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Direitos Humanos

O trabalho voluntário na arrecadação e doação de roupas grandes no RS

Podcast fala ainda do impacto da pausa no recebimento desses itens
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Pollyane Marques - Radioagência Nacional
19/06/2024 - 07:00
Brasília
Grandes Invisíveis
© Arte EBC

Em A Determinação, o segundo episódio de Grandes Invisíveis – Pessoas gordas nas enchentes, você vai conhecer um pouco mais sobre o trabalho voluntário para atender, com roupas plus size, as pessoas gordas que foram afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Nos dias em que as doações não chegam ao QG da Associação de Doação de Roupas Plus Size, um grupo tem ido para os galpões da Defesa Civil triar aquilo que pode atender a esse público. 

Inclusive, vale destacar que no momento em que as instituições entenderam que as roupas doadas eram suficientes, pararam de aceitar doações, sem nem ao menos pensar se algum público específico ficaria desassistido. E essa falta de critério pode ter impactado diretamente o atendimento às pessoas gordas, já que a pausa aconteceu exatamente no momento em que as campanhas pelas roupas plus size estavam bombando nas redes sociais. 

E aí voltamos para um ponto: pessoas gordas é quem têm, em grande maioria, ajudado outras pessoas gordas. E foi graças à dedicação desses gordos, que a Jéssica Silva, a irmã, a mãe e o padrasto tiveram o que vestir logo que perderam tudo e foram para um abrigo. Mas, por que essa atenção tão ninchada? Por que tantas outras pessoas não se envolvem? Isso a gente também discute nesse episódio. 

Grandes Invisíveis é um podcast de três episódios que tenta colocar um holofote sobre o fato de tragédias afetarem de forma diferente, grupos socialmente diferentes. E um desses grupos é o da população gorda, que fica invisível aos olhos da sociedade na maior parte do tempo. Exceto na hora do julgamento.

Serviço:

E caso você queira contribuir com o trabalho da Associação de Doação de Roupas Plus Size, você pode fazer via Pix para o CNPJ – 26423527000112. Ou ainda enviando a sua doação para o seguinte endereço: Shopping João Pessoa - Loja 02 (Ao Lado Da Panvel) - QG Ação Da Feira De Moda Plus Size - Praça Piratini N. 50 Cep 90040-170 - Porto Alegre/RS
 

 

PODCAST GRANDES INVISÍVEIS – PESSOAS GORDAS NAS ENCHENTES 

SOBE SOM DE CHUVA E ROCK 🎶 

EPISÓDIO 2 – A DETERMINAÇÃO 

CAI O BG DE CHUVA E ROCK  🎶 


POLLYANE -Encontrar roupas em tamanhos grandes já é uma dificuldade para qualquer pessoa no dia a dia. E em meio ao caos que o Rio Grande do Sul vive, essa dificuldade é ainda maior. Foi sobre isso o nosso primeiro episódio, que teve relatos comoventes de pessoas que estavam se cobrindo com lençóis nos abrigos porque roupa… roupa mesmo elas não tinham. 

A gente também conheceu o trabalho da Viviane Lemos, uma pequena empreendedora gorda, que desde os primeiros dias das enchentes tem se desdobrado conseguir ajudar essas pessoas. E vimos que a solidariedade tem ultrapassado os estados. A Maqui Nóbrega, que é uma criadora de conteúdos pra internet lá de São Paulo, por exemplo, juntou forças com influenciadoras e aliadas de vários outros lugares e conseguiu mandar pro Rio Grande do Sul um caminhão cheio de roupas grandes. 

Mas a gente sabe que doações grandes assim são bem raras. No dia a dia, a Vivi, que está à frente da Associação de Doação de Roupas Plus Size, e os outros voluntários lidam é com a escassez. E enfrentam a dificuldade de ver os estoques zerados para atender pessoas com alguns tamanhos específicos. 

VIVIANE - Principalmente 54 e 56 feminino; 54 e 56 masculino; e cuecas de todos os tamanhos. E hoje a gente não teria nem onde comprar aqui em Porto Alegre dos lugares que a gente conhece. Só para se ter uma ideia da escassez e das dificuldades que a gente enfrenta por aqui.

SOBE SOM ROCK 🎶 

VINHETA – Grandes invisíveis: pessoas gordas nas enchentes

CAI O SOM DE ROCK 🎶 

POLLYANE - No início das enchentes, algumas instituições se organizaram para mandar doações de todo tipo para o estado. Foram toneladas e mais toneladas de produtos que chegaram por lá, inclusive de roupas. Mas, com uma particularidade: roupas, em sua graaande maioria, pequenas. E aí, diante das montanhas de roupas que se via nos galpões da Defesa Civil, o recebimento por essas instituições foi pausado.

Os Correios mesmo pararam de receber  roupas. E a Associação acredita que isso pode ter impactado diretamente no recebimento das roupas de tamanhos grandes, porque a interrupção foi bem no momento em que a campanha pelo plus size estava bombando nas redes sociais. 

E aí eu fui perguntar para os Correios sobre isso e eles nos responderam com uma nota. Aline, por favor, conta pra gente o que eles escreveram. 

ALINE– Os Correios afirmam que devido ao tamanho da campanha, que já arrecadou cerca de 30 mil toneladas de donativos em todo o Brasil, a triagem de roupas específicas se torna complexa. Mas que cientes da importância do tema, os Correios estão à disposição para realizar ações específicas de coleta e transporte de grandes volumes desse tipo de item.

POLLYANE - Como eles não deram mais detalhes dessa ação, a meta da Viviane e do grupo segue sendo dar visibilidade para o projeto nas mídias tradicionais e nas redes sociais. Porque sempre que o trabalho é divulgado, as doações aumentam. E aí, nos outros dias, a coisa míngua um pouco.

SOBE SOM MENSAGENS CHEGANDO NO CELULAR E DE TECLAS

Mas ninguém fica parado. Os voluntários têm ido até os armazéns da Defesa Civil para fazer a triagem do que foi recebido por lá e pode ser usado no projeto. Em uma das ações desta semana eles conseguiram filtrar 180 peças, que serão redirecionadas para quem precisa exatamente desses tamanhos.

A Manu é uma das voluntárias da associação, e tá lá ajudando desde meados de maio. Já separou roupa, já fez entrega. E em uma conversa pelo whatsapp, ela me contou porque escolheu trabalhar justamente na arrecadação e doação de roupas para pessoas gordas. Ela, ao contrário de todas que ouvimos até agora, é uma pessoa magra. 

MANU - Eu te confesso que, no começo dessa situação, quando ainda estavam acontecendo os resgates, eu não consegui trabalhar como voluntária, não tive saúde mental para isso. Mas eu sabia também que, a partir do momento em que os voluntários da linha de frente cansassem, a gente conseguiria abraçar essas causas daí para diante. Eu acho que se tem uma coisa que essa situação toda ensinou para todos nós é que as coisas não são sobre a gente, né, as coisas são sobre todos nós e sobre os outros. Então quando eu descobri que tinha esse projeto que estava se organizando para doar roupas plus size eu pensei assim: é perfeito! Porque é um público que é muito desassistido por esse sistema de doações. E também me tocou muito porque meu pai é um homem gordo e a vida toda a gente teve muita dificuldade para comprar roupas para ele. Então eu pensei assim, nossa se é difícil comprar roupa plus size, imagina e receber de doação. E uma peça de roupa para vestir, uma muda de roupa para vestir é um mínimo de dignidade que a gente espera ter numa situação tão triste como essa.

POLLYANE - Mas, como a gente já disse, a Manu é uma exceção. E quem tem encabeçado essas campanhas para arrecadação de roupas para pessoas gordas são outras pessoas gordas. Pra Maqui Nóbrega, isso é só um reflexo do comportamento da sociedade em geral. 

MAQUI -  Olha, o fato de as campanhas de arrecadação de roupas para pessoas gordas serem lideradas por outras pessoas gordas, eu acho que é só o reflexo do que já é comportamento da sociedade no geral, assim. É isso, quando as roupas P, M, G, PP, P, M, G foram suficientes… O que, aliás, enfim… foram tantas doadas que é um outro problema, eu acho, ambiental, que vai ser para o Rio Grande do Sul, as montanhas de roupas que ficaram lá… Quando acharam que essas roupas estavam suficientes, suspenderam as campanhas. Os Correios que estavam arrecadando doação para mandar para lá de graça.. Então, é assim que é. Não deveria ser, mas é assim que é. Quem se preocupa com a comunidade de pessoas gorda, são pessoas gordas. Isso não quer dizer que pessoas magras não tenham me ajudado nos processos, não foram lá ser voluntárias, obviamente temos aliados. Mas, não teria partido, eu acho, a iniciativa pra esse fim, de nenhuma pessoa gorda, infelizmente. As pessoas acham que é justificado você não gostar de pessoas gordas e por isso elas não importam. Tipo ‘Ah, elas não têm o que vestir? Ué, emagrece, aí você vai ter o que vestir”. Então, eu acho que vai continuar sendo a gente pela gente. Desculpa ser tão pessimista, mas eu acho que é a realidade. 

POLLYANE - E é esse trabalho, da gente pela gente, com o apoio de alguns aliados, que faz com que continue chegando roupas a pessoas como a Jéssica da Silva. Ela tem 20 anos, ficou desabrigada com a família no comecinho de maio. Hoje eles estão já começando a recomeçar a vida e nem precisam mais de doações. Mas ela me contou como elas foram fundamentais, principalmente nos primeiros dias. 

JÉSSICA – Hoje, no momento, nós não estamos precisando mais de roupas. Fomos… Foram feitas as doações, foram muito válidas e no momento, com a graça de Deus, não precisamos mais de roupa. Em virtude da enchente, saímos somente com a roupa do corpo, fomos para um alojamento e lá fiz o pedido de roupas plus size. Por que? As doações que vêm de roupa, geralmente são de tamanhos pequenos. E tem eu e mais duas pessoas da minha casa que usamos tamanhos plus. Então, me foi oferecido, me foi feita como sugestão de uma colega de trabalho, esse lugar que estavam doando. Eu entrei em contato e, imediatamente, foi doado para mim, e para minha irmã e para a minha mãe. Vieram roupas bem embaladas, bem cuidadas, roupas em bom estado, cheirosas e também com mimo, né, que sempre é bom, principalmente neste momento de tristeza que estamos passando. Depois também passou um tempo entrei em contato novamente e me foi feito também mais uma doação inclusive para o meu padrasto, que também é tamanho plus. Também chegou até ele roupa masculina. E o que eu percebo é, se não tivesse um movimento como este realmente estaríamos passando mais necessidade e tem muita gente ainda que está precisando. Então foi algo muito válido o que foi feito, algo muito gratificante. 

POLLYANE - Com esse relato nós terminamos aqui o segundo episódio de Grandes invisíveis. E eu já quero te convidar pra ouvir o terceiro, porque vamos conversar sobre gordofobia, sobre como esse preconceito tem impedido que cheguem doações e recursos para as pessoas gordas do Rio Grande do Sul, mas que, no dia a dia impede que pessoas tenham acesso à educação, à saúde, ao trabalho formal. Então, eu te espero. 

SOM DE ATENÇÃO 🎶 

E caso você possa e queira contribuir com o trabalho da Associação de Doação de Roupas Plus Size, você pode fazer um Pix para o CNPJ – 26423527000112. E se você quiser fazer uma doação física é só encaminhar para o endereço que está na descrição desse post. 

SOBE SOM ROCK 🎶 

CRÉDITOS 

Eu sou Pollyane Marques, e você acabou de ouvir A determinação, o segundo episódio de Grandes Invisíveis. A produção, redação e narração são minhas. 

As vinhetas e a locução têm a voz de Aline Leal, que também editou este texto junto com a Fran de Paula. 

Jailton Sodré fez a sonoplastia

Beatriz Arcoverde fez o roteiro e a implementação do episódio. 

A Caroline Ramos foi a responsável pela arte. 

SOBE SOM ROCK 🎶 

E enquanto você espera o nosso próximo episódio, você pode ouvir outras produções da Ragioagência Nacional. Tem o Transformando as Artes, o Sala de Vacina, o Imprensa Negra no Brasil, o Perdas e Danos e também o Histórias Raras. 

Até a próxima. 

SOBE SOM ROCK 🎶 

SOBE SOM ROCK 🎶 
 

 

 
Em breve!
 

Concepção, produção, redação, narração e montagem 

Pollyane Marques
Vinhetas e leituras Aline Leal
Edição Fran de Paula e Aline Leal 
Roteiro e implementação na Web

Beatriz Arcoverde

Identidade visual e design:

Caroline Ramos

Interpretação em Libras: Equipe EBC
Identidade sonora e a sonoplastia Jailton Sodré
   
 

 

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