Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela. A frase da ativista e filósofa estadunidense Angela Davis ganha mais destaque no Julho das Pretas, iniciativa da sociedade civil, com seu ápice no dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra, Latinoamericana e Caribenha.
Nesta 12ª edição no país, o Julho das Pretas convoca novamente o tema “Reparação e Bem Viver” para refletir sobre os impactos da colonização e a necessidade de mudanças estruturais para enfrentar as desigualdades raciais e de gênero, explica Ana Carolina Querino, representante interina da ONU Mulheres no Brasil.
“Significa um reforço de que a situação das mulheres negras ainda demanda muita atenção e muita ação. Que as mulheres negras, elas sempre estão com piores indicadores. Quando a gente olha para os indicadores socioeconômicos, são as que dão a condição para a gente, para qualquer pessoa, de viver bem. Então o bem viver, ele vem dessa noção da igualdade de direitos, do acesso a bens e serviços, de você poder viver uma vida livre de violência, de você poder ter seus direitos humanos realizados e de você poder ter reconhecido a sua contribuição pro desenvolvimento e pro bem-estar da sociedade como um todo.”
Ana Carolina afirma que muitas das transformações sociais são puxadas pelas mulheres negras organizadas. Como, por exemplo, a valorização estética negra, com a ostentação de cabelos naturais em ambientes de trabalho.
“Antes, a gente tinha toda uma noção de boa aparência, que era o que simbolizava o quê? A boa aparência não pode ser uma pessoa com cabelo crespo, com cabelo trançado, tem que ser cabelo liso, né? Se inspirando no que é o padrão europeu. Então você tem toda essa celebração do que é cultura negra como valor, né? Do que é estética negra como valor. E ter muito essa consciência dessas meninas e dessas jovens mulheres que a gente não precisa ser oprimida ou obedecer a determinado padrão, seja de estético, seja de comportamento, seja de visão de mundo.”
Uma outra mudança substancial é no cenário político, destaca Luca Franca, coordenadora estadual de organização do Movimento Negro Unificado em São Paulo.
“Mesmo que sejamos ainda poucas mulheres negras nos espaços de poder, a gente vê uma construção coletiva sendo organizada para esse tipo de ocupação. Então, se antes a gente tinha só a Marielle na Câmara de Vereadores do Rio, ou só a Áurea na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte, hoje a gente vê isso se ampliar”
O Julho das Pretas deste ano ainda abre caminho para a “Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver”, que acontecerá em novembro de 2025, em Brasília, com a expectativa da presença de um milhão de mulheres negras. No Brasil, há uma década, o 25 de julho também é uma homenagem à Tereza de Benguela, conhecida como Rainha Tereza, líder do quilombo de Quariterê, no Vale do Guaporé, Mato Grosso, durante o século XVIII.