questão racial passa por toda formação dos policiais e que foi a primeira corporação a oferecer a pretos uma carreira de Estado, e que hoje mais de 40% do efetivo é composto por afrodescendentes. As polícias dos outros estados ainda não se posicionaram.