Pela poesia Preto Téo desabafa dores e vivências da identidade trans

Podcast TRANSformando as Artes entrevista artistas transgêneros

Publicado em 24/05/2024 - 07:00 Por Akemi Nitahara - Radioagência Nacional - Rio de Janeiro

Brasília (DF) 17/05/2024 - Nova série | Podcast - Transformando as Artes - texteira_transformando
Arte EBC
texteira_transformando, por Arte EBC

Foi no Cursinho Popular Transformação, um preparatório para o vestibular voltado para pessoas trans, que Teodoro Martins, mais conhecido como Preto Téo, descobriu que os textos que ele chamava apenas de desabafos eram poesia, eram arte. Em 2016, junto com outros escritores, estreou na Antologia 30 Poetas Trans, Travestis e Não Binários.

Sua poesia não está ligada às métricas ela é muito forte na prosa e na fala poética. 

"E aí, no contexto do cursinho, a gente tinha oficinas de poesia. E eu comentei com a minha professora de literatura que eu tinha alguns escritos que eu chamava de desabafos. E ela pediu para ver e disse que meu trabalho já estava pronto, que aquilo era poesia, que aquilo era relevante, importante, e que logo eles abririam as inscrições para uma antologia trans."

Aos 29 anos, Preto Téo é artista e produtor cultural e vê a arte como um fazer diário.

"A arte representa um chamado, de um mistério que eu não posso nomear. Mas é um chamado cotidiano, diário, que todos os artistas sentem, que apesar das dificuldades de sobrevivência do nosso trabalho, apesar das dificuldades de veiculação, de visibilidade, de todas as dificuldades comerciais envolvidas no fazer artístico, o chamado permanece acontecendo. Assim, todos os dias eu tenho um pensamento criativo, todos os dias eu penso em uma melodia, todos os dias eu penso em um verso."

Além da primeira antologia trans de poemas impressa no Brasil, ele participou também do livro Textos para Ler em Voz Alta, publicado em francês, e lançou o livro EP, pela Padê Editorial. Multiartista, estreou em 2023, Como se (Des)fiz, performance solo acompanhada por beats e por percussão ao vivo. 

TRANSformando as artes

A série terá sete episódios, um por semana, publicados sempre às sextas-feiras, com sete entrevistas feitas pela Agência Brasil com artistas transgêneros, que vão desde precursoras do transformismo até revelações da atual cena artista musical e do audiovisual. 

Além de muita arte, as entrevistas revelam os sentimentos, lutas e conquistas que essa parte da população ainda enfrenta no país que mais mata pessoas trans no mundo. 

Algumas entrevistas já foram publicadas pela Agência Brasil, como parte das comemorações do Dia da Visibilidade Trans, em 29 de janeiro . Agora, trazemos a proposta revista e ampliada para os ouvintes da Radioagência, que terão a oportunidade de conferir as entrevistas completas em áudio, além do bônus com uma artista que não integrou a série original da Agência Brasil. 

PODCAST TRANSFORMANDO AS ARTES

SOBE SOM PRECISO ME ENCONTRAR – LINIKER🎶
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar

CAI A BG🎶

EPISÓDIO 2: PRETO TÉO

TÉO: Aproxima arrodeando
Quando vê já estou cá
Troca a carne, fecha o ciclo
Dá pra chuva desmanchar
Ni que canta essa cantiga
O trabalho já foi feito
Já quebrei tanta mandinga
Pra assobiar enche o peito
De mansinho desenrolando
Quando vê já fui pra lá
Troca a carne, fecha o ciclo
Dá pra chuva desmanchar
Aproxima arrodeando
Quando vê já estou cá
Troca a carne, fecha o ciclo
Dá pra chuva desmanchar

SOBE SOM PRECISO ME ENCONTRAR – LINIKER 🎶
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que eu me encontrar

CAI A BG🎶

MARI: Foi no Cursinho Popular Transformação, um preparatório para o vestibular voltado para pessoas trans, que Teodoro Martins, mais conhecido como Preto Téo, descobriu que os textos que ele chamava apenas de desabafos eram poesia, eram arte. Em 2016, junto com outros escritores, estreou na Antologia 30 Poetas Trans, Travestis e Não Binários.

MARI: Aos 29 anos, Preto Téo é artista e produtor cultural e vê a arte como um fazer diário. Além da primeira antologia trans de poemas impressa no Brasil, ele participou também do livro Textos para Ler em Voz Alta, publicado em francês, e lançou o livro EP, pela Padê Editorial. Multiartista, estreou em 2023, Como se (Des)fiz, performance solo acompanhada por beats e por percussão ao vivo. 

MARI: Olá, eu sou Mariana Tokarnia, repórter da Agência Brasil. Nesta série, trazemos sete entrevistas com artistas trans, para marcar as sete semanas entre o Dia Internacional Contra a Homofobia, 17 de maio, e o Dia Internacional do Orgulho LGBT, 28 de junho. Neste episódio, entre poesias, cantorias e toadas, Preto Teo fala sobre como desconstruiu a própria masculinidade para se tornar um homem trans e artista.

SOBE SOM LINIKER 🎶

MARI: Téo, primeiro, explica pra gente esses versos que a gente tocou na abertura do podcast.

TÉO: Essa música é um trechinho da Como se desfiz, é uma encanteria, é como se fosse uma música, bem curta, que se repete várias vezes, e eu fiz ela no contexto de resgate à memória do Demetrio Campos. Demetrio Campos foi um homem trans suicidado em 2020. Então eu quis que a gente ressignificasse a memória dele e pensasse não só na tristeza desse acontecimento, mas na transmutação que ele está passando e que todos nós passamos juntos com essa passagem, né.

MARI: Então fala um pouquinho da sua trajetória na poesia.

TÉO: Bom, no trabalho da poesia não tenho um trabalho muito ligado às métricas. Eu tenho um trabalho muito forte na prosa e na fala poética. Isso iniciou em 2016, quando eu fazia parte de um coletivo popular de educação chamado Cursinho Popular Transformação, que é um preparativo para vestibular direcionado para pessoas trans. E aí, no contexto do cursinho, a gente tinha oficinas de poesia. E eu comentei com a minha professora de literatura que eu tinha alguns escritos que eu chamava de desabafos. E ela pediu para ver e disse que meu trabalho já estava pronto, que aquilo era poesia, que aquilo era relevante, importante, e que logo eles abririam as inscrições para uma antologia trans. No meu primeiro ano de participação do cursinho, eu participei dessa antologia, a primeira antologia de poetas trans, travestis e não binários da América Latina. E a partir da publicação dos meus textos nesse livro, eu compreendi que, de fato, eu tinha muito a contribuir com a poesia e com a arte no geral. E a partir daí não parei mais. Em 2019, passo a fazer parte da organização do Slam Marginalia. Novamente, é uma batalha de poesias de pessoas trans aqui em São Paulo, que acontece no centro da cidade. Em 2016, para cá, participei de algumas antologias, tive algumas publicações, algumas revistas, enfim, várias coisas interessantes. Mas em 2022, eu participei dessa antologia que foi publicada na Suécia. Se chama Textos para Ler em Voz Alta. Então, eu tive dois textos que foram traduzidos para o francês. Quando esse livro chegou nas minhas mãos, e eu entendi que a minha arte tinha literalmente atravessado um continente, assim, um oceano. E ano passado eu estreei a Como Se (Des)fiz, que é uma performance solo acompanhada por beats e por percussão ao vivo, para falar sobre como eu desconstruí a minha masculinidade, porque no processo de transição de gênero, algumas coisas que já estão engessadas naquilo que se compreende como ser homem, acabaram se incutindo em mim, assim. Então eu tinha uma rigidez, algumas coisas do estigma do que é a masculinidade, sabe? Então eu passei por um processo de me permitir, me sensibilizar comigo mesmo, retomar as minhas referências de feminilidade, que sempre foram as minhas fortalezas, os meus portos seguros, para desfazer um pouco, desmontar essa rigidez e me permitir ser um pouco mais sensível, dialogar um pouco mais, falar sobre os meus sentimentos, né, que são coisas que a gente não acessa tão facilmente na masculinidade, sobretudo a negra.

MARI: E o que a arte representa pra você?

TÉO: Nossa, a arte representa um chamado, de um mistério que eu não posso nomear. Mas é um chamado cotidiano, diário, que todos os artistas sentem, que apesar das dificuldades de sobrevivência do nosso trabalho, apesar das dificuldades de veiculação, de visibilidade, de todas as dificuldades comerciais envolvidas no fazer artístico, o chamado permanece acontecendo. Assim, todos os dias eu tenho um pensamento criativo, todos os dias eu penso em uma melodia, todos os dias eu penso em um verso. Ou o meu corpo se move de uma maneira que me evoca algum acontecimento, ou algum acontecimento reverbera no meu corpo, na minha pele, na minha memória, e me faz querer transfigurar isso para alguma outra coisa. Assim, acho que a arte, eu consigo entender a arte como um sentimento, que eu preciso trabalhá-lo, preciso mantê-lo em movimento, preciso fazer ele acontecer, senão é como se eu sentisse um sufocamento, assim, como se eu me sentisse diminuído, sabe?

MARI: Quais são suas principais referências artísticas?

TÉO: Acho que uma das pessoas que me veio à mente a partir dessa pergunta é a Cidinha da Silva, que é uma cronista, escritora e poetisa negra, lésbica, que é muito potente, e com quem uma vez eu cruzei no festival Mário de Andrade, que é um festival literário que acontece aqui em São Paulo. Eu acredito que tenha sido em 2019, e eu já conheci a obra dela e ela estava no estande, né, com o selo dela apresentando os livros dela e eu quis cumprimentá-la estava super tímido, nervoso. E aí eu estava com o meu livro de crônicas, que é o Pra Começar, que é um livro de entrada, digamos assim, para as pessoas se interessarem por literatura, pensado no infanto juvenil. E sempre me admirou, na Cidinha, a facilidade com que ela tem de descrever o cotidiano nessas crônicas. E eu tenho um pouco disso também. E aí eu conversei com ela e disse, nossa, a Tatiana Nascimento, uma vez a Tatiana Nascimento é outra referência lésbica, negra, da poesia e da literatura que me preenche muito no seu fazer artístico. E foi uma das responsáveis pela publicação do meu livro. E numa conversa, ela falou, nossa, você é um excelente cronista. E eu comentei isso com Cidinha. Falei, nossa, uma vez a Tatiana Nascimento disse que eu sou muito bom com crônicas, mas eu tenho um pouco de vergonha e não sei muito bem o que fazer com esses escritos. E a Cidinha me olhou nos olhos, assim, e passou um tempo em silêncio, uns segundos em silêncio e disse, bom, eu conheço muito bem a Tatiana, você deveria confiar mais nela. E aquilo mexeu muito comigo. Foi como se ela tivesse aberto um portal naquele momento, assim. Onde eu soube que tudo era possível. Tudo que eu quero, imagino, crio, aqui, sozinho, e acho que são meros desabafos, tudo isso tem potência e merece estar no mundo.

MARI: Fala um pouquinho do Slam Marginália. Como surgiu, onde se reúne, qual a importância desses eventos para a afirmação das pessoas trans na sociedade?

TÉO: Bom, para quem não conhece o Slam Marginália é uma batalha de poesias autorais, organizada e feita para pessoas trans, não binárias e gênero dissidentes. A gente compreende enquanto bichas, sapatões e pessoas que não necessariamente se enquadram dentro do espectro transgênero, mas, enfim, não são hétero cisgêneros. A gente acontecia mensalmente lá na São Bento, no centro de São Paulo, toda primeira quinta-feira do mês. E era um espaço muito importante, vivo, na cidade. E estou falando no passado porque essa frequência acontecia antes da pandemia e era um espaço de representatividade para poetas e poetizas trans, porque geralmente nos outros slams da cidade, as pessoas trans, elas não se sentem tão contempladas, porque geralmente são minoria. E o que a gente discute no Slam Marginália também é o direcionamento da escuta de quem está ali participando da nossa roda. Então, a gente apresenta as regras de um Islã, então são três poesias autorais, no mínimo, a poesia deve durar três minutos, não pode acompanhamento cênico, não pode acompanhamento musical, e para os jurados, que sempre são escolhidos aleatoriamente no público, a gente encaminha essa reflexão que é aqui no Slam Marginália você vai acessar uma arte que não é a que você acessa na mídia todos os dias. Não é o que as grandes emissoras mostram todos os dias. Aqui são outros corpos. Estruturalmente, a sociedade te ensinou a privilegiar as mensagens ou a arte emitida por pessoas brancas, cisgêneras. O que a gente acessou inicialmente enquanto o que era poesia lá na escola, era a poesia cânone de poetas que já estão mortos, em sua maioria. Então, no Slam Marginália, a gente te propõe a escutar poesias de gente que está viva, gente que não é branca, gente que não é cisgênera. E isso tudo afeta nas temáticas e nos conteúdos das poesias. Ali a gente trabalha muito as nossas vulnerabilidades, e para além disso, os nossos sucessos, os nossos desejos, as nossas distopias, as nossas ficções. E era um espaço de trabalho para essas pessoas. Toda edição a gente circulava uma sacolinha entre o público, que poderia contribuir livremente com o que quisesse, com o que pudesse também, e sempre tentávamos construir um caixa para também remunerar as performances vencedoras e tal. E foi durante muito tempo, se eu não me engano, ainda é, a única batalha de poesias integralmente protagonizada por pessoas trans aqui na cidade de São Paulo. A gente tem um outro evento que se chama Transarau, mas aí não é uma batalha, é um sarau. Mas é isso, a importância do Slam Marginália era a representatividade, era criar um espaço de trabalho, continua sendo, né? Criar um espaço de trabalho, um espaço de veiculação e visibilidade de poéticas trans e articulação coletiva, criar ali um espaço em que a gente se aquilombava e se nutria, falava sobre saúde, falava sobre redução de danos e continua falando sobre estratégias de trabalho, de sobrevivência, porque nós, enquanto pessoas trans, estamos estruturalmente fora do mercado de trabalho formal. Então, para nós é muito importante, artisticamente, de uma maneira independente, a gente se reunir e pensar em conjunto as nossas estratégias.

MARI: E como está o Slam hoje? Mudou depois da pandemia?

TÉO: Bom, durante a pandemia o Slam Marginália foi contemplado pelo VAI e fizemos uma residência artística onde a gente conseguiu contemplar com bolsas de estudo diversas poetas e poetisas trans. A partir disso criamos uma revista chamada Ateliê de Culturidades Trans, onde o resultado desse ciclo de residência foi publicado. Isso foi bastante impactante para nós, assim, descobrir que virtualmente, ali fora do nosso espaço físico, a gente conseguia continuar se articulando e continuar produzindo, assim. Então, a partir do momento que a gente volta, que tem a possibilidade de voltar para as ruas, a gente também compreende e, né, não é só um caso das pessoas trans, é um caso da sociedade, depois da pandemia, as coisas ficaram muito mais difíceis, o nosso dinheiro tá rendendo muito menos. Então, para nós, e que fazíamos isso sem nenhum tipo de apoio financeiro, de aporte, ficou mais difícil, muito mais difícil do que já era, assim. Então nós diminuímos bastante a frequência do presencial. Inicialmente a gente estava fazendo uma vez a cada dois meses, ou quando éramos contratados por algum equipamento de cultura, e aí poderíamos remunerar não só a equipe, mas os artistas participantes. Hoje continuamos atuando assim, Então toda vez que alguém convida a gente ou que a gente fecha a parceria com algum espaço remunerado, a gente vai e leva, para além da equipe, artistas convidades. E é isso, tem acontecido de uma maneira mais espaçada. Na São Bento, a última vez que nós fizemos foi no início de 2023. Faz bastante tempo já, por causa do alto custo de estar na rua, tanto para nós, quanto para o nosso público. A gente sente que depois da pandemia também o nosso público ficou muito mais vulnerável. Muito mais difícil, o dinheiro de condução, se deslocar. A gente escolheu o centro porque o centro é um ponto estratégico de encontro das periferias. Então todas as periferias conseguem, teoricamente, chegar até o centro, é um ponto estratégico de encontro das periferias. Então, todas as periferias conseguem, teoricamente, chegar até o centro. É mais fácil chegar no centro quando você vem da Zona Sul do que chegar aqui em Hermelino Matarazzo, que é onde estou agora. Porém, é essa mesma realidade. Não é fácil se deslocar do Capão Redondo até o centro, sobretudo para uma pessoa trans. Então, é uma demanda de dinheiro de transporte e esse tempo também. Então a gente tem tentado manter a possibilidade de sempre remunerar as pessoas que estão participando. Então isso ficou bem mais difícil também de fazer acontecer. Mas é isso, a gente tá trabalhando mais agora com contratações artísticas e batalhas que a gente faz junto a equipamentos públicos, centros culturais, SESC, outros contratantes desse tipo.

MARI: A gente está falando de visibilidade, então fala pra mim como você vê a representação trans nas artes hoje em dia.

TÉO: Ainda muito desvalorizada. Tudo é negociação. Exu nos ensina que tudo é negociação. Tudo é uma via de mão dupla e troca. Porém, eu sinto que nós, enquanto pessoas trans, ainda somos muito desvalorizados, porque a gente ainda precisa, por exemplo, o que eu tenho de vivência pessoal e no meu coletivo Slam Marginália, é negociar aspectos que às vezes artistas maiores, de grande veiculação midiática, não precisam, assim, coisas simples, básicas, como logística, como alimentação, isso a gente ainda tem que trabalhar pelo básico, né. Mas estamos cada vez mais hackeando esses espaços que nos são negados, estruturalmente, sistematicamente negados, assim. Eu vejo que existem algumas, sobretudo mulheres trans e travestis, mais visíveis hoje nesse campo, assim, como Castiel Vitorino, que tem agora trabalhos expostos em grandes exposições de arte, estava presente na última Bienal de São Paulo. Nessa última Bienal de São Paulo, inclusive, junto à Casa de Candaces, que é a minha família da Ballroom, fizemos uma ball lá maravilhosa, que se chamou Black and Gold, foi a nossa terceira edição, e foi uma ball muito especial e muito bem recebida também pela equipe da Bienal, assim, naquele momento tomou muito cuidado com a gente. Então acredito que nós estamos chegando, ainda estamos longe do nosso ideal, ainda estamos muito longe de dizer que estamos conseguindo sobreviver tranquilamente. Não temos patrocínios, não temos grandes negócios com grandes marcas, são as minorias das grandes artistas que alcançaram esses lugares. Mas a arte dependente transgênera resiste, persiste e hackeia todos os espaços possíveis. E aí essa semana, por exemplo, pediram para organizar uma batalha de poesias e aí surgiu em algum momento esse comentário assim, mas a gente procurou, procurou e não encontrou muitos poetas trans que atuam em batalha. A gente: é diferente você não conhecer os artistas trans que fazem as coisas, que produzem essas coisas, do que eles não existirem. Eles existem, nós existimos em todos os lugares, estamos em todas as vertentes artísticas, estamos na poesia, estamos na literatura, estamos nas artes cênicas, nas artes visuais, na direção de arte, estamos na produção, estamos na graxa, somos técnicos, somos iluminadores, somos tudo, fotógrafos, diretores, estamos cada vez mais crescendo nos nossos campos, mas o que a gente precisa hoje é de oportunidades, assim, para mostrar para que a gente veio, a qualidade e excelência do nosso trabalho. Então, vejo que tem melhorado, mas que ainda faltam também políticas públicas direcionadas para nós, especificamente, que garantam os nossos direitos de sobrevivência, de subsistência para os nossos trabalhos também.

MARI: Então, pra gente terminar, quer nos presentear com mais um trecho da sua poesia?

TÉO: Vou mostrar aqui uma rima que se chama Conexão Erê, que é um trechinho da minha performance Como Se (Des)fiz.
Nada me pariu assim, bem acabado
não fui receita ou plano
fui tão pouco meta, fui descoberta
em cada passo um novo achado
especialista em confundir e encantar o espelho
quando o sol me viu na rua já não me gostaram
mas de um povo que de tanto se planeja a morte
encontrei, fui criando logo umas bicas de vida
nascente em que achar são poucas, mas também se vira
e nasci, pode crer, no olhar daqueles que me amam
cortei fora a língua e o bico de quem me punia
afoguei, devolvi tudo que já não me servia
firmei o fundamento segunda ao meio-dia
E quando achar que vai parar
Se achar que vai parar
Vai perceber que é forte a correntia de além mar
Se achar que vai parar 
Achar que vai parar
Vai perceber que é forte a correntia de além mar
Esse pinto menino quer de brincar
Tá brincando um sorriso pique de ere
Rei da encruza te guia no caminhar
Nada para o menino que há de vencer.

Esse é um trecho de Conexão Erê, é uma das músicas que eu trabalho na minha performance Como Se Desfiz, um solo acompanhado por beats de hip hop e performance de atabaque, percussão ao vivo, convido vocês para conhecerem esse ano.

MARI: Maravilhoso, Téo!! Muito obrigada pela entrevista e parabéns pelo belíssimo trabalho.

TÉO: Show de bola! Muito, muito, muito obrigado, Mari. Tamo junto.

SOBE SOM LUA DESERTA FILIPE CATTO🎶
Lua deserta
Chuva dourada
Nascimento de Vênus

CAI A BG🎶

CRÉDITOS:
Você ouviu o segundo de sete episódios do Podcast Transformando as Artes. Uma produção da Radioagência Nacional em parceria com a Agência Brasil.

A reportagem, entrevistas e narração foram minhas, Mariana Tokarnia.
Adaptação, edição, roteiro e montagem de Akemi Nitahara
Revisão e coordenação de processos de Beatriz Arcoverde
Gravação de Tony Godoy
Versão em Libras da equipe de tradução da EBC

Utilizamos as músicas Preciso me encontrar, de Candeia, na voz de Liniker acompanhada de Ilú Obá De Min, e Lua Deserta, de Filipe Catto.

A produção também está disponível nas plataformas de áudio e com interpretação de libras no Youtube. No próximo episódio, a conversa é com a atriz Renata Carvalho, que, entre muitas outras coisas, protagonizou a peça Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu.

SOBE SOM FILIPE CATTO

ENCERRAMENTO DA TRILHA DOS CRÉDITOS 🎶

Sobe som 🎶  

 
Reportagem, entrevista e narração Mariana Tokarnia
Adaptação, edição, roteiro e montagem  Akemi Nitahara
Revisão, coordenação de processos e implementação web Beatriz Arcoverde
Gravação  Virgílio dos Santos
Versão em Libras Equipe de tradução da EBC
   

 

Edição: Beatriz Arcoverde - Editora Web

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