Nos palcos, as metáforas foram a forma de driblar a censura no teatro

60 anos do golpe: Resistência da cultura na ditadura

Publicado em 10/04/2024 - 08:15 Por Carol Barreto, Repórter da Rádio MEC - Rio de Janeiro

No mês que completa 60 anos do golpe, a Rádio MEC preparou o especial "Resistência da Cultura na Ditadura", que conta como a Música Popular Brasileira, o Samba, o Soul, o cinema e o teatro resistiram à censura e às perseguições. A última reportagem mostra as estratégias adotadas no teatro para driblar a censura, por meio de metáforas que muitas vezes não eram entendidas pelo público. A resistência estava nos palcos!

"Eu sou um pobre caboclo, ganho a vida na enxada, o que eu colho é dividido com quem não plantou nada." | Show Opinião

Esse trecho do show “Opinião”, lindamente cantado na voz de Nara Leão, dá uma idéia do tamanho do trabalho que a censura imposta pela ditadura teria pela frente com o teatro brasileiro, que vivia naquele momento uma fase de intensa crítica social e política.

Teatro Oficina, Teatro Opinião, Teatro de Arena, Augusto Boal, José Celso Martinez, Flávio Rangel, Dias Gomes e Vianninha são alguns dos nomes que agitaram a produção teatral brasileira no período.

Professora titular do curso de Direção Teatral e do Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da UFRJ, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, Carmem Gadelha avalia o impacto do golpe de 64 no teatro brasileiro:

"É um teatro que se pretendia inicialmente revolucionário. De repente tem uma tônica na questão da resistência. Um certo consenso em torno de uma ideia democracia burguesa que tinha que ser recuperada, que tinha que ser alcançada né? Então esse aspecto revolucionário perde um pouco de ênfase pra poder criar algum tipo de consenso.

Ela define a censura do período como uma grande inutilidade: Quando as gavetas da censura foram abertas,todo mundo esperava que surgissem grandes textos, mas isso não aconteceu né? Quer dizer tudo que tinha sido censurado de alguma maneira foi liberado, de alguma maneira foi visto. Havia estratagemas também de criar uma linguagem de um tipo mais metafórico que pudesse de alguma maneira enganar a censura. E houve um período no final dos anos 70 por aí em que era tudo tão metafórico que as vezes perdia o sentido.

Responsável pelo Instituto Augusto Boal, Cecília Boal destrincha a crueldade da censura ao teatro na época:

Era uma censura muito cruel, porque primeiro as pessoas tinham que apresentar os textos aos censores, que já saíam cortando. Nós temos por exemplo no nosso acervo um texto do Marcos que sobraram acho quatro frases, o resto foi todo cortado, e depois a censura ia ver a peça quando ela já estava montada. Então você pode imaginar pra grupos como Teatro Arena o que isso significava porque tinham feito toda a despesa da produção e a censura chegava e falava não você não pode exibir esse espetáculo.

Uma belíssima reação eu acho que é um exemplo histórico foi a Feira Paulista de Opinião onde vários dramaturgos escreveram textos de uma pergunta que pensa você do Brasil de hoje e foi totalmente proibida pela censura e nós resolvemos todos juntos peitar a censura e estrear a peça de qualquer maneira. Ela conta que o marido, após ser preso e torturado, saiu da cadeia muito deprimido, extremamente magro. "E fui eu que o obrigou a sair do Brasil".

Clique aqui e acompanhe os outros episódios!

* O especial conta com a colaboração de Beatriz Arcoverde, da Radioagência Nacional.

Edição: Beatriz Arcoverde

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