Podcast joga holofote na falta de doação de roupas plus size para o RS

Grandes Invisíveis - Pessoas gordas ainda esperam solidariedade

Publicado em 17/06/2024 - 07:00 Por Pollyane Marques - Repórter da Radioagência Nacional - Brasília

A catástrofe climática do Rio Grande do Sul afetou mais de 2,5 milhões de pessoas. Mas, cada uma foi afetada de uma forma diferente da outra, pois cada uma carrega em si os pesos dos grupos sociais em que estão divididas – real e socialmente. Um desses grupos afetados é o das pessoas gordas, que fica invisível aos olhos da sociedade na maior parte do tempo, exceto pela hora do julgamento. 

Você imagina o que é estar em um abrigo com milhares de outras pessoas e ter que ficar enrolada em um lençol porque você perdeu tudo e as roupas que chegam nas doações não te cabem? É para colocar luz sobre essa realidade, que a Radioagência Nacional apresenta o podcast Grandes invisíveis – Pessoas gordas nas enchentes. Além de discutir a situação das pessoas diretamente impactadas pelas chuvas, também debate a gordofobia entranhada na sociedade ao logo do tempo, mostrando como esse preconceito tem impactado até nas doações para o Sul. 

Neste primeiro episódio, chamado Caos, você vai conhecer o trabalho da Associação de Doação de Roupas Plus Size, criada e liderada pela Viviane Lemos. Ela teve a sorte de não ter sido atingida pessoalmente pelos efeitos das chuvas, então, já nos primeiros dias das enchentes no estado, começou a mobilização para ajudar quem fosse afetado. Vai ouvir um pouco da história da Flávia, uma mãe de gêmeos, de 44 anos, que perdeu até a casa com as enchentes, e que a única alegria que teve no dia de seu aniversário deste ano – 30 de maio – foi receber um kit com camiseta, calça, agasalho, calcinha e sutiã. E isso fazer a diferença porque eram exatamente do tamanho que ela vestia. 

O episódio também traz o relato da criadora de conteúdo Maqui Nóbrega, que junto com outras influencers gordas e algumas pessoas aliadas, conseguiu encher um caminhão só de roupas grandes em São Paulo e mandá-lo para Porto Alegre, depois de uma mega campanha nas redes sociais. E também vai entender o motivo de, no Rio Grande do Sul ou em qualquer outra parte do país, quem está liderando essas arrecadações são mulheres gordas. 

Serviço:

E caso você queira contribuir com o trabalho da Associação de Doação de Roupas Plus Size, você pode fazer via Pix para o CNPJ – 26423527000112. Ou ainda enviando a sua doação para o seguinte endereço: Shopping João Pessoa - Loja 02 (Ao Lado Da Panvel) - QG Ação Da Feira De Moda Plus Size - Praça Piratini N. 50 Cep 90040-170 - Porto Alegre/RS
 

PODCAST GRANDES INVISÍVEIS – PESSOAS GORDAS NAS ENCHENTES 

SOBE SOM DE CHUVA 🎶 

EPISÓDIO 1 – O CAOS 

CAI O BG DE CHUVA 🎶 

POLLYANE - Catástrofes climáticas como a que ocorre no Rio Grande do Sul, costumam trazer à tona temas que não são muito debatidos no dia a dia, um deles é que as tragédias atingem as pessoas de forma muito desigual. 

Por exemplo, você tem o racismo climático, que faz com que faz com que pessoas pretas e periféricas sejam afetadas primeiro e tenham mais dificuldade de se reerguerem depois que tudo vira lama. 

Existem as pessoas em situação de rua, que já não têm nada e têm sua dignidade ainda mais degradada. 

Há ainda as mulheres chefes de família: elas perdem tudo e muitas vezes não conseguem voltar ao trabalho remunerado rapidamente, porque precisam cuidar dos filhos e outros familiares. 

E hoje eu quero te convidar a olhar para um outro grupo vulnerável. O das pessoas gordas. Essas pessoas geralmente já são invisibilizadas na sociedade e sofrem com a falta de acesso à educação, ao trabalho formal. E em uma catástrofe como a do Sul, além de perderem tudo, elas ainda têm dificuldade de encontrar o básico do básico, seja para comprar ou nas doações, que é uma roupa para se vestir e cobrir o corpo no frio que tem feito por lá.

SOBE SOM ROCK 🎶 

VINHETA– Grandes invisíveis: pessoas gordas também são vítimas das enchentes. 

CAI O SOM DE ROCK 🎶 

POLLYANE - Eu sou Pollyane Marques, jornalista da Ragioagência Nacional e também uma mulher gorda. Eu consigo te dizer, por experiência própria, que no dia a dia já é difícil encontrar roupas em tamanhos maiores. São escassas, caras ou precisam vir dos sites estrangeiros. E desde o início das enchentes, pensar nas dificuldades das pessoas gordas por lá, me sensibilizou muito. 

Foi aí que encontrei o trabalho da Viviane Lemos, que também é uma mulher gorda e que virou referência em roupas plus size no Rio Grande do Sul por ter criado a primeira feira voltada para esse público. Ela teve a sorte de não ter sido atingida pessoalmente pelos efeitos das chuvas, então, já nos primeiros dias das enchentes no estado, ela começou a mobilização para ajudar quem fosse afetado, porque ela sabia que as demandas chegariam. E elas chegaram, em forma de pedidos desesperados e relatos de pessoas que estavam usando lençóis para cobrir o corpo, poque já não tinham mais nada. 

VIVIANE - Foram vários os relatos que a gente recebeu de pessoas enroladas em lençol em vários momentos. Mas eu vou contar o de uma gorda maior que foi bem no início, talvez ali, na semana do dia 7, 8 de maio, que ela estava abrigada no ginásio do SESC, aqui em Porto Alegre. Que a voluntária que estava atendendo lá, atuando lá, que é assistente social já me conhecia, sabia do meu trabalho e me mandou uma mensagem no WhatsApp me falando desse caso. E mandou uma foto de visualização única naquele momento. E foi muito impactante…  porque pensa num ginásio com muitas pessoas, uma situação super delicada, todo mundo em uma situação vulnerável, tu estar lá descoberta, desassistida no mínimo que é da roupa. Eram dias de muita chuva e eu me lembro que a gente fez o possível para encontrar as roupas maiores para mandar para aquela moça naquele momento. Depois disso a gente já mandou pelo menos mais duas vezes para aquela moça. Teve um outro relato que eu recebi de uma voluntária em Guaíba e ela falou assim, “ninguém me contou, eu vi”, num hospital, uma moça enrolada no lençol porque ela não tinha o que vestir. Teve um outro rapaz que eu recebi uma mensagem no meu Instagram me contando que ele só tinha uma roupa, não lembro. A roupa que ele saiu da enchente talvez... que quando a roupa é lavada ele tinha que ficar embaixo da coberta, embaixo do lençol porque ele não tinha uma segunda roupa, sabe? Ele ainda estava com a roupa da enchente para a gente entender da escassez e da dificuldade do acesso, né? Então são coisas assim. Tristes que nos deixam desolados, né? A gente fica com o coração bem apertado com esses relatos.

SOBE DO CARRO DA DEFESA CIVIL PEDINDO QUE OS MORADORES SAIAM DAS ÁREAS DE RISCO 

POLLYANE - E a Viviane me contou também que o problema foi escalando de uma forma que ela e nem ninguém esperava

VIVIANE - “Mas nunca pensei que fosse nesse nível, nessa escala que a gente está tendo hoje. E com certeza ser uma mulher gorda me deixou nesse lugar empático, porque pessoas não gordas não conseguem visualizar essa dificuldade e essa crise que a gente está vivendo no sentido de vestir essas pessoas gordas que não conseguem roupas”.

Uma das mulheres que teve seu apelo atendido durante esse caos foi a Flávia. Ela tem 44 anos, é mãos dos gêmeos Liam e Ryan . A Flávia morava em um dos bairros mais afetados da cidade de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. Ao se ver sem nada, recorreu ao apoio da Vivi. 

FLÁVIA - “Além de perder todos os meus bens, tudo, perdi minha casa também. Está sendo bem difícil, mas a alegria do meu dia foi as roupas que chegaram. Justamente no dia do meu aniversário, dia 30 de maio agora. Quando eu vi aquele senhor chegando com a sacola, a sacolinha de roupas, nossa! Foi como um presente”.

POLLYANE - As doações vão sempre organizadas em kits com uma calça, uma camiseta, um agasalho quentinho e sutiã e calcinha ou cueca, conforme a necessidade. E para atender a todos, seriam preciso 95 mil kits assim. A organização liderada pela Viviane já entregou mais de 48 mil peças de vestuário desde o início das enchentes. Mas a demanda… a demanda é muito maior. 

As redes sociais têm sido usadas como aliadas na arrecadação. Foi assim que a criadora de conteúdo Maqui Nóbrega, lá em São Paulo, ficou sabendo da mobilização em Porto Alegre. A Maqui já vinha fazendo doações pontuais para seguidoras que pediam ajuda, mas quando soube da organização da Viviane, logo se prontificou a usar o engajamento de seus canais para contribuir.

MAQUI NÓBREGA - “Se mal tem (roupas plus size) pra comprar, imagina pra doar, né? Então, quando eu percebi que tinha essa dificuldade, eu falei, bom, São Paulo, maior cidade do país, onde tem a maior quantidade de opções de roupas plus size, acho que aqui a gente vai conseguir reunir mais doações.

SOBE SOM MENSAGENS CHEGANDO NO CELULAR E DE TECLAS

POLLYANE - E não que é conseguiram. Maqui junto com outras criadoras de conteúdo voltadas para o público gordo e algumas pessoas aliadas da causa enviaram de São Paulo para o Rio Grande do Sul um caminhão cheio de roupas com tamanhos grandes. 

E com essa boa notícia encerro esse primeiro episódio. Mas já quero te convidar para ouvir o próximo, onde vamos falar um pouco sobre como é preciso ter muita disposição e sensibilidade para atuar no trabalho voluntário. E também muita determinação para cobrar dos entes públicos que eles façam o que é preciso. 

E caso você possa e queira contribuir com o trabalho da Associação de Doação de Roupas Plus Size, encabeçada pela Viviane, você pode fazer um Pix para o CNPJ – 26423527000112. E se você quiser fazer uma doação física é só encaminhar para o endereço que está na descrição desse post. 

SOBE SOM ROCK 🎶 

Eu sou Pollyane Marques, e você acabou de ouvir Caos, o primeiro episódio do podcast Grandes Invisíveis. 

A produção, redação e narração são minhas. 

As vinhetas têm a voz de Aline Leal, que também participou da edição do texto, junto com a Fran de Paula. 

Jailton Sodré fez a sonoplastia

Beatriz Arcoverde fez o roteiro e a implementação do episódio. 

A arte foi feita pela Caroline Ramos

SOBE SOM ROCK 🎶 

E enquanto você espera o nosso próximo episódio, você pode ouvir outras produções da Ragioagência Nacional, tem o Perdas e Danos, o Transformando as Artes e também o Histórias Raras. 

Até a próxima!

CAI O SOM DE ROCK 🎶 

 
Em breve!

Concepção, produção, redação, narração e montagem 

Pollyane Marques
Vinhetas e leituras Aline Leal
Edição Fran de Paula e Aline Leal 
Roteiro e implementação na web

Beatriz Arcoverde

Identidade visual e design

Caroline Ramos

Interpretação em Libras Equipe EBC
Identidade sonora e a sonoplastia Jailton Sodré
   
 

 

Edição: Beatriz Arcoverde

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